quarta-feira, novembro 13, 2024
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Wikileaks abre uma nova era na informação

Por FC Leite Filho

(Com atualizações)
Atenção para o novo endereço do Wikleaks: wikileaks.ch. (O wikileaks.org deixou de existir)

A internet faz história ao trazer à luz o que, nos bastidores, muita gente sabia: a interferência desabrida dos Estados Unidos nos negócios de todos os países, sejam inimigos ou aliados. O papel da rede mundial de computadores se destaca ainda mais por se transformar num instrumento avassalador para impor a verdade dos fatos, por mais que estes sejam escamoteados ou escondidos pela mídia tradicional. Com os documentos confidenciais ontem publicados pelo wikikleaks.org , e abrangendo o período de 1966 a 2010, ficam provadas as denúncias do presidente da Venezuela. Hugo Chávez, de que os norte-americanos conspiram diuturnamente para isolar e desestabilizar seu governo; do ex-presidente de Honduras, Manuel Zelaya, de que foi deposto pelos militares, em 2009, a mando de Washington; e do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, de que é vítima de um ataque sistemático de Washington e de Israel. O trabalho do Wikileaks, sob a liderança do jovem jornalista e ciberativista australiano Julian Paul Assange, de 39 anos, serve, igualmente, para patentear como são mesquinhas, torpes e altamente perniciosasas as perseguições aos países e instituições, incluindo a ONU, que não seguem a cartilha do Tio Sam. Elas resvalam muitas vezes para o plano pessoal, e sempre no afã de desqualificar, estigmatizar e ameaçar seus governantes. Exemplo ilustrativo é a ordem da secretária de Estado, Hillary Clinton, para investigar a saúde mental da presidente Cristina Kirchner, da Argentina, e a preocupação com os botoxes que teriam sido feitos no rosto pelo líder da Líbia, Muammar Kadafi. Até o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon,um sul-coreano tido como amigos da Casa Branca, teve sua vida pessoal, incluindo seus cartões de créditos, devassada pela voraz espionagem yankee. Ele e outros altos funcionários da ONU.

Sobre o Brasil, a última coleção do Wikileaks é igualmente prodigiosa em fofocas. Nos 1.947 documentos elaborados pela embaixada em Brasília,  o atual ministro da Defesa, Nelson Jobim, é citado como informante do então embaixador americano Clifford Sobel. Num cable, datado de  25/11/2008, Sobel relata  uma conversa de que Jobim teria participado, em La Paz,  com o presidente Lula e o presidente Evo Morales. Jobim, considerado “líder confiável” dos americanos, em contraposição à postura do Itamaraty, tida como “anti-Estados Unidos”,  Evo revelou estar sofrendos de “um grave tumor na cabeça”. ao que Lula teria colocado os hospitais de São Paulo à disposição do líder boliviano.

Na verdade, este jogo sujo já era do conhecimento de estudiosos e pesquisadores, que escarafuncham os papéis desclassificados (liberados) nas várias instituições americanas, como a Biblioteca do Congresso Americano e o seu National Archives, na capital americana, onde estive pesquisando para o meu livro “El Caudillo – Leonel Brizola – Um perfil Biográfico“, no início dos anos 90.
Confesso que me surpreendeu a baixaria geral daqueles documentos, na maioria informes (cables ou cabogramas, como dizíamos aqui) da embaixada ou dos agentes da CIA e outras agências de inteligência, dirigidos às suas centrais na Casa Branca, Pentágono ou Departamento de Estado. Um que dos que me chamaram a atenção foi o de um funcionário da embaixada americana, então no Rio de Janeiro, em 1961, que fazia uma crítica ao então presidente eleito Jânio Quadros. O motivo: Jânio se recusou a fazer a viagem de beija-mão ao presidente dos Estados Unidos, como o fizeram todos os seus antecessores e sucessores e homólogos de todas as Américas. Talvez seja por isso que Dilma Rousseff pareça inclinada a fazer o mesmo que Qaudros, quase 40 anos depois.
Mas os tempos são outros e a tecnologia, mais audaciosa. Naquela época, como até antes da atuação do Weakleaks, esses documentos ficavam embaixo de sete chaves, por dez, 20, 50 anos, ou eram vetados para sempre. Mesmo aqueles desclassificados, como alguns que manuseei, vinham com partes censuradas, sob um risco grosso, que não permitiam qualquer acesso.
Hoje, graças ao acesso dos hackers (na maioria, funcionários das embaixadas ou da própria CIA, além de militares) de Julian Assange, o editor do  Weakleaks, essas informações nos chegam sem censura e quase instantâneas. Pelo Weakleaks, fica-se sabendo que a embaixada em Caracas enviou ao Departamento de Estado cerca de 2.340 informes, dos quais 46 são de caráter secreto, 1950 confidenciais e 344 desclassificados. Eles revelam estratégias americanas contra o governo venezuelano, inclusive o apoio que os Estados Unidos deram ao golpe frustrado de abril 2002, pelo qual o presidente Chávez foi preso e afastado do poder pelo período de 48 horas.

Recentemente, o ministro venezuelano da Defesa,l general Carlos José Mata Figueroa, havia denunciado que os Estados Unidos planejam, junto “com delinquentes e terroristas” latino-americanos, um golpe de Estado contra seu país e as outras nacões que forma a (ALBA) Aliança Bolivariana para os Povos de nossa América (Bolívia, Equador, Nicarágua e quatro outros países menores do Caribe).

Revela, por outro lado, o Wikileaks, que Washington exerce um monitoramento sobre a personalidade de alguns destacados chefes de Estado e “o papel que desempenham as mais íntimas facetas humanas nas relações políticas”. A embaixada de Buenos Aires, por exemplo, afirma o Weakleaks, enviou 2.233 documentos, 1547 desclassificados, 644 de caráter confidencial e 22 secretos.
“A Argetnina,”, comenta a TV multiestatal Telesul, com sede em Caracas, “não é o único país latino-americano a aparecer nos documetnos do Departametno de Estado, uma vez que nas revelações do Weakleaks, aparecem cables relacionados com movimentos feitos pelos Estados Unidos durante a deposição do ex-presidente panamenho, Manuel Noriega, assim como durante o golpe de estado em Honduras, em 2009″.

Veja também:

A opinião dos serviços de inteligências dos principais governantes (em espanhol)
Pronunciamento em vídeo de Hugo Chávez

Como funciona o Wikileaks, pela Folha

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