Entrevista de Javanfekr à Folha de S. Paulo
O presidente da Irna (Agência de Notícias da República Islâmica) e secretário de imprensa do presidente do Irã, Ali Akbar Javanfekr, exortou o governo da presidenta Dilma Rousseff a retomar a política de aproximação com o seu país da época do presidente Lula da Silva, a qual, para ele, exerceu importante protagonismo no cenário mundial. Em viagem ao Brasil para estudar a instalação de uma sucursal da Irna, agência com representação em 30 outros países, Javanfekr sustentou que essa política também trouxe frutos econômicos importantes e que a sua continuidade é crucial para o novo momento determinado pelas mudanças no Oriente Médio.
Muito ligado ao presidente Mahmoud Almadinejad, de quem é assessor desde a primeira campanha presidencial, o presidente da Irna, que falava durante uma entrevista, ontem à noite, a um grupo de blogueiros progressistas de Brasília, na embaixada do Irã, queixou-se que a indefinição do novo governo brasileiro diante de seu país já propicia que “os inimigos de ambos as nações produzam situações embaraçosas para nos separar”. Citou como exemplo a notícia infundada de que o escritor brasileiro Paulo Coelho teria tido seus livros proibidos no Irã: “Provamos que isso era uma mentira”, sentenciou, depois de observar que o fato tinha prejudicado o esforço diplomático, por causa de sua ampla repercussão nos meios de comunicação.
Ali Akbar Javanfekr pediu atenção para a importância do Irã no mundo, pois já se considera um país atômico, graças à sua própria tecnologia, que ainda inclui conquistas consideráveis na nanotecnologia, medicina e no campo aeroespacial, a ponto de já estar se preparando para o lançamento de uma nave tripulada, em futuro próximo. Quanto à questão nuclear, que levou os receios dos Estados Unidos a impor sanções econômicas devido ao receio de o país estar tentando fabricar a bomba, o presidente da Irna disse tratar-se de uma questão superada: “Nossos objetivos são pacífico. Somos um país atômico e pronto”, disse ele.
Sobre as sanções, que foram respaldadas pela ONU, Javanfekr sustentou que seu país sempre enfrentou este tipo de punição, que ele considera resultado não de uma preocupação com a paz, mas para manter a dominação sobre a tecnologia e a ciência: “Ora, o desenvolvimento pertence à humanidade e o Irã provou que um país emergente pode furar o bloqueio desse monopólio. Por isso, é importante que nossa amizade com o Brasil, outro país pujante e dinâmico, porque dará mais força à luta pela nossa libertação econômica”.
O presidente da Irna ainda falou sobre a situação na Líbia, ao ponderar que os Estados Unidos e a Comunidade Européia manobram para fazer uma intervenção, nos moldes das ocorridas no Iraque e no Afeganistão: “Nosso dever” – disse – “é de resistir, porque eles sempre recuam. Daí a importância de nós emergentes estarmos sempre unidos e trabalhando juntos”.
Por fim, lembrou que o Irã sofre há seis anos com a ameaça de intervenção, “inclusive atômica”. Como nunca deixou se dobrar, é hoje um país que apresenta grandes conquistas, o que lhe deu condição inclusive para desmoralizar tais ameaças. Estas se intensificaram depois da primeira eleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad: “Ele também lutou com forças poderosas dentro meu país e as venceu. E venceu porque estava com o povo. Nosso presidente vive viajando pelo interior, acompanhado de membros do governo, para encaminhar soluções adequadas aos problemas de cada região, de cada município, de cada comunidade”.