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O Imutável conservadorismo brasileiro: ideologia e prática política

Por Geniberto Paiva Campos (*) – Brasília, 02 de junho, 2017

“A Mídia não perde quando aposta na ingenuidade política dos seus leitores”.“Com o tempo uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil quanto ela mesma”. (J. Pulitzer)

Nada mais previsível do que o comportamento político das forças conservadoras brasileiras.

Quase um século de História e tudo continua igual ao que era antes.

São os mesmos personagens. A Mídia no papel principal. Mudam apenas os nomes e o contexto sócio cultural e econômico do Brasil. E, claro, o cenário internacional.

Mas a base ideológica que orienta a prática política conservadora é sempre igual, desde as primeiras décadas do século XX.

Trata-se de um grupo político que não aceita e não permite mudanças.

Entranhada nas camadas mais profundas da mente dos brasileiros de todos os segmentos sociais, o apoio ao Conservadorismo é automático.

Algo que está explícito no lema positivista da nossa bandeira: ORDEM E PROGRESSO.

Admite-se o Progresso, vá lá, mas sempre dentro da Ordem. Um valor imutável. A ser definido, sempre, pela Elite dominante.

Quando faltam argumentos contrários às mudanças, invoca-se a Ordem.

E vale qualquer coisa para a manutenção dessa Ordem.

À época do Tenentismo (movimento da década de 1920 que merece estudos acadêmicos ainda mais intensos), lutava-se para a derrubada dos “carcomidos”. Representados pelo que era então avaliado como o que havia de mais incompetente e desonesto na vida pública brasileira.

O 2º governo Getúlio Vargas (1951/54), eleito democraticamente pelos brasileiros, foi caracterizado por profundas mudanças estruturais. As quais, como esperado, provocaram intensas e disfarçadas reações de intolerância da Elite conservadora.

Mas poucos se colocavam abertamente contra a Petrobrás, a Eletrobrás, a Companhia Siderúrgica Nacional, ao processo de industrialização, ou contra as políticas salariais e direitos trabalhistas. Agenda desenvolvida pelo governo Vargas.

A imprensa da época insistia na divulgação da existência de um suposto “Mar de Lama do Catete”. Onde a “corrupção” corria solta.

Estava descoberta a fórmula, pretexto infalível, para se afastar presidentes da sofrida e instável República brasileira: a luta contra a corrupção. Flagelo que, segundo a crença, estaria corroendo as entranhas do país.  

Getúlio Vargas preferiu o suicídio à renúncia humilhante que lhe foi imposta.

Não se cogitava do desgaste intenso provocado pela instabilidade política e institucional, consequência da derrubada de presidentes em exercício. Com pretextos e inverdades. O importante seria impedir a continuidade das mudanças em curso.

E este seria o padrão imutável dos Golpes de Estado na política brasileira. Ponto final.

Mas os terríveis efeitos colaterais da “luta contra a corrupção” cobram o seu preço ao país.

Retirar a abominável corrupção do seu locus natural: as delegacias de polícia e os tribunais de justiça, e entronizá-la na Política, resulta em efeitos deletérios que repercutem no dia-a-dia dos brasileiros. Os quais passam a acreditar que vivem num país sem jeito, sem solução. Onde os políticos são todos desonestos. Movidos apenas por interesses pessoais escusos.

Se a tudo isso, for acrescentada a “partidarização” dos corruptos, completa-se a divisão maniqueísta da política entre os “nossos corruptos” e os do outro lado.

Mais de 60 anos após o nunca provado “mar de lama do Catete”, em função do uso abusivo e politicamente ingênuo desse método, todo o país vai se transformando num imenso, inexorável, “mar de lama”. Sem rumo. E sem futuro.

E nada pior do que essa perda de confiança nos destinos do seu país, por parte de uma sociedade manipulada politicamente. Onde falsos valores morais são insidiosamente introduzidos. E passam a ter vigência como valores absolutos.

A sociedade, como um todo, deixa de lado o debate sobre projetos e valores essenciais. E discute e valoriza temas retrógrados e ultrapassados, que somente interessam ao jogo de dominação da Elite.

Nos quatro períodos de governo do Partido dos Trabalhadores (2003/2015) foi aplicado o mesmo remédio utilizado anteriormente para afastar governos progressistas.

Novamente, poucos se colocaram, de forma explícita, contra os projetos modernizantes em desenvolvimento: inclusão social; salários dignos; juros baixos; política externa altiva e ativa; acesso ao ensino técnico e superior; políticas de distribuição de renda; protagonismo do Brasil no cenário mundial.

Falava-se, e repercutia na Mídia, em “mensalão”; “domínio do fato”; condenava-se crimes sem vestígios de provas, “porque a literatura permite”; foi reinventada a “delação premiada”, originária da Rússia stalinista.

O impeachment da presidente Dilma teve como causa declarada as “pedaladas fiscais”. Mero pretexto.

O motivo real: como sempre, as políticas desenvolvimentistas em curso, inaceitáveis para a Elite.

E causou espanto a pauta de retrocesso, imposta aos brasileiros, por um governo ilegítimo, após o afastamento da presidente Dilma. A prova dos nove do Golpe.

Aceita e aprovada por tranquila margem de votos no Congresso Nacional. A qual leva o Brasil de volta ao século XIX.

Tudo isso, fruto de uma manipulação política grosseira, primária.

E pior: que joga o Brasil do século XXI nas trevas do mais abjeto e indisfarçado Totalitarismo, vigente no século passado na Europa. Passivamente aceito por parte da sociedade brasileira como algo natural e inevitável. Por fazer parte da “luta contra a corrupção”.

É preciso dar um basta urgente nessa perigosa e fraudulenta tolice.

E convocar o Povo para decidir, pelo voto, o seu futuro. Voltar aos tempos da DEMNOCRACIA.

E recuperar a   serena confiança no merecido destino do Brasil, GRANDE POTÊNCIA.

(*) – Do Coletivo Lampião

 

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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