(Acima, filme em espanhol e inglês, de Mockus e sua equipe, sobre a transformação de Bogotá)
Com 58 anos, Antanas Mockus, branco e loiro, bem diferente do tipo médio colombiano, mais moreno, passou, do quase nada (6%), para ser o candidato líder das intenções de votos, na eleição presidencial de 30 de maio. Segundo as últimas pesquisas, ele se distancia quase 10% do candidato oficial uribista e até aí tido como imbatível, Juan Manuel Santos, 58. Santos, ex-ministro do atual presidente Álvaro Uribe, é o todo-poderoso diretor do monopólio midiático El Tiempo e homem da alta confiança dos norte-americanos. Antes de examinarmos o complexo e explosivo quadro colombiano, detenhamo-nos um pouco na figura deste filósofo e matemático, filho de descendentes lituanos, que fez uma pequena revolução social e de costumes, quando passou pela reitoria da Universidade Nacional(1990) e a prefeitura de Bogotá, entre (2001).
Lá, nosso homem encanta o país e o mundo com as reformas que empreende. Primeiramente, organizou um serviço de segurança da comunidade, de sete mil homens, que diminuiu em 70% o número de homicídios, em 50% as mortes no trânsito; e estendeu a água potável a toda a população. Ele ainda contratou palhaços para policiar o trânsito, alegando que os colombianos temiam mais serem ridicularizados do que multados.
Antanas se empolgou com o sucesso que fazia na prefeitura, sobretudo na classe média e rica, e deixou a prefeitura para tentar a eleição presidencial, em 2006, mas só amealhou 200 mil votos, ou um por cento. Tirou um ano para pensar e visitou universidades americanas e européias, onde deu aulas e palestras, fazendo o marketing de seus métodos de administração em Bogotá. Depois fundou o Partido Verde Colombiano, pelo qual se candidatou a presidente na eleição do próximo dia 30 de maio.
Em termos ideológicos, Antanas empunha a bandeira da “cultura cidadã”, que se resumiria na melhoria da educação e da saúde contra a política belicista da atual administração, responsável pela matança indiscriminada de inimigos do regime, guerrilheiros ou não. As denúncias falam de 503 sindicalizados mortos, além de uma massa de 3,3 milhões de pessoas obrigadas a deixar o país, sob pena de serem assassinadas por bandos de paramilitares, vinculados ao uribismo.
Enquanto Antanas aposta na civilidade dos compatriotas, Juan Manuel dos Santos, um membro da oligarquia com várias títulos em universidades americanas, prega o aprofundamento da política de repressão, sustentada no Plano Colômbia, destinado ao combate ao narcotráfico e as guerrilhas (FARCs). Este plano, que é solidamente apoiado pelos Estados Unidos, tendo sido, inclusive, reavalizado pelo presidente Barak Obama, tem dado margem a abusos e desvios, como ocorreu no caso dos chamados “falsos positivos”. Foi quando o Exército, para prestar contas a Washignton e receber mais financiamento para o tal Plano, matou e enterrou cerca de dois mil jovens do campo, e os colocou na rubrica dos “eliminados em combate”.
Santos, primo do atual vice-presidente Francisco Santos e sobrinnho do ex-presidente e diretor de El Tiempo, Eduardo Santos, prima pela sua imagem de falcon e já admitiu publicamente que mandou invadir o Equador, em fevereiro de 2009, quando 26 guerrilheiros das FARCs foram mortos,inclusive o segundo homem em comando, Raul Reyes. Por causa disso, recebeu uma ordem de prisão internacional, despachada pela justiça equatoriana. Alega, igualmente, que foi ele quem esquematizou a implantação de sete bases militares dos Estados Unidos em seu país.
O problema é que Juan Manuel Santos confiou cegamente no poder da mídia, de que é senhor absoluto na Colômbia, e na retaguarda dos Estados Unidos, para suceder Álvaro Uribe, naquilo que lhe parecia um passeio eleitoral. De fato, o falso ambiente de tranquilidade e de ovação midiática à política troglodita de Uribe (alguns dirigentes da oposição brasileira, inclusive o ex-governador José Serra, foram a Bogotá beijar-lhe a mão e enaltecer sua política de segurança) fazia crer que o uribismo era uma fortaleza inexpugnável.
Como sempre, os fatos costumam se pronunciar, qualquer que seja o aparato que pretenda escondê-los, e revelam hoje uma situação mais aproximada da realidade. É que, com efeito, Antanas Mockus virou hoje uma onda nacional contra não apenas a cultura de violência do atual governo, mas principalmente a apatia e o conformismo por ela engendrados, ao longo dos últimos oito anos. Se isto vai se traduzir em sucesso eleitoral, é uma indagação que me faço.
É que os norte-americanos, e nem falo de suas bases ou da tal da IV Frota, que vivem ameaçando os regimes rebeldes da América Latina, são especialistas em reverter tendências, pela fraude, pura e simples, como ocorreu nas cinco últimas eleições presidenciais do México, pela subversão das instituições, como fizeram com Allende, no Chile, em 1973, ou pelo uso puro e simples da força, como sucedeu na República Dominicana, em 1965, e,ultimamente em Honduras, com a deposição do presidente Manuel Zelaya.
O que ocorre, no entanto, é que a situação revela-sebem menos suave para os pitbulls do norte. Vários governos progressistas, eleitos nos últimos dez anos, como os da Argentina, a Venezuela, e mesmo do Brasil, não se inclinam a avalizar um novo golpe nas instituições. Isto, aliás ficou provado no caso hondurenho, quando todos os 12 governos da América do Sul, resolveram criar a Unasul, União das Nações Sulamericanas, para resolver eles mesmos, seus problemas, e não mais através da OEA – Organização dos Estados Americanas, instalada e comandada em Washington.
Foi a Unasul, diga-se de passagem, quem sufocou o golpe urdido, em 2008, contra o presidente índio da Bolívia, Evo Morales. Com uma tacada, os presidentes sulamericanos sustentaram Morales e lhe deram total apoio nas providências que adotou, como a expulsão do embaixador norte-americano, acusado de financiar e apoiar logisticammente os rebeldes situados nas províncias mais ricas do país, e a prisão e destituição do governador de Pando, tido como responsável por um massacre de partidários do presidente.
Finalmente, a Colômbia tem uma história de mártires e rebeldia, revelados na maioria das vezes no processo de sucessão presidencial. O mais emblemático deles é Jorge Gaitán, um candidato progressista e autor do principal programa de alfabetização do país. Pois é, Gaitán foi assassinado no distante ano de 1948, porque já era considerado imbatível na eleiçaõ que se realizaria em 1950. Sua morte redundou no bogotazo, o estallido social, que resultou no massacre de 3 mil a 5 mil pessoas, a destruição do centro de Bogotá e a disseminação da violência nas cidades e nos campos, até 10 anos depois. O bogotazo é também tido como a principal fonte para a violência que marcou o país desde aquela época, na qual se inclui a atuação das FARCs – Forças Revolucionárias Colombianas -, acusadas de muitos assassinatos e vínculos com o narcotráfico.
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