quinta-feira, novembro 14, 2024
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Crítica do filme Robin Hood

Por Reynaldo Domingos Ferreira

Em Robin Hood, o cineasta britânico Ridley Scott abandona a figura folclórica do protagonista, que roubava dos ricos para dar aos pobres, a fim de fazer parciais e pouco convincentes incursões sobre o momento histórico, em que ele teria surgido, na Inglaterra medieval (século XII), dominada pelo tirano João Sem Terra, e assoberbada pela fome.

O objetivo dos roteiristas – Brian Helgeland (Zona Verde), Ethan Reiff e Cyrus Voris – de assim, segundo eles, revitalizar a lenda, a que mais resiste ao tempo da língua inglesa, resulta numa abordagem fastidiosa em que Robin Hood (Russel Crowe) aparece não como o vulgar fora da lei e assaltante de estrada na floresta de Sherwood, mas um nobre, credenciado arqueiro do exército da coroa, renhido lutador ao lado das forças do Rei Ricardo I, Coração de Leão (Danny Huston).

E, como tal, não lhe falta fleuma para encomendar a alma de soldados mortos em campanha, persignando-se e orando diante de seus cadáveres. Ao ouvir as últimas palavras de um deles, atingido por uma lança, durante as sangrentas batalhas que também vitimaram o Rei Ricardo – que lamentavelmente desaparece ao início da ação, assassinado por um aparvalhado cozinheiro francês -, Robin se compromete em levar de volta a espada que o moribundo tirara, sem consentimento, do austero pai, Sir Walter Loxley (Max Von Sydow).

Este era morador de Nottingham, uma vila de agricultores e apicultores, que padecia sob as ordens de um corrupto Xerife (Matthew Macfadyen) sempre disposto, de acordo com suas conveniências pessoais – como também se identificam hoje muitos por aqui – a mudar de lado. Dessa forma, ele, ora estava com os ingleses, ora com os franceses, cujo soberano, Rei Felipe (Jonathan Zaccai), no intuito de retomar suas terras, contava com os favores do dúbio Sir Godfrey (Mark Strong), prestigiado na nova corte do dissoluto Rei João Sem Terra (Oscar Isaac).

Ao cumprir sua missão, Robin conhece Lady Marion (Cate Blanchett), viúva do soldado morto por quem logo se interessa, mas, cavalheiro, de estatura moral elevada, se mostra incapaz de lhe tocar um fio do cabelo. Mesmo que, malcheiroso, seja despido por ela para tomar banho na gamela de água fervente. E, pior, dormindo em seu quarto por determinação de Sir Loxley para que aparente ser, aos olhos dos outros, seu marido a fim de evitar o saqueio dos bens da propriedade pelas desordeiras hordas comandadas por Sir Godfrey, traidor dos ingleses, e grande vilão da história.

Descaracterizada assim a personagem, a direção de Ridley Scott – um dos mais brilhantes cineastas da atualidade – naufraga de forma irremediável em dispendiosas e inúteis batalhas travadas em terra e no mar. Pensava-se que, pelo tema, Scott teria retomado a linha estética de seu primeiro filme, o clássico Os Duelistas (1977), de visual incomparavelmente belo. Mas, não. Ele preferiu, equivocadamente, calcar seu novo trabalho no formidável épico Gladiador (2000), vencedor de cinco Oscars, dando-se por isso muito mal. Sua linguagem é, além de inadequada, pesadona e arrastada sem apresentar nenhum momento de vibração.

O intérprete Crowe, que renegou as anteriores personificações cinematográficas de Robin Hood – desde Douglas Fairbanks até Kevin Kostner -, em nada contribui, com sua apática atuação, para dar expressividade à direção de Scott. Essa é a quinta película que os dois rodam juntos e, seguramente, é nela que o ator neozelandês tem a mais fraca participação. O incrível é que Crowe, repetitivo em demasia, não se mostra inspirado nem nos instantes em que contracena com a bela e talentosa Cate Blanchett, que compõe Lady Marion – ou o que sobrou dela na nova versão -, trabalhando com o olhar. Como Blanchett, os atores Mark Strong, Max Von Sydow e Eileen Atkins, que interpreta o papel de Eleanor de Aquitânia, viúva de Henrique II, mãe de Ricardo e de João, são os únicos que não soçobram com o filme.

REYNALDO DOMINGOS FERREIRA

ROTEIRO, Brasília, Revista

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FICHA TÉCNICA

ROBIN HOOD

EUA/2010

Duração – 140 minutos

Direção – Ridley Scott

Roteiro – Brian Helgeland, Ethan Reiff e Cyrus Voris

Produção – Ridley Scott, Russell Crowe e Brian Grazer

Fotografia – John Mathieson

Música – Marc Streitenfeld

Edição – Pietro Scalia

Elenco – Russell Crowe (Robin Hood), Cate Blanchett (Lady Marion), Max Von Sydow (Sir Walter Loxley), William Hurt (Sir William Marshal), Danny Huston (Rei Ricardo), Oscar Isaac (Príncipe João), Eileen Atkins (Eleanor de Aquitânia), Mark Strong (Sir Godfrey), Jonathan Zaccai (Rei Felipe), Matthew Macfadyen (Xerife).

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Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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