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Crítica do filme Comer, Rezar Amar

Entediada, já aos trinta e dois anos, com a vida conjugal, uma bem sucedida jornalista de Nova York decide se divorciar e partir em busca dos prazeres da culinária italiana e da assistência espiritual de gurus da India e da Indonésia no novelesco Comer, Rezar, Amar, de Ryan Murphy, especialista, até agora, em séries de tv.
O roteiro, de Murphy e Jennifer Salt, baseado no descartável best seller autobiográfico de Elizabeth Gelter, foi elaborado de forma a dar destaque aos trechos que seriam – ao conceito dos produtores, entre os quais se inclui Brad Pitt – os de maior aceitação junto ao público feminino do livro. Assim, o que se tem é uma longa e fastidiosa narrativa da viagem turística de Liz Gelter (Julia Roberts) insatisfeita consigo mesma, pois resistente às regulares práticas sexuais, o que ela procura compensar, exorbitando no consumo de massas, sem receio de se tornar obesa, como muitas de suas compatriotas.
Quando o filme se inicia, Liz Gelter e o marido (Billy Crudup) acabaram de adquirir uma confortável casa, e planejam passar alguns dias em Cancun. Na cama, porém, ele diz: Eu não quero viajar!… Ao que ela, no mesmo tom, lhe afirma: – Eu quero a separação. Ele pensa que ela não está falando sério. Mas, em seguida, Liz Gelter se muda para a casa de uma amiga (Viola Davis), com quem se aconselha, dando inicio, ao mesmo tempo, ao processo litigioso de divórcio.
Certa noite, porém, Liz Gelter vai ao teatro, em companhia da amiga. Entusiasma- se então com o ator (James Franco), que vê em cena. Após o espetáculo, encontra-se com ele num bar, dando inicio a um relacionamento, que, contudo, não vai avante. Como o ex-marido, também o amante fica choroso e magoado com a separação, mas ela, motivada pelo exotismo da crença de um guru de Bali, de quem o ator se diz adepto, vai à procura de sua orientação espiritual.
Do guru Liz Gelter ouve vaticínios óbvios sobre o seu futuro. Então, ela parte para a Itália para “descobrir” trivialidades da cultura italiana, algumas verdadeiros clichés absorvidos de equivocadas películas americanas da década de cinquenta do século passado, o que provocou, com razão, a ira da imprensa italiana. Mas não fica só nisso, pois, ao encontrar, na Indonésia, o homem que diz ser o de seus sonhos (Javier Bardem), um brasileiro ricaço que, de lá, comanda seus negócios de importação e exportação, dono de um barco e de uma ilha, Liz Gelter também fornece informações que não procedem sobre costumes familiares deste nosso país.
Enfim, com um argumento pífio desse nível, praticamente sem ação, Murphy não teve muita opção para realizar o seu trabalho de diretor, pautando-se apenas em criar situações para que os atores não mergulhassem na mediocridade total. De Julia Roberts ele não conseguiu grande coisa. Apática – ao que consta, a atriz, a um primeiro convite, teria recusado o papel -, não deixa de ser ela própria, estando sempre em cena, ornada por um sorriso amarelo, que não muda durante os cansativos 133 minutos de duração da película. Em suma, essa interpretação não acrescenta nada ao currículo da bela Julia.
Billy Crudup tem atuação mais convincente como o marido resistente à separação, especialmente na cena em que discute, já no meio jurídico, com a ex-mulher, a dissolução
do vínculo matrimonial. James Franco não se compromete como o ator que luta para se projetar em pequenos papeis nos teatros off-Broadway. Viola Davis se impõe como amiga de Liz Gelter e Richard Jenkins exagera no tom dado ao texano que a jornalista conhece, em Bali, atormentado com um drama familiar. Por fim, Javier Bardem, personificando o magnata que consegue “apaziguar” a frustrada Liz Gelter, realiza sua menos satisfatória interpretação no cinema internacional. Ele disse que se soltou bastante para recriar o ar relaxado do brasileiro, mas mesmo assim não parece muito autêntico… Não parece.

FICHA TÉCNICA COMER, REZAR, AMAR EAT, PRAY, LOVE
EUA\ 2010 Duração – 133 minutos Direção – Ryan Murphy Roteiro – Ryan Murphy e Jennifer Salt com base no livro Eat, Pray, Love de Elizabeth Gelter Produção – Dede Gardner, Brad Pitt, Ryan Murphy Fotografia – Robert Richardson Trilha Sonora – Dario Marianelli Edição – Bradley Buecker Elenco – Julia Roberts (Elizabeth Gelter), Billy Crudup (Marido), James Franco (Ator), Viola Davis (Amiga), Richard Jenkins (Texano), Javier Bardem (Amante brasileiro)

leitefo
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Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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1 COMENTÁRIO

  1. O nome correto da Liz é Elizabeth GILBERT, e não GELTER. no início do filme, quando ela ainda está casada, ela tem 31 anos.
    Na noite em que Liz conhece David, ela não foi somente ao teatro: ela foi ao teatro assistir uma peça de sua autoria, e se
    encanta pelo ator que interpreta o personagem principal e faz alterações no texto que ela escreveu. A Guru não é de Bali –
    é da India, e é para lá que ela vai se entregar à experimentação espiritual. Liz ouve sobre seu futuro de um velho xamã de
    Bali – A guru e o xamã são pessoas diferentes.
    Felipe não é dono de nenhuma ilha. Liz conhece Richard do Texas no Ashram na India, e não e Bali.
    Por fim, Júlia Roberts deu algumas entrevistas afirmando que se identificou muito com a jornada de Liz Gilbert, que essa
    história mudou algumas coisas em sua vida e que presenteou todas as suas amigas com o livro Eat, pray, love.

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