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Crítica do filme Minhas Maes e Meu Pai

De baixo orçamento e realizada na linha do cinema independente, Minhas Mães e Meu Pai, de Lisa Cholodenko, é uma instigante comédia, estreada no Festival Sundance, que transcende a rotulagem de filme gay, para, mais que isso, ressaltar, pelo argumento, a importância da instituição familiar, seja qual for a configuração que possa assumir nos tempos atuais.

O roteiro, escrito por Cholodenko e Stuart Blumberg, tem o título, em inglês, tomado da canção The Kids Are All Right, de Pete Townshend, do The Who, faixa do álbum My Generation, da década de 60, que compõe a trilha sonora. No caso, a configuração é a de uma família constituída – não se sabe se legalmente – por duas lésbicas, Jules (Julianne Moore) e Nic (Annette Benning), que vivem em Los Angeles, na Califórnia. Elas tiveram filhos – Laser (Josh Hutcherson) e Joni (Mia Wasikowska) – por inseminação artificial, usando o esperma de um doador desconhecido.

Já na adolescência, Laser e Joni tomam a iniciativa de descobrir a identidade de seu pai biológico, fazendo contato com o banco de esperma, que mantém, contudo, sigilo sobre o doador. Consultado, porém, ele não se opõe a ser identificado. É Paul (Mark Ruffalo), um solteirão, boa pinta (de amantes eventuais), bem sucedido, que deixou os estudos universitários para se dedicar ao plantio de produtos orgânicos e para comandar também um restaurante de comida natural.

No primeiro encontro, Paul impressiona os filhos ao chegar, pilotando a sua moto. Em seguida, ele os deixa à vontade para que a conversa flua o mais solto e cordial possível. É, de fato, o que acontece. Os jovens falam de suas mães e da maneira pela qual elas os educaram ao estilo tradicional. Nic é médica, muito certinha e disciplinada, que arca com as despesas familiares e, por isso, impõe o seu autoritarismo, aceito por Jules, paisagista, que não exerce a profissão para ficar em casa, cuidando dos filhos. Antes de eles tomarem a iniciativa, em sigilo, de encontrar Paul, entretanto, Jules está tentando quebrar a resistência de Nic para executar projetos no seu campo de trabalho.

Ao saber disso, Paul, na primeira oportunidade que tem de conhecer as mães de seus filhos, propõe a Jules, por quem se sente atraído física e sentimentalmente, a execução do ajardinamento do terreno contíguo a sua residência. Então, as coisas começam a se complicar porque, a uma investida dele, Jules lhe afirma: – Mas eu sou uma mulher casada!… Com poucos e, no mais das vezes, irônicos diálogos, Cholodenko sabe criar situações hilariantes sobre comportamento na sociedade moderna, embora sua dramaturgia seja do tipo convencional. Ela faz também menção à morte numa das prosas de Paul com os filhos. E, mais que tudo, explora, num tom de realismo crítico, a interpretação dos atores sob sua direção.

De Annette Bening tem-se uma composição exemplar, nesse sentido, pois as palavras de Nic parecem encontrar eco muito forte no interior da atriz, que, apesar disso, não despreza certo ar de sarcasmo, quando as pronuncia. Machista, Nic às vezes se excede na bebida, mas é conservadora e extremamente orgulhosa da família que organizou. O seu lar é o seu amparo. Por isso, ao vê-lo ameaçado pela intromissão de um estranho, ela o escorraça, dizendo-lhe: – Se você quer ter uma família, vá criar a sua!… Julianne Moore também está esplêndida, incorporando a passividade de Jules, que se sente vulnerável, ao perceber em Paul, que a seduz, traços fisionômicos, gestos e atitudes característicos do seu filho Laser. Paul é um indivíduo rude, que lida com a terra. Mas, ao conhecer os filhos, ele se sensibiliza e encontra novo sentido para a sua vida. Mark Ruffalo destaca isso muito bem, numa atuação perfeita, uma das melhores de sua carreira. E Josh Hutcherson, como Laser, e Mia Wasikowska, como Joni, dão bem o tom dos jovens superprotegidos e mimados e, por isso, chatos, aborrecidos e intolerantes.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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www.arteculturanews.com
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FICHA TÉCNICA
MINHAS MÃES E MEU PAI
THE KIDS ARE ALL RIGHT
EUA /2010
Duração – 101 minutos
Direção – Lisa Cholodenko
Roteiro – Lisa Cholodenko e Stuart Blumberg
Produção – Gary Gilbert, Philippe Hellmann e Jordan Horowitz
Fotografia – Igor Jadue-Lillo
Trilha Sonora – Carter Burwell, Nathan Larson e Craig Wedren
Edição – Jeffrey Werner
Elenco – Annette Bening (Nic), Julianne Moore (Jules), Mark Ruffalo (Paul), Josh Hutcherson (Laser), Mia Wasikowska (Joni), Yaya DaCosta (Tanya), Joaquin Garrido (Luís), Lisa Eisner (Stella), Eddie Hassell (Clay), Zozia Mamet (Sasha).

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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