(Publicado originalmenteSeg, 15 de Dezembro de 2008 16:02)
Por Beto Almeida (*)
O nacionalismo vem sendo demonizado no Brasil desde muito tempo. Vargas foi retirado duas vezes do governo, na segunda, sem vida. Contra Vargas, Lacerda lançou aquele sombrio vaticínio: “Vargas não pode ser candidato. Se for, não pode vencer as eleições. Se vitorioso, não pode tomar posse. Se empossado não pode governar, teremos que derrubá-lo”. Durante o governo Vargas, empresas norte-americanas publicavam anúncios no jornal afirmando que não aceitariam a nacionalização do petróleo. O nacionalista Vargas, com um tiro no coração, não sairá mais da história do Brasil, muito embora ainda se lute para destruir a Era Vargas.
Jango, nacionalista, mal pode exercer a presidência. Quase não toma posse. E foi derrubado, por ser nacionalista, por criar a Eletrobrás, nacionalizar refinarias de petróleo, por limitar as remessas de lucro ao exterior. As razões de sua morte, ocorrida durante a lúgubre era da Operação Condor, com ramificações nos serviços de informação no Brasil, ainda estão por ser mais bem explicadas.
O nacionalismo passou a ser quase proibido no Brasil. Queriam mudar o nome da estatal para Petrobrax. Os defensores dos interesses externos dentro do Brasil, controlando a mídia, também desnacionalizada, passaram a impor a identificação de nacionalismo com atraso, com incompetência, com ineficiência.
Mas o nacionalismo sempre volta. Recentemente o lúcido professor Márcio Pochmann, presidente do IPEA, revelou estudos que lhe permitiram afirmar que “se o Brasil tivesse mantido a política econômica da era Vargas, hoje seríamos a terceira maior economia do mundo”. Fácil entender as maquinações externas para derrubar Vargas e Jango.
O nacionalismo continua voltando, teima em não morrer. Como agora, em pesquisa nacional realizada pelo Instituto Vox Populi, que apontou o governador do Paraná, o nacionalista Roberto Requião, como o segundo melhor governador do Brasil. O curioso de tudo isto é que Requião é exatamente o “patinho feio” para a grande mídia comercial, que lhe nega espaço nacional para a divulgação de qualquer um de suas medidas de governo.
O resultado da pesquisa Vox Populi veio acompanhado da divulgação do IDEB, índice de desenvolvimento da educação, que apontou o Paraná como o estado com a melhor educação do Brasil. O curioso é que a política educacional do Paraná é alvo constante de críticas sistemáticas, subjetivas e distorcidas por parte da grande mídia comercial. Alvo mais recente, um programa que instalou em cada escola de Paraná um televisor que permite aos alunos e professores aulas modernas, com recursos audiovisuais atrativos e pedagogicamente avançados, oferecendo a ambos, alunos e professores, condições mais elevadas para a prática de uma verdadeira relação educar/educando. Uma pauta esquecida por um repórter de TV privada, sobre uma mesa de comitê de imprensa, revelou diálogos nada jornalísticos do editor nacional com o local sobre as dificuldades para encontrar uma televisão que estivesse estragada para “fazer a matéria”. A informação-resposta veio com o IDEB….
Talvez por isso mesmo, talvez até por ter para com a mídia uma relação inédita que exclui completamente a nefasta prática da cooptação entre poderes públicos e imprensa – o governo do Paraná cortou a zero a verba publicitária que no passado sustentou bilionariamente a mídia supostamente partidária da economia de mercado, embora dependente do estado – o fato do governador Requião ser considerado o segundo melhor governador do País é algo que só pode ser explicado pela forte consciência nacionalista do nosso povo. Apesar das tenebrosas ou “telebrosas” transações que se organizam contra a nossa Pátria assim tão distraída….
Imaginemos quando o povo brasileiro possa ser devidamente informado sobre algumas outras políticas públicas do governo do Paraná. Por exemplo: o programa do livro didático público, pelo o qual foram elaborados exclusivamente por professores paranaenses, impressos em gráficas do estado e distribuídos, 5 milhões e meio de exemplares, gratuitamente, aos alunos da rede pública estatal. Ou do plantio de 80 milhões de árvores nativas do Paraná, programa que levou ao governador Requião a ser condecorado recentemente na Conferência Mundial do Meio Ambiente, da ONU, na Alemanha. Aqui, o plantio de 80 milhões de árvores foi transformado em uma não-notícia!!!
Comparemos com o governador Aécio Neves, que estaria, segundo a Vox Populi, melhor colocado que Requião nesta pesquisa. O mineiro tem ampla e volumosa relação com a mídia comercial. Requião é hostilizado editorialmente pela grande mídia, cortou a zero as verbas publicitárias e ainda recebeu uma sentença de censura – inconstitucional, claro – por parte de um juiz que o proibiu de tecer “críticas ácidas” a adversários e à imprensa no programa televisivo “Escola de Governo”, no qual presta contas dos atos de governo, informação sistematicamente sonegada ao povo do Paraná pela mídia local.
Se os brasileiros tivessem informações suficientes para comparar, por exemplo, as razões de estado que levam os mineiros a pagar a maior tarifa de eletricidade do país, cobrada pela Cemig, com a mais baixa de todas, cobrada pela Copel, no Paraná, talvez pudessem ter mais condições para julgar com mais precisão os dois governadores. Um vetado e demonizado pela mídia, outro incensado e sem praticamente qualquer imprensa independente nas alterosas a lançar olhares críticos sobre os atos de governo.
Se comparado, ainda que rapidamente com o governador paulista, José Serra, onde os apagões de eletricidade afligem constantemente o povo paulista em razão da privatização e internacionalização, seguidas de sucateamento do sistema elétrico do mais poderoso estado do país, Requião não ficaria em situação desconfortável. Serra participou da demolição da Era Vargas comandada pelo governo tucano de FHC, e, agora, continua privatizando e internacionalizando o patrimônio público paulista. E apesar disto, recebe tratamento condescendente da grande mídia. Aécio deu sustentação política aquela demolição privateira, como presidente da Câmara dos Deputados e tucano de alta plumagem. Já Requião era oposição ao desmonte, lutou contra a quebra do monopólio da Petrobrás, foi o único governador a insurgir-se contra a Lei do Petróleo, através de uma ADIN, negada pelo Supremo com cândida explicação de que “na rocha, o petróleo é nosso!”.Fora da rocha, vale a “bacia das almas”… Felizmente, o governo Lula, através do Ministro Lobão, sinaliza que prepara outra lei de petróleo que impeça a desnacionalização das imensas riquezas descobertas e ao anuncia a suspensão da 10 Rodada do anti-nacional Leilão do Petróleo, atos que reconhecem a razão do governador nacionalista paranaense, que já não tem razões para qualquer cálculo tímido na política nacional.
O novo mapa político latino-americano, com as nacionalizações das riquezas pelos governos da Venezuela, Bolívia, Nicarágua, Equador, Argentina, dão razão política a Requião. Assim como no Irã, onde nacionalizações recuperam a “Era de Mossadeg”, o Vargas iraniano, que também havia fundado um projeto de nação soberana e independente por lá, projeto abortado, como cá, pelas garras da águia do norte, também servem de sustentação histórica e política ao nacionalista das araucárias.
Requião não é um enigma. O enigmático da questão seria entender por que o governador mais vetado, mais proibido, mais censurado, que tem sua imagem constantemente sob bombardeio demolidor da tirania midiática nacional e internacional, atacado pelas transnacionais que não conseguem impor a privatização do Porto de Paranaguá e também pelos banqueiros que privatizaram irregularmente o Banco Público do Paraná, aparece bem posicionado pela Pesquisa do Vox Populi.? A Era Vargas não foi ainda demolida na consciência do povo brasileiro. Eis uma primeira resposta. O nacionalismo é ainda um instrumento fundamental de transformações sociais e o novo mapa político latino-americano o indica.
Quando o próprio presidente Lula decidiu, por decreto presidencial, criar a Semana Vargas “para que o povo brasileiro conheça este grande presidente”, e defende um banco central integrado e moeda única para a América do Sul, está indicando que algo se move por baixo do dilúvio des-informativo neoliberal. Quem ainda talvez tenha dificuldade para entender a mensagem que o Vox Populi revela é o próprio PMDB. Em 1998, quando um Comitê de Grandes Bancos dos EUA discutiam a sucessão brasileira, a conclusão, muito reveladora, foi a seguinte: “No Brasil está tudo sob controle. Só não pode o Requião ganhar a indicação presidencial na convenção do PMDB…”
(*)Carlos Alberto de Almeida
Presidente da TV Cidade Livre de Brasília