segunda-feira, novembro 11, 2024
InícioSem categoriaA Unasul e a IV Frota Naval dos Estados Unidos

A Unasul e a IV Frota Naval dos Estados Unidos

(Publicado originalmente em Seg, 15 de Dezembro de 2008 16:00)

Por Beto Almeida (*) 
Não exageram Lula, Chávez, Evo Morales, Cristina Kirchner e Rafael Correa quando afirmam que o nascimento de Unasul ( União das Nações Sul-Americanas) é um fato histórico e com significativas repercussões na geopolítica global. A iniciativa, proposta pelo Brasil, tem sim um grande potencial de transcendência, desde que sejam consolidadas ações de integração operativas, reafirmando e recuperando o papel protagonista do Estado. Apesar das diferenças nos processos políticos destes países que representam o eixo progressista dentro de Unasul, é possível observar uma tendência realmente nacionalista e da afirmação da soberania sobre seus bens e suas decisões , com diferenças de ritmos, mas que registram um desenvolvimento expressivo o suficiente para preocupar os EUA.
Assim, a reativação da Quarta Frota Naval dos EUA, destinada especialmente para a defesa dos “interesses norte-americanos” no espaço da América Latina, não deve ser encarada fora do contexto do nascimento da Unasul. Trata-se de clara resposta a este processo , especialmente à proposta, também de autoria brasileira, para a constituição de um Conselho Sul-Americano de Defesa, para o quê já foi constituído um grupo de trabalho visando apresentar um modelo para o mesmo no prazo de 90 dias. Neste sentido vale ressaltar declaração do Ministro da Defesa do Brasil, Nelson Jobim , destacando que o governo não vai autorizar que a Quarta Frota dos EUA fiscalize águas territoriais brasileiras.
Também fazem parte deste enfrentamento surdo e crescente, os vôos de aviões dos EUA violando espaço aéreo venezuelano e o anúncio, pelo governo da Colômbia, de que poderá permitir a instalação de uma base militar dos EUA em Guarija, área fronteiriça com a Venezuela. Ou seja, o enfrentamento surdo dentro de um tabuleiro de xadrez mundial passa incluir cada vez a América do Sul, como já se havia visto com a agressão dos EUA ao território do Equador, com mísseis que foram lançados da Base Militar dos EUA “Lãs Três Esquinas”, situada em território colombiano, . Estes mísseis não poderiam ser transportados pelos aviões Super-Tucanos usados pelo exército colombiano que não dispunha daquela tecnologia para violar a soberania equatoriana, como denunciou o Presidente Rafael Correa.
O nascimento de Unasul se dá no mesmo momento em que o novo presidente russo, Demetrius Medevdev, faz sua primeira viagem internacional, justamente à China, onde, além de firmar um acordo de cooperação energética de 1 bilhão de dólares, lançou uma forte declaração conjunta condenando a proposta ianque de instalação de escudos anti-mísseis na Europa, nas proximidades da fronteira da Rússia. Unasul não nasce em qualquer momento.
É muito importante considerar que constam do Tratado de Constituição da Unasul iniciativas concretas de integração nas áreas econômica, comercial, tecnológica, financeira, cultural, política, educacional, informativa, energética e de infra-estrutura de transporte. Como disse o presidente Hugo Chávez, citando Darcy Ribeiro, “caminhamos para ações operativas”. Por isso a cobertura feita pela mídia do capital sobre o evento da Unasul foi puro lamento derrotista, destacando que era “pura retórica”, que já nasciam fracos e divididos. Ora, divididos estavam anteriormente, e não pode ser considerada uma retórica a proposta de Lula de constituição de um Banco Central integrado na América do Sul e a criação de uma moeda única regional, sobretudo no momento em que o dólar derrete, além de não ter lastro algum. E quanto até mesmo o presidente do Irã afirma estar disposto a depositar as reservas de seu país no Banco do Sul .
A formação da Unasul representa um significativo fortalecimento também para a ALBA já que a partir de um núcleo definido sustentado nas duas mais importantes economias da região, Brasil e Argentina, os demais países poderão receber um impulso de desenvolvimento que lhes permita reduzir as enormes assimetrias existentes na região, além do que cria-se a possibilidade para que sejam formadas cadeias produtivas complementares, baseadas nos perfis econômicos de cada um dos países, no fundamental carentes de infra-estrutura produtiva mais desenvolvida. Mesmo países como Venezuela, que conta com um governo revolucionário , riqueza energética e realiza grandes iniciativas de integração com Cuba, necessita em boa medida de um período para o seu desenvolvimento produtivo, por exemplo, para superar sua precária produção agrícola, já que importa, como Cuba, aproximadamente 80 por cento dos alimentos que consome. Com a Unasul criam-se as possibilidades para o encurtamento destes prazos históricos para a superação das lacunas agrícolas e industriais. Ao passo que apenas um estado, o do Paraná, por exemplo, pode comprar da Venezuela toda a sua produção de uréia para uso na sua agricultura.
O nascimento criação da Unasul, permite passar a um novo patamar para a tomada de medidas estratégicas para uma integração que já se tentou fazer em vários momentos da história, como, por exemplo, nos governos de Vargas e Perón e de Ocampo, no Chile, iniciativa boicotada pelo imperialismo que derrubou tanto Vargas como Perón em 1954 e 1955 , respectivamente. Por isso é fundamental considerar que a Unasul tem um componente antiimperialista muito forte, que necessitará uma unidade cada vez maior entre os governos progressistas membros, uma cada vez mais articulada relação orgânica com os movimentos sociais e os sindicatos e, por fim, que a resposta dos EUA não será nada diplomática como já indicam o bombardeio ao território do Equador, a reativação da Quarta Frota Naval e a violação do espaço aéreo venezuelano pela aeronáutica dos EUA.
(*) Beto Almeida é jornalista e diretor da Sucursal de Brasília da Rede Telesul
leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
RELATED ARTICLES

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Most Popular

Recent Comments

PAULO ROBERTO DOS ANJOS OLIVEIRA on Próximo factoide: a prisão do Lula
cleonice pompilio ferreira on Golpe de 64: quando Kennedy chamou os militares
José rainha stedile lula da Silva Chávez on Projeto ditatorial de Macri já é emparedado nas ruas
maria teresa gonzalez perez on Crise e impasse institucional
maria teresa gonzalez perez on La Plata: formando um novo tipo de jornalista
maria teresa gonzalez perez on Maduro prepara Venezuela para a guerra civil
maria teresa gonzalez perez on Momentos emocionantes da apuração do 2o. turno
Pia Torres on Crítica do filme Argo
n_a_oliveira@hotmail.com on O que disse Lula a Mino Carta, meus destaques
José Gilbert Arruda Martins on Privatizações, novo filme de Sílvio Tendler
Maria Amélia dos Santos on Governador denuncia golpe em eleição
Prada outlet uk online on Kennedy e seu assassinato há 50 anos
http://www.barakaventures.com/buy-cheap-nba-indiana-pacers-iphone-5s-5-case-online/ on Oliver Stone em dois documentários sobre Chávez
marcos andré seraphini barcellos on Videoentrevista: Calos Lupi fala do “Volta Lula”
carlos gonçalves trez on Crítica do filme O Artista
miriam bigio on E o Brasil descobre o Oman
Rosana Gualda Sanches on Dez anos sem Darcy Ribeiro
leitefo on O Blogueiro
Suzana Munhoz on O Blogueiro
hamid amini on As razões do Irã
leitefo on O Blogueiro
JOSÉ CARLOS WERNECK on O Blogueiro
emidio cavalcanti on Entrevista com Hermano Alves
Sergio Rubem Coutinho Corrêa on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola
Stephanie - Editora Saraiva on Lançamento: Existe vida sem poesia?
Mércia Fabiana Regis Dias on Entrevista: Deputada Luciana Genro
Nielsen Nunes de Carvalho on Entrevista: Deputada Luciana Genro
Rosivaldo Alves Pereira on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola
filadelfo borges de lima on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola