segunda-feira, novembro 11, 2024
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Crítica do filme Jogo de Poder

O rumoroso caso da revelação da identidade secreta de uma agente da CIA – Central Intelligence Agency – por funcionários da Casa Branca do governo Bush dá argumento a Jogo de Poder, de Doug Liman, que faz uma histórica e até certo ponto bem-sucedida narrativa dos fatos, ocorridos em 2003, baseando-se em dois livros Fair Game, deValerie Plame, e Política da Verdade, de Joe Wilson.

O roteiro, de Jez Butterworth, bem estruturado, retrata a vida, posta em perigo, do casal Joseph C.Wilson (Sean Penn), diplomata, e Valerie Plame (Naomi Watts), ex-agente da CIA, que, de uma hora para outra, se viu envolvido num escândalo político de proporções absurdas. Tudo porque Joe Wilson, como é conhecido, que desempenhou missão diplomática no Iraque, tido como herói por George W. Bush, deixou bem claro – em memorável artigo What I Din´t Find in Africa (O Que Eu Não Encontrei na África), publicado pelo The New York Times -, que o presidente manipulou informações para justificar a invasão do país.

O jornal The Washington Post, – cujo repórter Robert Novak foi o autor da insidiosa revelação – criticou o filme, selecionado para concorrer aos prêmios do Festival de Cannes, por apresentar diversas distorções dos acontecimentos. A principal delas seria a alegação de que Plame estaria, ao ser identificada pelos burocratas do governo – mais especificamente um colaborador do ex-vice-presidente Dick Cheney, chamado Lewis Libby -, reunindo um grupo de cientistas iraquianos, liderado por Hamed (Khaled El Nabawy), para abandonar o país às vésperas do ataque americano a Bagdá, o que, segundo o jornal, não seria verdade.

De fato, a película parece incensar muito, de início, as funções desempenhadas por Plame nas investigações, determinadas pela CIA, sobre a provável existência de um arsenal nuclear iraquiano. Para isso, Doug Liman usa linguagem um tanto evasiva, com excessiva movimentação de câmara, manuseada por ele próprio, sem fazer, por outro lado, abordagem mais precisa de como se dera a atuação de Joe Wilson na embaixada em Bagdá (1988 a 1991) e, em sua missão a Níger (2002), a fim de verificar a procedência das informações sobre a expedição ao Iraque de tubos de alumínio para conectar o reator, do que resultara sua firme convicção de tudo não passar de puro embuste, ou de fantasia.

De qualquer forma, porém, Liman, que tem a seu crédito A Identidade Bourne – não os filmes posteriores – , realiza um trabalho correto, sem ser, em nenhum momento, empolgante, como o de Zona Verde, de Paul Greengrass, um documento magnífico sobre a guerra do Iraque. Isso porque ele relega as implicações políticas do caso, como a liberação por Bush, usando o seu poder de clemência, de Libby, o falastrão, condenado a dois anos de prisão e ao pagamento de multa de 250 mil dólares. Vale, sob esse aspecto da impunidade, observar a irônica insinuação feita por Joe Wilson a um taxista, quando este tenta estabelecer um paralelo entre a “democracia” de seu país, Serra Leoa, e a dos EUA.

A direção de Liman se apoia nas interpretações de Naomi Watts e de Sean Penn, que, pela terceira vez, atuam juntos. Os dois atores estão muito bem na reconstituição do conflito entre verdade e mentira, que põe em perigo a vida conjugal. Watts, que, aos 41 anos, experimenta os melhores momentos de sua carreira, sublinha a mutação na fisionomia de Plame, causada pelo abalado ânimo profissional, a qual ela procura evitar a todo custo que afete a estabilidade doméstica. Quando ela vai em visita aos pais Sam Plame (Sam Shepard) e Diana (Brooke Smith), a atriz britânica mostra como a personagem faz reflexão sobre os caminhos que daí por diante terá a seguir em defesa de seu lar. Sean Penn, por sua vez, mais gordo e envelhecido, empresta a Joe Wilson a exata máscara fisionômica de quem se sente como se fora peça descartada no jogo.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
JOGO DE PODER
FAIR GAME
EUA / 2010
Duração – 108 minutos
Direção – Doug Liman
Roteiro – Jez e John Butterworth, baseado nos livros Fair Game: My Life as a Spy, My Betrayal by the White House, de Valerie Plame, e Politica da Verdade, de Joe Wilson
Produção – Jerry Zucker, Janet Zucker, Jez Butterworth, Doug Liman
Fotografia – Doug Liman e Robert Baumgarten
Trilha Sonora – John Powell
Edição –Christopher Tellefsen

Elenco – Naomi Watts (Valerie Plame), Sean Penn ( Joe Wilson), Sam Shepard (Sam Plame), Brooke Smith (Diane), Khaled El Nabawy (Hamed), Ty Burrell (Fred), Noah Emmerich (Bill), Bruce McGill (Jim Pavitt).

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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