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Guerra aqui, guerra acolá

(Publicado originalmente em Seg, 15 de Dezembro de 2008 15:19)
 
Artigo de Márcio Accioly
Uma das imagens mais impressionantes, registradas logo no início dessa desnaturada “guerra” movida pelos EUA e Inglaterra contra o Iraque, foi a de um menino atingido por bombardeio ianque, gritando que queria seus braços de volta, arrancados brutalmente numa explosão.
Ao lado do garoto jazia toda sua família: pai, mãe e irmãos, mortos num piscar de olhos, sem dó nem compaixão. Mais tarde, através de premiado documentário produzido pelo cineasta norte-americano Michael Moore, pudemos constatar como os soldados da Terra do Tio Sam atiram em tudo que se move, de dentro de seus tanques.
O primeiro-ministro Tony Blair não perdeu aquela ocasião: levou a criança para Londres e tratou de providenciar próteses que “substituíssem” os membros perdidos. E nunca mais se ouviu falar na história, tampouco no menino.
Hoje, apesar de crescentes manifestações contrárias ao criminoso conflito, eis que os donos do mundo não dão a menor importância. Numa prova de que a democracia dita representativa, tão louvada pelos defensores dos chamados valores sociais, é conversa pra boi dormir.
Trabalha-se o tempo todo em cima de pesquisas. Enquanto as populações dos EUA e da Inglaterra entendiam ser o conflito um real resgate de princípios adormecidos, a coisa caminhou na calmaria. Afinal, as bombas estão explodindo a milhares de quilômetros de suas cabeças e os civis mortos não assinalam qualquer parentesco.
Mas, depois que os soldados norte-americanos começaram a chegar dentro de caixões em maior número (na última segunda-feira, 19, eles já contabilizavam 3.218 corpos), a cantilena mudou. Os ingleses estão morrendo em menor quantidade: na mesma data, eles eram apenas 134. O problema é que não existe solução à vista.
O fato é que George W. Bush, que na juventude foi preso dirigindo embriagado e já foi também acusado de envolvimento com drogas pesadas; que usou o peso familiar para fugir da Guerra do Vietnã e, no dia seguinte à derrubada das duas torres, autorizou a saída de todos os integrantes da família Bin Laden dos EUA, está perdido.
E muito mais perdido está o restante do planeta, no acirramento das diferenças entre Oriente e Ocidente, com o poderio militar das grandes potências pretendendo se impor em regiões ricas de petróleo. Um assalto praticado à luz do dia.
Maquiavel , que muitos citam e poucos entendem, foi gênio porque descobriu a previsibilidade do ser humano, vitimado nas mesmas ambições e fraquezas seja qual for o rincão que habite.
E George Orwell (1903-50), notável escritor inglês, anotou em seu “1984” que a atividade do “duplipensar” é característica que serve como norma diretiva aos detentores do poder, permitindo que lemas e bandeiras sejam utilizadas em sentido oposto, dependendo do uso ou conveniência.
Dessa forma, no Ministério do Amor pratica-se a tortura. “Guerra é Paz”, “Liberdade é Escravidão” e “Ignorância é Força”. Quando presidia a WWF (World Wildlife Fund), que deveria proteger espécies ameaçadas, o príncipe Philip matou com tiro de rifle um tigre belíssimo na Índia, apenas para testar a pontaria.
Na mesma viagem, em Katmandu, no Nepal, matou uma elefanta cujo filho fugiu em desespero. Punha em prática, dessa forma, o exercício do duplipensar.
Os que têm mente de colonizados se quedam diante de monarquias podres e migalhas oferecidas pelos que buscam se eternizar no poder. Não resta dúvida: estamos condenados à própria destruição, enquanto pregamos a salvação da alma. Duplipensar!
E-mail: accioly@tba.com.br Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo.
leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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