(Publicado originalmente em Seg, 15 de Dezembro de 2008 15:09)
No Brasil, como de resto nos outro países democráticos, a sucessão começa a correr no dia da posse do governante máximo. Daí a importância de garimpar os discursos daqueles que, velada ou abertamente, se lançaram candidato à sucessão do Presidente Lula nas posses que marcaram a assunção do Chefe da Nação e de 27 governadores de Estado.
Investido ontem, primeiro de janeiro de 2006, para um segundo mandato de quatro anos, Lula, a quem não cabe mais pretensões eleitorais, limitou-se a procurar assegurar que vai tentar a todo custo romper o imobilismo de sua primeira gestão e se lançar a uma política de crescimento e de inclsuão social.
Escaldado com números, evitou falar dos cinco por cento perseguidos pela sua equipe, e concentrou-se na mudança vocabular como forma de sensibilizar o país para os seus propósitos: “Quatro anos atrás eu disse que o verbo mudar iria reger o nosso governo. Hoje, digo que os verbos acelerar, crescer e incluir vão reger o Brasil nestes próximos quatro anos”.
José Serra, tucano, novo governador de São Paulo e considerado atualmente o nomemais forte para suceder Lula, atacou a estagnação econômica e pediu a volta da ética na política, tentando assim fazer um contraponto com a administração petista. Aécio Neves, também tucano e também pretendente ao trono (os dois vão ter de tirar par ou ímpar para ser indicado pelo PSDB), foi mais discreto na sua diferenciação com Lula, e advogou “a refundação do pacto federativo com maior distribuição de recursos aos Estados e municípios”.
Fora de tom – Os discursos dos dois governadores-candidatos seguiram mais ou menos a cantilena do rigor fiscal e da estabilização econômica, num ritmo que foi bruscamente rompido por Roberto Requião, reeleito governador do Paraná, Estado que, apesar de sua pujança econômica, nunca produziu um Presidente.
Requião, que até aqui não era apontado pela mídia como um dos potenciais candidatos ao Planalto, fez severas críticas à mídia e às elites, no que procura criar um nicho próprio para o seu nome, o quanto mais longe possível dos outros competidores, mais afeitos a uma convivência amigável com os meios de comunicação e o poder econômico.
O governador do Paraná, tido como bomde briga, marcou sua atuação nomandato passado por uma linha nacionalista e estatizante, qando transferiu as contas do Estado do Banco Itaú para o Banco do Brasil, proibiu a cobrança de pedágio nas estradas e a soja transgênica. Ele pretenderia ocupar o vazio deixado pelos partidos de esquerda, que se aliando ao Governo Lula e sem ter nomes nacionais capazes de empolgar o eleitorado, ficaram sem estratégias para a eleição de 2010.
Usando um tom contudente, Requião anunciou que fará um governo nitidamente de esquerda, seguindo os novos vento sque bafejam a américa Latina: “E lá vem essa conversa toda de populismo, do horror a um Hugo Chávez (presidente da Venezuela), a um Evo Morales (presidente da Bolívia), a um Rafael Correa (presidente do Equador), a qualquer um enfim, que se oponha ao consenso de Washington, aos ditames do FMI, às receitas do neoliberalismo, à ação sem freio do mercado”.
Tudo bem, mas Requião, para empunhar a bandeira da esquerda autêntica precisa, antes de tudo, sair do PMDB, o partido-confederação, que há quase 20 anos não consegue lançar um presidenciável, por causa de sua heterogeneidade ideológica e excessivo apego ao governismo de qualquer cor ou credo. Que o digam Itamar Franco, Garotinho, Pedro Simon,que viram seus pleitos atropelados pela força dos governos de plantão. Aos 65 anos e com a intrepidez que o caracteriza, ainda que detentor de um temperamento muitas vezes arestoso, o atual governador paranaense, numa outra legenda ou criando uma própria bem diferenciada do comodismo do atual quadro partidário, poderá ter alguma chance de sacudir a sucessão e até, se tiver muita sorte, sagrar-se Presidente em 2010.
Discursos de Lula – Requião – Serra – Aécio