quinta-feira, novembro 14, 2024
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Crítica do filme Um Lugar Qualquer


Em seu novo filme, Um Lugar Qualquer, Sofia Coppola usa linguagem mais sóbria do que em seus trabalhos anteriores para expor, quase sem dramaturgia, o tédio que toma conta da vida de um ator medíocre – bem posicionado, porém, como ídolo do cinema por sua aparência física -, que disso se conscientiza ao conviver por alguns dias com a filha de onze anos.

O roteiro, escrito pela própria Sofia, com poucos diálogos, traça o perfil de Johnny Marco (Stephen Dorff), acidentado com fratura em um dos braços durante uma filmagem. Ele se recupera, hospedado no luxuoso Chateau Marmont Hotel, em Los Angeles, assediado por mulheres e cercado de todas as mordomias.

Com uma Ferrari à disposição, Johnny sai à noite, completamente desconectado com a vida real, à procura de bebidas, de garotas e das drogas mais em voga. Em uma das festas que vai, após receber tapinhas nas costas de amigos, é indagado por um deles sobre o seu método de composição de personagem, ao que responde, com naturalidade, não ter nenhum, mas apenas um bom agente.

No dia seguinte, ele não fica à vontade, posando para um fotógrafo (Christopher James Taylor), ao lado de Rebecca (Michelle Monaghan), sua parceira na película a ser lançada, pois dela recebe indelicadezas, apesar dos sorrisos forçados que ambos exibem para o registro fotográfico. Um primeiro baque ele sofre, logo depois, quando, num teste de maquiagem, verifica como ficaria o seu rosto marcado pelo envelhecimento.

E quase ao mesmo tempo, Johnny recebe telefonema da ex-mulher, pedindo-lhe que leve a filha, Cleo (Elle Fanning), à aula de ballet em pista de gelo. Ele se entusiasma ao ver a desenvoltura de Cleo sem saber que ela já vinha estudando patinação desde há algum tempo.

Ao regressar, recebe comunicado de que deverá viajar à Itália a fim de promover o seu filme e, de imediato, a ex-mulher lhe fala pelo telefone que não quer mais ficar com a filha durante um certo prazo. Encarrega-o de encaminhá-la a uma colônia de férias, situada num campo perto de Las Vegas. Como não tem tempo para isso, ele decide levá-la antes à Itália. É durante essa viagem, que Cleo lhe expõe suas mágoas: – A minha mãe não quer mais ficar comigo e você nunca está por perto!…

Por conter perceptíveis elementos autobiográficos, a narrativa de Sofia, apesar de não ter o charme da de Encontros e Desencontros (2003), de temática semelhante, assume tom melancólico, poético, que a identifica com o estilo europeu, talvez com o barroquismo de Wim Wenders – observem-se as cenas de estradas ao começo e ao final da película -, razão pela qual, ao que se acredita, conquistou o Leão de Ouro de Veneza no ano passado.

Sofia é cáustica na sua crítica aos meios de comunicação social, particularmente quando investe contra os programas televisivos de auditório – no caso, os da Itália -, templos de sagração das chamadas “celebridades artísticas”, ocas, vazias, as quais, como Johnny, nada têm a oferecer ao público que, inebriado, assiste às suas instantâneas aparições. Note-se a breve participação de Benício Del Toro, como uma dessas “celebridades”.

Dos atores Stephen Dorff e Elle Fanning, que interpretam pai e filha, Sofia exige atuação discreta ao exato tom de sua linha de direção. Dorff (Inimigos Públicos) ganha ótima oportunidade, assim, de realizar uma composição ao seu estilo. Ele usa uma só máscara cambiável – do nojo à alegria – e a voz macia para com as diversas mulheres que encontra até o momento em que, ao telefone, despreza o artificial, a fim de confessar, em lágrimas, a uma delas a terrível impressão que, pela primeira vez, tem de si mesmo. E cai na depressão. Fanning, como Cleo, (alter ego de Sofia), é a própria delicadeza em pessoa, quando dança, chora ou repreende o pai, apenas com o olhar, como o faz no luxuoso hotel italiano.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
www.theresacatharinacampos.com
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FICHA TÉCNICA
UM LUGAR QUALQUER
SOMEWHERE
EUA/2010
Duração – 97 minutos
Direção – Sofia Coppola
Roteiro – Sofia Coppola
Produção – G. Mac Brown, Roman Coppola, Sofia Coppola e Francis Ford Coppola
Fotografia – Harris Savides
Trilha Sonora – Phoenix
Edição – Sarah Flack
Elenco – Stephen Dorff (Johnny Marco), Elle Fanning ( (Cleo), Michelle Monaghan (Rebecca), Christopher James Taylor (Fotógrafo), Benício Del Toro (Celebridade), Laura Chiati (Sylvia), Paul Greene (Massagista).

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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