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Crítica do filme "Stella"

(Publicado originalmente em Seg, 13 de Julho de 2009 11:48)

Por Reynaldo Domingos Ferreira

Veja aqui o trailer.

A cineasta francesa Sylvie Verheyde mostra, em Stella, narrando episódios de sua própria vida, que nada é melhor do que a literatura e a música para dar a uma adolescente, criada em condições adversas, um sentido mais promissor para a sua existência.

Autora também do roteiro, Verheyde reconstitui o ambiente de degradação familiar em que vive Stella Vlaminck (Lóra Barbara), nos anos de 1970, num bairro periférico de Paris. Aos 11 anos, ela tem oportunidade, entretanto, de iniciar o curso secundário num prestigioso colégio francês. É a sua chance. Mas ela também não sabe como tirar proveito disso.

O argumento se assemelha ao de A Culpa é do Fidel, mas sem a conotação política da película de Julie Gavras. Stella não nasceu, como Anne de La Mesa, a protagonista de Gavras, no meio de uma família tradicional, de costumes refinados e de orientação católica, embora os pais  sejam ativistas políticos de esquerda.

Ao contrário, os pais de Stella –  Serge (Benjamin Biolay)  e Roselyne ( Karole Rocher) – são de pouca instrução, donos de um bar, freqüentado por pessoas desajustadas, sem perspectivas na vida, que se entregam desbragadamente ao jogo e à bebida.

A família de Stella, que tem um irmão Loïc (Johan Lebéreau), habita um cubículo, na sobreloja, de onde se ouve todo o ruído produzido pelas noitadas de danças no bar, nos finais de semana, que não deixam Stella dormir e muito menos estudar. O seu aproveitamento  escolar é, à causa disso, o pior possível.

A menina elege como amigo, um dos boêmios, Alain-Bernard (Gillaume Depardieu), jovem desiludido, que bebe e fuma a todo o tempo, com quem joga cartas. Para ela, ele é um anjo.  E quando sai de férias, vai para a casa da avó paterna, que fica numa localidade pobre, isolada, onde ela faz amizade com uma menina, Geneviève (Laetitia Guerard), também problemática, com quem joga futebol.

 A  vida de Stella começa a mudar, contudo, quando, na escola, ela se aproxima de uma colega, Gladys (Melissa Rodrigues), a primeira da classe, de família de intelectuais judeus argentinos, de classe média, que a induz a gostar de literatura e de música. Assim, aos poucos, participando de brincadeiras dançantes com garotos de sua idade na casa da amiga, e lendo obras de Balzac, de Cocteau e de Marguerite Duras, o seu progresso no aprendizado se torna visível aos professores.

Esses, como é preciso observar, diferentemente daquele estouvado professor François Marin, do premiado Entre os Muros da Escola, de Laurent Cantet, não desestimulam os alunos a ler obras importantes da literatura francesa. Pelo contrário. Têm uma outra visão do que é o ensino e um diverso comportamento também dentro da sala de aula.

 A linguagem de Verheyde é simples, isto é, despojada de ornamentos e de pouca emoção, mas firme e objetiva, deixando o espectador a todo o tempo – 103 minutos de duração do filme – na expectativa de que algo mais dramático possa vir a ocorrer com Stella ou com alguns de seus entes mais próximos.

A interpretação de Lóra Barbara, entretanto, é o grande trunfo do filme. Trabalhando principalmente com a expressividade do olhar, Barbara cria uma personagem que, já perdendo a inocência da criança, seduz por sua capacidade de observar o mundo que a cerca e tirar dele, como adolescente, suas próprias conclusões.

Embora todo o elenco seja merecedor de atenção, vale a pena destacar as atuações do cantor e compositor Benjamin Biolay, surpreendendo no papel de Serge, pai de Stella, indicado ao César de Melhor Ator Coadjuvante do Ano, e de Gillaume Depardieu, como Alain Bernard, em uma de suas últimas criações, pois morreu, aos 37 anos, de pneumonia, um mês antes da estréia do filme na França.

REYNALDO DOMINGOS FERREIRA

FICHA TÉCNICA
STELLA
França / 2008
Duração – 103 minutos
Direção – Sylvie Verheyde
Roteiro – Sylvie Verheyde
Produção – Sarah Benoliel
Fotografia – Nicolas Gaurin
Edição – Christel Dewynter
Elenco –  Lóra Barbara (Stella Vlaminck), Benjamin Biolay (Serge, pai de Stella), Karole Rocher (Roselyne, mãe de Stella), Gillaume Depardieu (Alain Bernard), Melissa Rodrigues (Gladys), Jeannick Graveline (Bubu), Laetitia Guerard (Geneviève), Johan Libéreau (Lïc, irmão de Stella) e Christophe Bourseiller (Professor de francês).

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Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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