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Crítica do filme A Separação

O cineasta Ashghar Faradi conduz, com muita habilidade, A Separação, um drama familiar, que incorpora sábia, mas discreta crítica à sociedade totalitária iraniana. Além de outros prêmios, o filme ganhou o Leão de Ouro do Festival de Berlim, o Globo de Ouro da Associação de Críticos Internacionais de Nova York e, provavelmente, o Oscar de Melhor Filme de Língua Estrangeira.

Na verdade, a película trata das consequências geradas pelo divórcio de um casal de classe média urbana – Nader (Peyman Moa´adi) e Simin (Leila Hatami) -, após 14 anos de vida conjugal, porque ela deseja mudar-se para o exterior a fim de procurar melhores condições de vida para a filha Termeh (Sarina Faradi), de onze anos. Ele, por sua vez, se opõe à ideia por não poder deixar o pai (Ali-Ashghar Shahbazi ), sofredor do mal de Alzheimer.

Quando Simin deixa a casa e passa a residir com os pais, Nader, por orientação dela, contrata os serviços de Razieh (Sareh Bayat), uma jovem, grávida e muito devota, que mora em um bairro pobre de Teerã, para tomar conta do seu pai, enquanto a filha estuda e ele trabalha num banco. Para exercer a profissão de doméstica, entretanto, Razieh, que sempre é acompanhada pela filha, Somayeh (Kimia Hosseini), não consulta o marido, Houjat (Shahab Hosseini), um desempregado, depressivo, cuja aprovação seria, no caso, necessária, segundo a tradição do país.

Já no primeiro dia, Razieh compreende que não tem condições de permanecer no emprego, pois, ao perceber que o pai de Nader se sujara, ela, por telefone, indaga a uma autoridade religiosa se, sem cometer pecado, poderia ajudá-lo a se limpar no banheiro. Mais tarde, quando Nader chega do serviço, ela lhe fala de suas dificuldades, aconselhando-o a admitir, para substituí-la, seu marido Houjat. Ocorre, porém, que Houjat, nesse meio tempo, é preso por estar em débito com alguém. Razieh retoma então o trabalho.

Na manhã seguinte, enquanto ela faz a limpeza do apartamento, o velho foge para ir à banca mais próxima comprar jornal. Quando ela dá pela falta dele, corre a apanhá-lo, temerosa de que seja vítima de atropelamento. É nesse ponto, que a narrativa de Faradi sofre abrupto corte, providencial e estratégico, para que os fatos posteriores, conflituosos entre Nader e Razieh, levados ao tribunal, se elucidem. Embora, a partir daí, tudo fique também previsível – principalmente para os que, pelo cinema, conhecem o sistema judicial iraniano -, Faradi, driblando a censura, dosa sua linguagem de elementos constitutivos que enriquecem a percepção do espectador a respeito do clima social em que transcorre a história.

Como já demonstrara em seu magnífico Procurando Elly, Faradi radiografa, com precisão, as ilusões e a mesquinhez da classe média, que não se diferencia muito, de país para país, neste nosso mundo globalizado. Sob esse aspecto, a personagem mais emblemática é Nader. Trata-se de um indivíduo fragilizado, que não faz a menor suposição de que, diante das agruras que enfrentam as pessoas, nos tempos atuais, o que importa é que haja, entre elas, mais afeto, tolerância e respeito mútuo. Peyman Moa´adi (Melhor Ator em Berlim), que já se destacara no filme anterior de Faradi, constrói, de forma irrepreensível, a personagem não como um destino, mas como uma ideia, que ele oferece, em detalhes, a todo o tempo, à reflexão do espectador. Leila Hatami (Melhor Atriz em Berlim), além de muito bonita, impõe, com elegância, um caráter forte e determinado a Simin. Shahab Hosseini, como Houjat, e Sareh Bayat, como Razieh, apresentam – ele mais do que ela – também momentos de notável atuação como um casal em crise, premido pelas dificuldades econômicas.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
A SEPARAÇÃO
JODÁI-E NÁDER AZ SIMIN
Irã – 2011
Duração – 123 minutos
Direção – Ashghar Faradi
Roteiro – Ashghar Faradi
Produção – Ashghar Faradi
Fotografia – Mahmoud Kalari
Trilha Sonora – Sattar Oraki
Edição – Hayedeh Safiyari
Elenco – Peyman Moa´adi (Nader), Leila Hatami (Simin), Shahab Hosseini (Houjat), Sareh Bayat (Razieh), Sarina Faradi (Termeh), Ali-Ashghar Shabahzi (Pai), Kimia Hosseini (Somayeh)

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Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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