segunda-feira, novembro 11, 2024
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Crítica do filme Heleno – O Príncipe Maldito

Não é um grande filme, Heleno – O Príncipe Maldito, de José Henrique Fonseca. Mas impressiona pela reconstituição da vida glamorosa do Rio de Janeiro – chamada de Cidade Maravilhosa – , nas décadas de 40 e 50, e pela extraordinária atuação de Rodrigo Santoro (Prêmio do Festival de Havana, 2011) no papel do protagonista. Ele comove e supera certamente tudo o que fez até agora.

Heleno (1920-1959) foi um grande ídolo do futebol brasileiro da época, predecessor de Garrincha e de Pelé. Descoberto no futebol de praia, ele, que morava no Copacabana Palace, e logo, exibindo seus passes e chutes certeiros, magistrais, se tornou o maior astro do Botafogo. Era advogado, mulherengo, temperamental e amante da ópera:- Eu acho – ele dizia – que todo jogador de futebol deveria, antes de entrar em campo, ouvir ópera para ter o sangue efervescente durante a partida.

Era também perfeccionista ao extremo, de um rigorismo doentio em suas pelejas no campo – o de São Januário, do Vasco, pois não havia ainda o Maracanã -, tanto em relação a ele (Eu sou a própria vontade de vencer, dizia), como aos que integravam a sua equipe, dos quais, orgulhoso e arrogante, fazia e desfazia, principalmente se eram de origem humilde. No Botafogo, tinha apenas um amigo, Alberto (Erom Cordeiro), frequentador assíduo, como ele, da boate do Copacabana Palace, onde cantava Diamantina (Angie Cepeda), por quem Heleno sentia uma paixão desesperadora.

Lamentavelmente o roteiro de Fonseca, em colaboração com Felipe Bragança e Fernando Castets, baseado no livro Nunca Houve um Homem como Heleno, de Marcos Eduardo Novaes, é confuso, às vezes repetitivo e não espelha bem – apesar de o filme não ser sobre o futebol – a trajetória do polêmico jogador mineiro, que, depois de brilhar no Campeonato Sul-Americano de 1945, sonhava em participar da Copa de 1950, perdida pelo Brasil para o Uruguai no Maracanã, recém-inaugurado… Sem Heleno, foi impossível vencer.

Estruturada em flashbacks, a narrativa – feita em off por Rodrigo Santoro (Eu era mais feliz, quando tinha raiva – Heleno afirma) – tem início no casarão que abrigava a antiga Casa de Saúde São Luis, de Barbacena. Na parede do quarto de Heleno, debilitado pela paralisia cerebral, causada pela sífilis não tratada, o seu dedicado enfermeiro fez um painel de recortes de jornais, cujas manchetes relembravam seu passado de glória, como a emblemática: Heleno 2, Fluminense 1.

Chamado, Heleno se aproxima do painel, desliza a mão sobre os recortes e começa, com unhas afiadas, a esgravatá-los e colocá-los nos lábios feridos de nicotina pela constância de dois cigarros acesos na boca, que foi sempre uma de suas características. Depois, com o olhar obcecado, mastiga-os pausadamente. É preciso que o enfermeiro, atento, corra para evitar que ele os engula. A Barbacena chega então o casal Alberto e Silvia (Alinne Moraes), ex-mulher de Heleno e mãe de seu filho, que dele se separou desde o seu regresso da Argentina, onde integrou, por curta temporada, o time do Boca Júniors. É forte o impacto, principalmente dela, ao vê-lo naquele estado.

Talvez o grande problema da direção de José Henrique Fonseca seja o de não conseguir dar realce ao tema dominante – a ascensão e queda de Heleno no plano social – em relação à sua carreira de jogador de futebol. Os dois temas naturalmente se entrelaçam ou se justapõem, mas isso não acontece, no plano visual, o que prejudica a estética do filme, apesar da plasticidade que lhe dá a bela fotografia, em preto e branco, de Walter Carvalho, e a pontuação musical de Berna Ceppas, que usa a música lírica, de maneira eficiente, para exprimir a emoção de Heleno ao pisar, pela primeira vez (véspera da última), o gramado do Maracanã, como integrante do América.

Mas o trabalho de Fonseca ganha categoria ao oferecer espaço cênico para que Rodrigo Santoro (Abril Despedaçado) mostre, na plenitude, sua magnífica interpretação do protagonista. Dele o ator – também um dos produtores da película – transmite toda a força vital, ou melhor, o laço orgânico entre o corpo e a alma, baseando-se não só na sua semelhança física – mesmo na fase da demência, quando, para benefício da personagem, perdeu 12 quilos -, mas também no perfeito uso da voz, modulada sabiamente de forma a diferenciar a narrativa do diálogo. Santoro é, sem dúvida, maior que o filme. Os demais – principalmente as duas bonitas atrizes, Alinne Moraes (Silvia) e Angie Cepeda (Diamantina) – demonstram como a preparação técnica do elenco foi bem realizada.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
HELENO – O PRÍNCIPE MALDITO
Brasil / 2011
Duração – 116 minutos
Direção – José Henrique Fonseca
Roteiro – José Henrique Fonseca, Fernando Castets, Fernando Bragança, com base no livro Nunca Houve um Homem como Heleno, de Marcos Eduardo Novaes
Produção – Eduardo Pop, Rodrigo Teixeira, Rodrigo Santoro.
Fotografia – Walter Carvalho
Trilha Sonora – Berna Ceppas
Elenco – Rodrigo Santoro (Heleno de Freitas), Alinne Moraes (Silvia), Angie Cepeda (Diamantina), Erom Cordeiro (Alberto), Othon Bastos (Carlito Rocha), Herson Capri ( Médico).

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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