Aos 80 anos, Mino Carta vive “um momento elétrico e eletrizante”, ao inaugurar o novo visual e conteúdo da revista Carta Capital, tanto na edição impressa como no site e iPad. Veja o Editorial de Mino Carta:
“Também somos confiantes
A prova está nesta reforma gráfica que não contempla somente a estética
O Brasil está confiante, CartaCapital também. Haverá quem observe que Confiança é mesmo o nome da editora. Dobra-se, então, nossa confiança, no presente e no futuro. Esta edição prova ao inaugurar uma reforma gráfica profunda, a começar pelo logotipo, apresentado em novos caracteres o nome da revista. Os antigos gregos entendiam a estética como sinônimo de ética. Digamos que, no nosso caso, a forma produz inovações inclusive no conteúdo. Uma diferenciação clara se estabelece entre Política e Economia, incluído nesta, obviamente, o mundo dos negócios, o business. Desaparece a seção Ideias, engolida pela nova QI, mais abrangente e mais curiosa dos comportamentos do homem contemporâneo.
Sim, somos muito confiantes na certeza da prática do jornalismo honesto, na contramão de quantos inventam, omitem e mentem. Permito-me um exemplo. Na edição da semana passada, o repórter Leandro Fortes desmontou, peça por peça, o esquema montado pelo governador de Goiás, Marconi Perillo, para grampear os desafetos. A reportagem teve ampla repercussão em Goiás e na internet. Quanto a jornalões e quejandos da mídia nativa, o costumeiro, estrondoso silêncio. A despeito da importância do assunto. Mas será mesmo que quando a mídia nativa não noticia, a Globo na linha de frente, o fato simplesmente não se dá e o mundo gira à toa?
Situações desse gênero só acontecem no país da casa-grande e da senzala. Inimagináveis em outro canto democrático e civilizado. Nem por isso perdemos a confiança, a partir de uma escolha de vida feita em nome da estética e da ética, e ao aceitar os riscos inerentes. Vamos pelo nosso caminho, e agora alargamos vigorosamente o passo. Algum dia a casa-grande e a senzala serão demolidas e o Brasil terá o destino que merece. Talvez venha a se parecer com o paraíso terrestre vaticinado por Américo Vespucci.
Razões não faltam a justificar a confiança do Brasil. Certos números hoje falam claro, bem ao contrário do que se dava durante a ditadura, quando Geisel definia o País como “ilha de prosperidade” em meio à crise do choque do petróleo. Confiança houve em outros momentos, devida, porém, à índole otimista e um tanto festiva do povo brasileiro. Nos últimos dez anos ocorreram mudanças sensíveis a motivar os humores positivos da maioria graças ao enfrentamento da decisiva questão social.
Sabemos que os governos de Lula e Dilma conseguiram melhorar a vida de muitos brasileiros, daí a maior consistência dos motivos da confiança, como esclarece a reportagem de capa desta edição confiante. Não é que não soframos as consequências do desastre provocado mundialmente pela prepotência neoliberal, mas na moldura global gozamos de uma condição privilegiada.Basta comparar com os dias amargos vividos pelo ex-Primeiro Mundo.
P.S.: Acho que Oliviero Toscani, o celebrado fotógrafo da publicidade Benetton, deveria ter colhido imagens em Bangladesh no dia do desastre que matou centenas de pessoas. Para entender a sugestão, leiam o texto de Antonio Luiz M. C. Costa, páginas 66, 67 e 68.