segunda-feira, novembro 11, 2024
InícioAmérica LatinaSetembro: é importante lembrar os golpes em Allende e Perón

Setembro: é importante lembrar os golpes em Allende e Perón

Por FC Leite Filho

Autor de Quem tem Medo de Hugo Chávez

Os chilenos choram, neste 11 de setembro seus 40 mil mortos, o desmantelamento da educação, da saúde e da indústria, que ainda faz do salário médio ser dos mais baixos do mundo. Em nome da democracia e do moralismo, que dizia estar então sufocados, o general Augusto Pinochet, na crista de uma cruzada midiática nacional e internacional, montou uma ditadura militar e econômica, que começou com a morte do presidente socialista Salvador Allende, em pleno Palácio La Moneda. Passados exatos 40 anos do Golpe de 73 e mesmo tendo alcançada a democracia formal, desde 1988, o Chile ainda se encontra submetido ao mais draconiano neoliberalismo, como atestam as manifestações diárias de estudantes, trabalhadores, funcionários públicos e profissionais liberais.

Já a Argentina pós-peronista, sobretudo na última década dos Kirchner (Néstor e Cristina), soube se desvencilhar dessas amarras e parte para o desenvolvimento autônomo com inclusão social. Para entender esse processo, é importante recordar que, num mesmo mês de setembro, dia 16 e ano 1955, outro presidente progressista, o argentino Juan Domingo Perón, um general, mas eleito democraticamente em 1946 e 1952, foi deposto pela mesma sanguinária maré midiática, autodenominada “Revolução Libertadora” e sustentada pelos Estados Unidos, que um ano antes tinha derrocado o nacionalista brasileiro Getúlio Vargas.

É incontável o número de mortos desta primeira ditadura antiperonista (houve mais três depois dela): o massacre começou com três meses de antecedência do afastamento do general. Em artigo de 20 de setembro de 2011, eu alinhava alguns fatos, para o Café na Política: “Em 11 de junho daquele ano, dia de Corpus Christi, a igreja promoveu imensa manifestação popular nas ruas das principais cidades, principalmente na capital, Buenos Aires, para pregar a derrocada do governo. Pouco mais tarde, o Papa Pio XII decretaria a excomunhão de Perón, uma punição altamente temida, na época. Para responder à manifestação católica, os peronistas convocaram uma marcha sobre a Plaza de Mayo, em frente à Casa Rosada, sede do governo.

————————

Depois que Salvador Allende assumiu o governo, em novembro de 1970, Fidel Castro fez uma longa viagem de três semanas pelo Chile, em que conversou longamente, sobretudo com Allende. Para fugir das imagens duras do suicídio e do bombardeio do Palácio La Moneda, o jornalista Pedro Brieger, da TV Pública da Argentina, o velho Canal 7, em que aborda um Allende descontraído e um Fidel, ainda jovem, nos seus 45 anos, falando sobre as perspectivas da América Latina. Veja o vídeo abaixo:

————————

Vídeo: Primeira entrevista de Cristina Kirchner em 4 anos (14/09/2013)

“Os golpistas, então já enquistados nos quartéis, particularmente da Marinha, a arma considerada mais elitista, despacharam 30 aviões para despejar 20 toneladas de bombas sobre a multidão, matando 364 pessoas e ferindo outras 700. Uma das bombas caiu sobre um bonde repleto de estudantes do 1o. grau, dizimando 40 crianças. Era o começo do golpe que iria desembocar nos levantes de 16 a 20 de setembro, matando outras 1.700 pessoas, bombardeando refinarias de petróleo e outros símbolos do nacionalismo, fatos determinantes do afastamento do presidente Juan Perón, que se asilou no Paraguai”. O artigo que escrevi na época tinha como propósito analisar a reeleição da presidenta Cristina Kirchner, concretizada em uma peronista convicta, e quão atual se mantinha o ideal daquele presidente, chamado de “ditador”e “corrupto” pela mesma mídia cujas campanhas resultaram naqueles morticínios.
Dizia eu que, ao contrário do Chile, a Argentina, a partir dos governos de Néstor e Cristina, iniciados em 2003, juntamente com outros presidentes progressistas da América Latina, o país voltou a se industrializar, o índice de desemprego caiu de 25% para 7%, os aposentados pasaaram a ter pensões mais dignas  e o desenvolvimento econômico, com inclusão, manteve-se num patamar médio de 7% (Acompanhe nos links abaixo os bombardeios e massacres da Plaza de Maio).
Massacre da Plaza de Mayo
– A Revolução Fuziladora
Vídeo: A economia peronista

No mesmo artigo, também me referia ao legado de Perón: “Ao ser eleito presidente, com 56% dos votos, em 1946, Perón estatizou a rede ferroviária, a produção de gás, o Banco Central, a telefonia e empresas de eletricidade. A nova orientação política, com a regulamentação das importações, fez a indústria crescer, enquanto o emprego e os salários se multiplicaram, graças ao aumento do consumo. O salário mínimo passou a ser um dos mais altos do mundo, inclusive desenvolvido. Os trabalhadores, tanto do campo quanto das cidades, conquistaram direitos a aposentadoria, férias remuneradas, seguro médico e cobertura para os acidentes de trabalho.
“A mulher passou a ter direitos iguais aos dos homens, sobretudo no trabalho, naquele país em que elas não podiam sequer votar. Paralelamente, o governo industrializou o país com um programa agressivo no campo econômico, através da política de substituição de importações, implementando da indústria leve e investindo fortemente na agricultura, em particular na plantação do trigo, principal produto de exportação. Para compensar a carência de divisas do setor primário, a administração nacionalizou o comércio exterior, criando para isso, o Instituto Argentino de Promoção e Intercâmbio, mecanismo que propiciou recursos para as empresas, com ênfase na área da indústria pesada (siderurgia e geração de energia elétrica). O programa de educação e de saúde foi outra realização considerável do período. Era todo um arcabouço que permitiu ao país ingressar na área de alta tecnologia, inclusive com um projeto de desenvolvimento de energia a partir da fusão nuclear”.

Leia meu artigo de 20/09/2011

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
RELATED ARTICLES

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Most Popular

Recent Comments

PAULO ROBERTO DOS ANJOS OLIVEIRA on Próximo factoide: a prisão do Lula
cleonice pompilio ferreira on Golpe de 64: quando Kennedy chamou os militares
José rainha stedile lula da Silva Chávez on Projeto ditatorial de Macri já é emparedado nas ruas
maria teresa gonzalez perez on Crise e impasse institucional
maria teresa gonzalez perez on La Plata: formando um novo tipo de jornalista
maria teresa gonzalez perez on Maduro prepara Venezuela para a guerra civil
maria teresa gonzalez perez on Momentos emocionantes da apuração do 2o. turno
Pia Torres on Crítica do filme Argo
n_a_oliveira@hotmail.com on O que disse Lula a Mino Carta, meus destaques
José Gilbert Arruda Martins on Privatizações, novo filme de Sílvio Tendler
Maria Amélia dos Santos on Governador denuncia golpe em eleição
Prada outlet uk online on Kennedy e seu assassinato há 50 anos
http://www.barakaventures.com/buy-cheap-nba-indiana-pacers-iphone-5s-5-case-online/ on Oliver Stone em dois documentários sobre Chávez
marcos andré seraphini barcellos on Videoentrevista: Calos Lupi fala do “Volta Lula”
carlos gonçalves trez on Crítica do filme O Artista
miriam bigio on E o Brasil descobre o Oman
Rosana Gualda Sanches on Dez anos sem Darcy Ribeiro
leitefo on O Blogueiro
Suzana Munhoz on O Blogueiro
hamid amini on As razões do Irã
leitefo on O Blogueiro
JOSÉ CARLOS WERNECK on O Blogueiro
emidio cavalcanti on Entrevista com Hermano Alves
Sergio Rubem Coutinho Corrêa on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola
Stephanie - Editora Saraiva on Lançamento: Existe vida sem poesia?
Mércia Fabiana Regis Dias on Entrevista: Deputada Luciana Genro
Nielsen Nunes de Carvalho on Entrevista: Deputada Luciana Genro
Rosivaldo Alves Pereira on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola
filadelfo borges de lima on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola