Por Beto Almeida (*)
O ano de 1979 sacudiu de modo veemente o planeta e a história com duas revoluções, a Sandinista, na Nicarágua, atualizando dialeticamente os ideais de Augusto Sandino, e a Revolução Islâmica do Irã, surpreendendo os que apegam-se, na esquerda ou na academia, a manuais escolásticos da política e da interpretação da história.
A humanidade inventa revoluções atendendo às necessidades da história. E, ainda quando não existam as direções preparadas para realiza-las, as revoluções ocorrem, inventam-se direções que tornam-se aptas para a realização dos mais elevados ideais da civilização humana, ou das aspirações de cada povo , ainda que não tivessem, aparentemente, aquela função específica.
Assim, revoluções são lideradas por militares, com a Bolivariana de Hugo Chávez, ou os capitães da Revolução dos Cravos em Portugal, ou a Revolução Inca, liderada pelo General Juan Velasco Alvarado no Peru.
Ou são conduzidas por equipes de religiosos, como a Revolução Islâmica do Irã, liderada pelo Aiatolá Khomeini, representando a necessidade de ruptura com o regime social brutal, desumano e retrógado, do Xá Reza Pahlevi, sempre apoiado pelas “democracias ocidentais” imperialistas como a Inglaterra, os EUA , dispostas até mesmo a fornecer àquele ditador a tecnologia da bomba nuclear. Quanta hipocrisia dos que se auto intitulam donos do mundo e campeões de democracia.!
Uma revolução quando se faz necessidade incontível da história, pode surgir ou num quartel ou numa mesquita.
Assim sendo, é preciso registrar a imensa vitória da Revolução Iraniana ao alcançar os seus 37 anos daquela vitória inesquecível de 11 de fevereiro de 1979, quando sob a liderança de Khomeini as massas iranianas, homens e mulheres, jovens e anciãos, assombraram o mundo com heroísmo infinito e coragem para avançar como um maremoto que arrebentava as travas da história, desenhando outro destino para o sábio povo persa e , também, para aquela região e projetando outro papel do Irã no mundo.
O novo papel do Irã no mundo
Para os céticos dos alcances transformadores daquela Revolução, basta lembrar que o Irã era uma peça do império anglo-saxão naquela região, e hoje é um país chave na destacada aliança anti-imperialista que junta a Rússia, a China, o Hezbollah, para defender a Síria da tentativa de esquartejamento, promovida pelos EUA, tal como já fora feito na Yugoslávia ou na Líbia, neste caso com o apoio de uma espantosa “esquerda otanista” francesa.
A invenção macabra do Estado Islâmico, treinada por militares dos EUA em vários países daquela região, vem sendo contida graças a uma ruptura de Putin com a diplomacia negligente de Medvedev que , junto com a China, lavou as mãos e permitiu que centenas de milhares de vidas do povo líbio fossem perdidas pela guerra imperialista da Otan, demolindo aquela nação árabe que havia alcançado os mais elevados indicadores humanos de toda a África. Mas, para esta barreira de contenção, Putin conta, hoje, com as forças que se levantam em defesa do progresso da civilização humana – e não há outro modo de caminhar que o anti-imperialista – no que o Irã cumpre papel decisivo.
Vencendo sabotagens
Os 37 anos de resistência iraniana às sabotagens e ameaças do império sempre foram escondidos ou deformados pelo desprezo editorial que a grande mídia capitalista internacional despejou sobre o Irã, junto com agressões e bombas dos países que se reivindicam democráticos. O Irã foi capaz de resistir e vencer uma guerra de 8 anos contra o Iraque, então atuando perversamente como peão de seu próprio carrasco. Hoje, Irã e Iraque constroem uma relação de cooperação, de parceria, de solidariedade, entre si, à Causa Palestina, e também estão juntos em defesa da Síria, em colaboração com a Rússia de Putin. Uma grande derrota estratégica do império!
A dialética do chador
Naquela guerra contra o Iraque, o Irã teve inventar sua própria indústria de defesa, sem ter os meios financeiros adequados para tanto, já que desde 11 de fevereiro de 1979, as reservas financeiras internacionais iranianas, mais de 100 bilhões de dólares, foram ilegalmente sequestradas e bloqueadas pela “democracia ocidental”. Tal como inventou uma direção religiosa exercendo uma criativa dialética do chador, que surpreendeu a parte mais escolástica e mecanicista da forças de esquerda, o irã também foi capaz de nacionalizar totalmente sua indústria petroleira, sustentada por um eficiente desenvolvimento científico e tecnológico próprio, de tal forma que hoje, aquela indústria, que era praticamente dirigida por técnicos ingleses, não possui mais um único operador estrangeiro e registrou em todos estes anos, sob sanções e sabotagens, progressos constante.
O esforço deletério da mídia teleguiada pelo capital internacional para destruir a imagem da Revolução Iraniana não impediu os avanços científicos, econômicos e sociais destes 37 anos de conquistas, mas , certamente, confundiu muitos segmentos sociais no mundo, inclusive nas filas da esquerda, A sabotagem informativa escondeu a tremenda cooperação energética do Irã com o Iraque mais recentemente; escondeu o desenvolvimento de um dos mais avançados programas de exploração espacial, inclusive com o lançamento de naves siderais pilotadas por cosmonautas persas. Pouco se sabe que a solidariedade do Irã à Palestina é um programa de estado para a Revolução Islâmica, uma das primeiras decisões do Aiatolá Khomeini, antecedendo em muitos anos o que governos populares como os do Brasil, Venezuela, Bolívia, Equador, só puderam efetivar há pouco tempo.
Desinformação
Diante da volumosa distorção informativa contra a nação persa, quase não há visibilidade para se saber que hoje, de cada 5 medicamentos usados em todo o mundo, pelo menos um é de fabricação iraniana, revelando uma potente indústria farmacêutica, com tecnologias próprias, o que também se revela na existência de indústrias naval, ferroviária, aeronáutica e bélica, também resultado de progresso tecnológico nacional.
É simbólico o aprisionamento recente de marinheiros dos EUA que, ilegalmente, transitavam por mar territorial iraniano. Frente à firmeza da guarda costeira do Irã, ciosa de sua soberania, caíram em choro convulsivo, desmanchando de modo inversamente proporcional a arrogância imperial que exibem. O mesmo pode-se dizer da conduta firme dos militares iranianos que interceptaram um drone dos EUA, e, sem o destruir, reprogramaram seu voo, para que pousasse, obedientemente, em solo persa, obrigando o presidente Barack Obomba e solicitar, pateticamente, que o artefato fosse devolvido. “Primeiro peça desculpas ao povo do Irã”, disse o governo persa.
Petróleo, sem dólar
As operações financeiras do Irã, baseadas em arranjos monetários com Rússia, China e Índia, bem como o anúncio de que os persas farão, a partir de agora, todas as suas operações petroleiras em euros, afastando o dólar, são indicadores de um grau elevado de soberania que remonta ao heroísmo daquele maremoto rebelde incontível de 11 de fevereiro de 1979, que se manteve na resistência à agressão do Iraque em nome dos EUA, e que se manteve firme diante das sanções e das ameaças constantes, dos atentados terroristas, dos sequestros de cientistas nucleares iranianos, alguns deles assassinados pelo império ou seus sequazes sionistas.
Esta mesma firmeza, não impediu que ali – em território que guarda tesouro incalculável de civilizações milenares – florescesse um grande amor pela educação, pela arte, pela cultura, especialmente pela poesia, e ,também , um cinema que encanta o mundo com mensagens talentosas de humanismo, singeleza e que enobrecem a sétima arte, pelo o que tem sido constantemente premiado mundo afora.
Assim, lamentando que circulem no Brasil tão poucas informações objetivas sobre a nação persa e as conquistas de seu povo, termina-se esse registro de reconhecimento de 37 anos de vitórias iranianas contra o imperialismo, com uma sugestão aos leitores para que acessem o canal da televisão iraniana em espanhol onde, provavelmente, terão a oportunidade de se surpreender com um jornalismo construtivo, arrojado e corajoso., pelo site www.hispantv.ir .
(*) Beto Almeida
Membro do Diretório Estratégico da Telesur
11 de fevereiro de 2016
Parabéns pela análise, quando se fala em soberania, o país deve ser sempre lembrado é o IRÃ !