A Rússia e a Síria declaram-se otimistas com o cessar fogo acertado com os Estados Unidos, que se inicia à meia noite do dia 27, sexta-feira, quase cinco anos depois do início das hostilidades, em março de 2011. Enquanto a representante oficial do Ministério das Relações Exteriores russo, Maria Zakharova, previa, em Moscou, uma possibilidade real de resolver o conflito, em Brasília, o embaixador sírio Ghassan Nseir chamava os jornalistas para informar que seu país está preparado para conviver com a nova situação e receber de volta os refugidos.
Ghassan ressaltou que a Síria soube preservar sua infraestrutura produtiva e intelectual, por ter sido, antes da guerra e ao longo dela, quase autossuficiente: tanto em matéria alimentar, industrial, de educação, saúde e transportes, a ponto de ainda hoje, com o território dilacerado, conseguir manter em dia o pagamento dos serviços essenciais, na grande maioria estatais, inclusive de seus funcionários.
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Atualização: 26/02/2016 14h07m – Declaração Oficial do Governo da Síria sobre o Cessar fogo. Feja no final desta nota.
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Assim aparelhado, a Síria, como informou, já vem acolhendo milhares de refugiados, tanto civis como militantes, tanto nos territórios ocupados pelos inimigos, como aqueles que se debandaram para a Turquia e outros países, inclusive europeus. “Eles foram receptivos à política do presidente Assad, que garantiu sua integridade, desde que abandonassem as armas. Alguns deles foram reabsorvidos pelo exército e estão lutando ao nosso lado”.
Ele atribui o feito à organicidade do governo liderado pelo presidente Bashar Al-Assad, eleito diretamente pelo seu povo, apesar dos ataques diuturnos dos grupos terroristas, comandados pelos Estados Unidos, Europa, Arábia Saudita, à frente de uma coalizão de 108 países, cujo único objetivo, como frisou, “é destruir a Síria”. Neste ponto, Ghassan Nseir mostrou a importância da ajuda militar da Rússia, a qual, em apenas semanas de bombardeios aos terroristas do Estado Islâmico e da Al-Nusra, permitiu ao exército sírio reconquistar territórios-chaves que haviam passado para as trincheiras inimigas.
Na verdade, diz o embaixador no Brasil, o destino da Síria e da Rússia estão ligados intrinsecamente, por situar-se seu país num ponto estratégico, que o Ocidente pretende ver removido, como forma de facilitar o assalto sobre os campos do petróleo e viabilizar seu objetivo de dominar a Rússia e a China, os dois países que rivalizam os Estados Unidos, em termos de poder mundial.
Quando ao acordo de cessar-fogo, a iniciar-se na sexta-feira, Ghassan Nseir afirmou que tem a chancela direta da Rússia e dos Estados Unidos, que se comprometeram, juntamente com a Síria, a aplicar punições aos grupos revoltosos que violarem o acerto. A Rússia já entregou a Washington um mapa daqueles que firmaram o acordo e aqueles que não firmaram. O Estado Islâmico e o grupo Al-Nusra e outros menores, classificados de terroristas pela ONU, estão fora do cessar-fogo e por isso continuarão a ser atacados, tanto pela Rússia, como Síria e Estados Unidos.
Quanto à posição da Turquia e da Arábia Saudita, que chegaram a ameaçar a invadir a Síria com tropas terrestres, o embaixador sírio, ironizou que os suaditas, que, como exemplificou, “não produzem sequer um agulha, e têm uma população faminta”, precisam resolver primeiro o conflito do Iemen, onde suas tropas estão atoladas em encarniçados combates.
Sobre a Turquia, Ghassan, disse que esta, apesar de ter sequestrado as principais indústrias de Alepo, cidade que está em vias de libertação, graças à ajuda russa, transportando-as para seu território, vai ter de se contentar com a nova situação ditada pelo cessar-fogo, sob pena de submergir em outro lodaçal.
Ghassan falou aos jornalistas, em gravação realizada pela TV Cidade Livre de Brasília, Canal 12 da NET (só Brasília), lá representada pelo seu presidente, Beto Almeida, também correspondente da Telesur, e os repórteres FC Leite Filho, do blog cafenapolitica.com.br, César Fonseca, do site independenciasulamericana.com.br, e Paolo De Santis, do italiano pandoratv.it.
Rússia, pela Agência Suptnik – Moscou acredita que é real a possibilidade de resolver o conflito na Síria, disse a representante oficial do Ministério das Relações Exteriores russo, Maria Zakharova, durante a entrevista coletiva da chancelaria russa na quinta-feira (25).
Ressaltou que militares russos e americanos definirão juntos os territórios sem combates na Síria.
Ela se referiu a comentários das autoridades norte-americanas em relação ao acordo – “parecem uma sabotagem”, – mas ressalvou que os Estados Unidos” souberam observar seus limites e o trabalho conjunto sobre uma trégua está continuando”.
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DECLARAÇÃO DO GOVERNO DA SÍRIA
Partindo da decisão da República Árabe da Síria em aprovar o cessar das ações militares e do combate ao terrorismo, da vontade de consolidar as conciliações nacionais, de incentivar todos os filhos da pátria a restaurar sua segurança e sua estabilidade, de acabar com o terrorismo, de reconstruir e construir uma Síria renovada, unida e integrada em seu território e com o seu povo, de preservar a sua soberania e a sua decisão nacional independente, apela a todos os que zelam pela integridade do povo e dos territórios da Síria, tanto os filhos de sua pátria, cidadãos honrados, quanto os amigos nas entidades e ligas de expatriados e partidos políticos amigos a apoiar os esforços da República Árabe da Síria, neste sentido, através de todas as áreas, meios de comunicação e meios de contato possíveis.
O objetivo é incentivar a todos os envolvidos a depor suas armas ilegais, a apoiar a posição nacional e os esforços de conciliação nacional, a fim de preservar as vidas dos filhos do povo sírio, a integridade dos territórios sírios, combater e acabar com o terrorismo.
Isso baseado no fato de que a conciliação nacional é o meio de preservar o povo sírio e é o meio de curar suas feridas, acabar com o seu refúgio e devolvê-los com segurança aos seus lares. É o meio de acabar com o terrorismo. A conciliação nacional é a alternativa para preservar a integridade da Síria. A conciliação nacional é o meio para que os sírios enfrentem o terrorismo. A consolidação da conciliação nacional é o início da jornada, rumo à segurança e à reconstrução. De mãos dadas, todos juntos, reconstruiremos a nossa Síria.
Convidamos cada cidadão honrado e cada amigo a apoiar os esforços de conciliação na Síria, unidos sob uma só bandeira, cada um conforme suas possibilidades, a começar por si mesmo e a incentivar estes esforços através dos meios de comunicação e através das redes sociais, conforme a capacidade de cada um.
Juntos, poderemos restaurar a paz e a segurança na Síria, berço da civilização mundial.
Fonte: Embaixada da República Árabe da Síria
Tradução: Jihan Arar