sábado, setembro 21, 2024
InícioAmérica LatinaA Venezuela e o Mercosul, na visão de Humberto Gómez

A Venezuela e o Mercosul, na visão de Humberto Gómez

O sociólogo e historiador Humberto Gómez García analisa, neste artigo, as conspirações da direita do Paraguai e de seu próprio país, a Venezuela, para travar, durante longos e intermináveis oito anos, o ingresso do país petroleiro no Mercosul. Tudo isto porque, segundo ele, os conservadores não entenderam os novos tempos da América do Sul e seus governos progressistas voltados para a ascensão social e econIomica de seus povos.

O novo Mercosul com a Venezuela
Por Humberto Gómez García
Finalmente, depois de uma longa luta e paciente espera, a Venezuela ingressou como membro pleno no Mercosul e o fez pela porta grande, com a dignidade que caracteriza nosso governo revolucionário e depois do que poderíamos considerar uma impecável manobra plítica contra a oligarquia paraguaia e seus mentores sionistas e do governo norte-americano, por parte dos governos progressistas e de esquerda do Brasil, Argentina e Uruguai.
Fica evidente que a oligarquia paraguaia e o tiro dos senadores que durante seis anos freiaram e obstaculizaram o ingresso venezuelano no Mercosul saiu pela culatra. De uma assombrosa miopia política e um ódio visceral contra a Venzuela, seu governo e o líder da revolução Hugo Chávez, a direita fascista paraguaia, ao derrocar o presidente Lugo, evidentemente, tramava diretamente contra nosso país e trancava sua entrada no organismo.
Desatentos da realidade política que vive a América do Sul, os golpistas calcularam que sua cavilosa ação contra a nascente democracia paraguaia não teria a transcendência política que teve, começando com o seu isolamento diplomático por parte de praticamente todos os os governos que não o reconheceram, e sua suspensão da Unasul e do Mercosul.

Mas a ignomínia golpista não terminava aí, a saída do Paraguai do Mercosul significou, ipso facto, o ingresso, por maioria e unanimidade, da Venezuela no Mercosul. Tamanha dinâmica política, de impecável procedimento dos três governos que controlam a entidade é demonstrativa dos novos tempos políticos que vive nosso continente americano.
Essa decisão de abrir de imediato a entrada da Venezuela depois da saída dos golpistas gorilas paraguaios encerra evidentemente um ciclo de luta anti-imperialista dos setores nacionalistas e populares, que começou em Quebec, em 2001, quando apenas Chávez, presidente da Venezuela, e chefe do nascente governo bolivariano, votou, na Cúpula das Américas, contra a criação da ALCA, monstrengo colonialista proposto pelo genocida Bush, então presidente dos Estados Unidos. A arrogância imperial impôs inclusive uma data de nascimento do infame pacto, onde uma vez mais, o tubarão engoliria a sardinha latino-americana, se a agressão não fosse enfrentada: o ano de 2005.
É preciso analisar o histórico latino-americano entre o ano 2000, quando surgiu a proposta a ALCA, e o de 2005, quando foi abortada na Cúpula das Américas de Mar Del Plata, na Argentina, em que a dignidade e a coragem do presidente Néstor Kirchner, que enfrentou o presidente Bush e não se deixou intimidar pelo chefe imperial, ali morrendo a estratégia econômica de maior vulto preparada pelos governantes norte-americanos para garrotear a América Latina.
Neste 2005, o Brasil era governado pelo líder sindicalista Lula da Silva; no Uruguai, Tabaré Vaázquez; na Argentina, Néstor Kirchner; no Paraguai, Nicanor Duarte, e, na Venezuela, Chávez havia vencido o referendo revocatório que lhe preparou a direita opositora. Esse formidável quinteto político liderou o assalto contra a Alca e o resto dos governos complacentes e submissos com o império yanki (Colômbia, Chile, Peru e México, fundamentalmente) nada puderam fazer para impedir o desmanche da proposta imperial .
Onde se entricheiravam o império e as oligarburguesias desses países que não só temem a proposta do Mercosul controlado por governos esquerdistas como o ingresso com direitos plenos da caudal revolucionária de Chávez?
Num grupúsculo integrado por senadores oligarcas paraguaios, que, circunstancialmente, têm a maioria no Senado, trancaram, vetaram eobstaculizam por anos com pretextos, mentiras, chantagens, tentativas de suborno e corrupção a ansiada e esperada vinda da Venezuela para o Mercado Comum do Sul. Ao redor desse grupelho de politiqueiros corruptos se aninhavam os setores mais reacionários e retardatários da América, incondicionais sequazes do governo norte-americano, o do criminoso Bush e do “prêmio nobel da guerra” Obama.
Tipos sinistros como Leopoldo López, o próprio Capriles Radonski e outros fascistas venezuelanos representantes da burguesia submissa fizeram lobby junto aos senadores paraguaios para que não mudassem de posição. Pode-se mesmo cogitar que senadores da oligarquia venezueana conheciam de antemão a trama golpista contra Lugo e puderam colocar seu “grão de areia” o golpista, pois, no final, ambas as oligarquias são iguais na pequenez política e ambas tem um ódio xipófago contra Chávez e seu governo.
O golpe contra o débil governo de Fernando Lugo, disfarçado de julgamento político e só foi possível por causa da falta de apoio popular e da evidente debilidade da cultura democrática em importantes setores da sociedade que se deixaram levar e não o enfrentaram, ferindo com sua conduta covarde a proposta de abertura democrática iniciada pelo presidente Duarte e continuada por Lugo. Se tivesse havido uma mobilização popular mais contundente e se tivesse sensibilizado setores do exército, com certeza se evitaria a penúria econômica que a realidade política do isolamento latino-americano impõe aos golpistas e ao fantoche Franco.
O Mercosul em que ingressa a Venezuela não é o mesmo de 10 anos atrás, mudaram os tempos. É a época da ascensão das massas que, com seu protagonismo político, derrubaram governos neoliberais prostrados ante o imperialismo na Argentina, Equador, Bolívia e mudaram o curso de sua própria história. São a ascensão da esquerda e das incipientes revoluções socialistas na América do Sul (Venezuela, Bolívia e Equador), encabeçadas pela revolução bolivariana e Hugo Chávez, governos progressistas de esquerda no Brasil, Argentina e Uruguai; a derrota em cada realidade nacional do neoliberalismo, o nascimento de novas propostas econômicas de profundo caráter social, de democracias participativas e protagônicas, o empuxo na educação e sua massificação; os intercâmbios tecnológicos e a fortaleza energética da Venezuela (da qual carece em boa parte os países gigantes do Sul: Brasil e Argentina); o debilitamento do capitalismo selvagem e a perda hegemônica dos Estados Unidos do Norte do que ontem foi o seu quintal
Assim, a vinda da Venezuela para o Mercosul ocorre numa nova realidade histórica, tendo como base a aliança de poderosíssimas forças políticas e econômicas que levam a presidenta brasileira que agora aquele organismo é a quinta economia do mundo. Chávez não se equivocou ao propor o ingresso da Venezuela (futura potência regional). Sua visão estratégica foi coroada com uma contundente vitóriae uma medalha de ouro.

Caracas, 02/08/12
humbertocaracola@gmail.com
(A ilustração acima é do site joaoboscoleal.com.br)

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
RELATED ARTICLES

1 COMENTÁRIO

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Most Popular

Recent Comments

PAULO ROBERTO DOS ANJOS OLIVEIRA on Próximo factoide: a prisão do Lula
cleonice pompilio ferreira on Golpe de 64: quando Kennedy chamou os militares
José rainha stedile lula da Silva Chávez on Projeto ditatorial de Macri já é emparedado nas ruas
maria teresa gonzalez perez on Crise e impasse institucional
maria teresa gonzalez perez on La Plata: formando um novo tipo de jornalista
maria teresa gonzalez perez on Maduro prepara Venezuela para a guerra civil
maria teresa gonzalez perez on Momentos emocionantes da apuração do 2o. turno
Pia Torres on Crítica do filme Argo
n_a_oliveira@hotmail.com on O que disse Lula a Mino Carta, meus destaques
José Gilbert Arruda Martins on Privatizações, novo filme de Sílvio Tendler
Maria Amélia dos Santos on Governador denuncia golpe em eleição
Prada outlet uk online on Kennedy e seu assassinato há 50 anos
http://www.barakaventures.com/buy-cheap-nba-indiana-pacers-iphone-5s-5-case-online/ on Oliver Stone em dois documentários sobre Chávez
marcos andré seraphini barcellos on Videoentrevista: Calos Lupi fala do “Volta Lula”
carlos gonçalves trez on Crítica do filme O Artista
miriam bigio on E o Brasil descobre o Oman
Rosana Gualda Sanches on Dez anos sem Darcy Ribeiro
leitefo on O Blogueiro
Suzana Munhoz on O Blogueiro
hamid amini on As razões do Irã
leitefo on O Blogueiro
JOSÉ CARLOS WERNECK on O Blogueiro
emidio cavalcanti on Entrevista com Hermano Alves
Sergio Rubem Coutinho Corrêa on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola
Stephanie - Editora Saraiva on Lançamento: Existe vida sem poesia?
Mércia Fabiana Regis Dias on Entrevista: Deputada Luciana Genro
Nielsen Nunes de Carvalho on Entrevista: Deputada Luciana Genro
Rosivaldo Alves Pereira on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola
filadelfo borges de lima on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola