domingo, novembro 10, 2024
InícioAmérica LatinaAL: os boatos já não desestabilizam nem derrubam governos

AL: os boatos já não desestabilizam nem derrubam governos

Por mais refinados que se apresentem, os laboratórios já não produzem, como no passado, boatos capazes de desestabilizar ou derrubar governos. Prova disso é a situação do presidente Hugo Chávez, que continua governando do leito do hospital, na sofrida Cuba. Outro exemplo de resistência são os da presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, vítima das mais esdrúxulas conspirações internacionais, e das intrigas e falsos escândalos contra o ex-presidente Lula, do Brasil, e sua sucessora Dilma Rousseff, que continuam cada vez mais populares. Em anos não muito remotos boatos como o chamado “mar de lama” e outros de igual calibre, tombaram presidentes constitucionais, como Getúlio Vargas, em 1954, Juan Domingo Perón, em 1955, João Goulart, em 1964, e Salvador Allende, em 1973, e o próprio Chávez, por 48 horas, em 2002.

A força do boato, com efeito, não está apenas no seu potencial de bisbilhotice mas na preparação do terreno para provocar ou induzir golpes de estado, a partir da geração do pânico na população ou em seus setores mais influentes, como o empresariado as forças armadas ou a opinião pública. No caso de Chávez, por exemplo, quando o jornal ABC, da Espanha, ou o médico venezuelano radicado em Miami, José Rafael Marquina, dizem que o presidente “está em coma”, “entubado” ou “respirando por aparelhos”, o objetivo é causar inquietação e desconfiança entre os venezuelanos, para que estes se revoltem e botem abaixo o regime. Como os boatos são difundidos massivamente e com grande estardalhaço pelos meios privados de comunicação, eles criam uma impressão inicial, sobretudo nas pessoas menos avisadas, que só têm a TV, o rádio e os jornais, como fontes noticiosas, de que o governo está caindo de podre.

Por outro lado, os boatos nunca vêm desacompanhados, pois são desencadeados a partir de estratégias mais amplas, que incluem, desde a suspensão de financiamentos internacionais, destinados a asfixiar economicamente os governos, como a sentença de um juiz de Nova York mandando o governo de Cristina Kirchner a pagar títulos podres, como ações predatórias, de que são exemplos os saques e pilhagens nos supermercados e postos de gasolina, em 11 províncias da Argentina, na véspera do último natal. Na Venezuela, o forte apoio da população e o rígido controle governamental, através da atuação dos serviços de inteligência, hoje considerados, junto com os de Cuba e de Israel, como dos mais eficientes do mundo, além da riqueza do petróleo, têm impedido esta ação desestabilizadora. Não obstante, a disseminação dos rumores pela mídia hegemônica comercial, que detém cerca de 90% da audiência, apesar do avanço na comunicação popular do governo, tem obrigado o governo a ficar cada vez mai alerta e respaldar-se no apoio da população. Este teve que convocar a manifestação do dia 10 de janeiro, que lotou o centro de Caracas com mais de 800 mil pessoas.

Na verdade, esta manifestação foi provocada pela exortação a uma greve geral, a partir de exilados do regime, em Miami, nos Estados Unidos, e do apelo de líderes oposicionistas, em Caracas, visando a uma intervenção das forças armadas com o fim de abortar, naquele mesmo dia 10 de janeiro, o início do novo mandato de seis anos de Hugo Chávez, para o qual este foi eleito com 55%, no último sete de outubro. Os chavistas detectaram que se formava uma nova conspiração, com base na intensa onda de rumores, nos moldes da que havia deposto o mesmo Hugo Chávez, em 11 de abril de 2002, mas que foi derrotada pelo povo nas ruas, responsável pela sua restituição ao poder, em menos de 48 horas após instalado o governo golpista do empresário Pedro Carmona.

Na Argentina, a forte liderança da presidenta Cristina Kirchner debelou os saques em menos de três dias e sua ação internacional suspendeu a sentença do juiz de Nova York e providenciou aliberação da fragata Libertad, apreendida por ordem dos chamados fundos abutres (buitres, em espanhol). Cristina disse a propósito dos saques que se tratou de uma “versão decadente e uma má cópia” das pilhagens que derrubaram cinco presidentes em menos de um mês, na crise econômica de 2001. Sobre a volta da fragata Libertad, um navio ecola que viajava havia mais de seis meses por diversos países, disse ser agora, mais do que nunca, a hora de proclamar: “Pátria, sim, colônia não”. No Brasil, Lula e Dilma, que têm um estilo menos confrontador que Cristina e Chávez, têm surfado tranquilos nas águas turvas, toldadas pelos boataria, inclusive porque muito deles não resistem à própria dinâmica do noticiário. O último dels foi a história do racionamento, também desmoralizado pela sua não concretização.
(Ilustração da http://midiaeducacao.com.br/?p=4654)

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
RELATED ARTICLES

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Most Popular

Recent Comments

PAULO ROBERTO DOS ANJOS OLIVEIRA on Próximo factoide: a prisão do Lula
cleonice pompilio ferreira on Golpe de 64: quando Kennedy chamou os militares
José rainha stedile lula da Silva Chávez on Projeto ditatorial de Macri já é emparedado nas ruas
maria teresa gonzalez perez on Crise e impasse institucional
maria teresa gonzalez perez on La Plata: formando um novo tipo de jornalista
maria teresa gonzalez perez on Maduro prepara Venezuela para a guerra civil
maria teresa gonzalez perez on Momentos emocionantes da apuração do 2o. turno
Pia Torres on Crítica do filme Argo
n_a_oliveira@hotmail.com on O que disse Lula a Mino Carta, meus destaques
José Gilbert Arruda Martins on Privatizações, novo filme de Sílvio Tendler
Maria Amélia dos Santos on Governador denuncia golpe em eleição
Prada outlet uk online on Kennedy e seu assassinato há 50 anos
http://www.barakaventures.com/buy-cheap-nba-indiana-pacers-iphone-5s-5-case-online/ on Oliver Stone em dois documentários sobre Chávez
marcos andré seraphini barcellos on Videoentrevista: Calos Lupi fala do “Volta Lula”
carlos gonçalves trez on Crítica do filme O Artista
miriam bigio on E o Brasil descobre o Oman
Rosana Gualda Sanches on Dez anos sem Darcy Ribeiro
leitefo on O Blogueiro
Suzana Munhoz on O Blogueiro
hamid amini on As razões do Irã
leitefo on O Blogueiro
JOSÉ CARLOS WERNECK on O Blogueiro
emidio cavalcanti on Entrevista com Hermano Alves
Sergio Rubem Coutinho Corrêa on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola
Stephanie - Editora Saraiva on Lançamento: Existe vida sem poesia?
Mércia Fabiana Regis Dias on Entrevista: Deputada Luciana Genro
Nielsen Nunes de Carvalho on Entrevista: Deputada Luciana Genro
Rosivaldo Alves Pereira on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola
filadelfo borges de lima on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola