O empenho dos presidentes em servir-se do organismo como uma ferramenta eficaz para a integração e o desenvolvimento talvez seja o resultado mais concreto da II Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), realizada em Cuba em 28 de fevereiro. Mais até que a declaração de princípios, por sinal, muito avançada em termos de soberania, contida na Carta de Havana. Dos presidentes de centro direita Peña Nieto, do México, e Juan Manuel Santos, da Colômbia, aos dos nacionalistas e de esquerda Raul Castro, Nicolás Maduro, Cristina Kirchner e Dilma Rousseff, se observou uma determinação em romper a burocracia e estreitar a comunicação entre si para melhor encaminhar as várias pendências. Um acordo bilateral com a China foi aprovado enquanto os Estados Unidos se enfurececiam chamando a CELAC de traidora.
Videoentrevista com Beto Almeida, vindo de Cuba
O propósito é aumentar o intercâmbio e desenvolver a tecnologia para aproveitar adequadamente os recursos da região, rica em água doce, petróleo, energia e potencial alimentar com vistas a diminuir custos e competir internacionalmente como um bloco independente das grandes potências e suas transnacionais predatórias, consideradas responsáveis pelo atraso e a pobreza de seu povo. Esta é calculada pela CEPAL em 28%, ou seja 164 milhões de pessoas, das quais, como ressaltou o presidente de Cuba, Raul Castro, na abertura da reunião, 70% são crianças e adolescentes. Por esta razão, os presidentes enfatizaram a importância da segurança alimentar e nutricional, da educação e saúde, universal e gratuita, longe das privatizações pregadas pelos mercados.
Na verdade, a UNASUL, União das Nações Latino-Americanas, nascente da CELAC, já tinha demonstrado esta agilidade, em diferentes ocasiões: tentativas de golpe no Equador e na Bolívia e na suspensão do Paraguai, por causa da deposição do presidente Lugo, em 2011. Como foi lembrada em diferentes intervençøes desta segunda cúpula, tal agilidade foi fruto da comunicação permanente, por telefone ou contato pessoal, que então impelia o presidente Hugo Chávez com seus congêneres. É tal a prioridade do tema que o presidente do Uruguai, Pepe Mujica, defendeu, no que foi aplaudido pela maioria, a criação de um gabinete especial em cada governo, para, acima das chancelarias, cuidar diretamente da questão.
Entrevista com o presidente PepenMujica, pela rt.com
O espírito de coesão ficou igualmente marcado nas posições soberanas adotadas e constantes da Carta de Havana a rejeição às listas e certificações unilaterais (leia-se Estados Unidos), em particular as relativas a terrorismo, narcotráfico, tráfico de pessoas e outras similares como a que inclui Cuba na de Estados que promovem o terrorismo. Nesta linha, a CELAC também proclamou o caráter latino-americano e caribenho de Porto Rico ( “Estado Livre Associado aos Estados Unidos”) assim como o compromisso de trabalhar para que a região da América Latina e Caribe seja um território livre do colonialismo. Reiterou sua rejeição ao bloqueio estadunidense a Cuba e a dominação pela Inglaterra das Ilhas Malvinas, território da Argentina.
A reação dos Estados Unidos, potência habituada a mandar e desmandar nesses presidentes, foi imediata: “Estamos decepcionados que a Celac, em sua declaração final, tenha traído a dedicação aberta da região aos princípios democráticos, ao apoiar o sistema unipartidário em Cuba”, disse o porta-voz do Departamento de Estado, possivelmente agastado com o que “que significou o mais forte apoio da América Latina e do Caribe a Cuba desde 1959: os 33 chefes de Estado da região e líderes da Organização de Estados Americanos (OEA) e da ONU foram a Havana para a cúpula do organismo. No acordo mais simbólico do encontro, que terminou na quarta-feira, o presidente cubano, Raúl Castro, proclamou a América Latina e o Caribe como “zona de paz”.
Posição diametralmente oposta tomou a China, tendo o presidente Xi Jinping confirmado nesta sexta-feira (31) a disposição de seu país para fomentar o diálogo e a cooperação com a América Latina e o Caribe, mediante o foro bilateral aprovado pela (Celac). Em mensagens enviadas em separado aos presidentes de Cuba, Raúl Castro, e da Costa Rica, Laura Chinchilla (que assumiu a presidenta rotativa do organismo, antes ocupada por Cuba), o mandatário chinês expressou suas felicitações pelo êxito da reunião de cúpula.
Leia aqui a Declaração Final da II CELAC, em espanhol
A seguir os discursos principais da reunião de Havana:
Presidente Raul Castro, de Cuba
Dilma Rousseff
Cristina Kirchner, Argentina
Nicolas Maduro, Venezuela
Peña Nieto, México
Juan Manuel Santos