(Da enviada especial do Café na Política a Caracas Helena Iono) Ontem, domingo, 13/11/11, milhares de manifestantes marcharamem Caracas, vindos de várias partes da Venezuela em apoio ao Grande Polo Patriótico, aliança de partidos e movimentos sociais, que será a frente eleitoral do Hugo Chávez às próximas eleiçoes de 7 de outubro de 2012. A marcha teve 2 polos de concentração: um na praça Venezuela (central) e outra no bairro Catia (na zona oeste pobre, onde cresceu Chávez e fica o famoso bairro “23 de Enero” de grandes lutas de resistencia contra a ditadura de Pérez Jimenez).
Os dois cordões confluiram na praça Oleary (no bairro Silencio) onde pela primeira vez, depois de 6 meses da enfermidade, discursou Chávez ao ar livre, perante uma enorme multidão entusiasta. Após caminhar quase 3 km na marcha, filmando essa maré vermelha de gente entusiasmada, tomando depoimentos de jovens, velhos, operários de empresas socialistas, camponeses, sindicatos (da UNETE à nova Central Socialista dos Trabalhadores).
À frente, militantes do PSUV (Partido Socialista Unidos da Venezuela), PPT (seguidores do Manero, que cindiram entre apoiadores e opositores a Chávez), conselhos comunais, movimentos sociais de bairro, movimento de motociclistas, de cadeirantes….consegui chegar a este encontro histórico das massas com o seu dirigente Chávez, como sempre, cheio de fervor e paixão revolucionária.
Chávez anunciou que já aderiram 32.080 movimentos sociais e organizaçoes ao Grande Polo Patriótico. 52,7% de movimentos sociais e culturais, 15,7% são organismos produtivos, 13,5% organizações políticas (partidos), 9,6% organizações trabalhistas (sindicatos e comites vários) e 6,3% (outros). Insistiu na necessidade de que a formação do GPP respondesse não somente à necessidade de uma rede nacional, mas internacional.
Ele iniciou o discurso contextualizando numa situação mundial crítica. Disse que a crise mundial traz oportunidades, mas também riscos. Citou o alerta de Fidel aos riscos de uma guerra nuclear, de ataque de Israel e EUA ao Irã; defendeu a Síria (contra a Liga Árabe) e o Irã, recordando o que ocorreu na Líbia. Denunciou o submarino nuclear norte-americano que espiava águas territoriais venezuelanas (na 3a. feira passada); foram perseguidos pela marinha bolivariana, e desapareceram.
Falou várias vezes que o GPP deve servir de exemplo ao mundo, de instrumento a ser construido com apoio em bases populares. Disse que as APP (Assemblíeas Patrióticas Populares) na qual se baseará a Frente deve ser espaço de encontro, de debate e entendimento, não de rancores e desencontro, mas de unidade entre os contrários (citou Mao-Tsé-Tung). Para maio 2012 será convocada uma Assembléia Nacional do GPP com base em representantes populares. Atualmente 60% do eleitorado apoiaria o GPP, mas deu como meta que se consiga 80% nas ruas, e portanto 70% nas urnas.
Nova lei trabalhista – Nos últimos dias o governo está discutindo com os sindicatos uma nova lei habilitante trabalhista (segundo a última constituição, a lei habilitante é decreto presidencial) que permitirá ao trabalhador o pagamento retroativo de 10 anos de não pagamento devido a leis anteriores ao governo bolivariano.
Alem disso, acabou de ser aprovada uma lei (com aprovação da Assembléia Nacional) de controle dos aluguéis que favorecerá o inquilinato. Tudo isso, como parte da Gran Misión Vivienda (casas) que tem um plano de construcão de 350 mil casas populares programadas despois das enchentes do ano passado (das quais 80% já foram construídas, com apoio do governo iraniano e brasileiro. E o nossogoverno acaba de aprovar um convenio de fornecimento de tecnologia para construção de edifícios baixos e anti-sísmicos nos morros urbanos). Enfim, depois escreverei mais sobre o processo global, avanços, problemas e metas da revolução bolivariana. Mas, por enquanto, esta marcha de lançamento do GPP, socialista e antiimperialista (como fazem questão de sublinhar todos os movimentos populares de esquerda que o compõem) demonstrou não ser apenas uma espécie de início de embate eleitoral para 2012, mas um chamado a que o movimento social se mantenha organizado, que o PSUV se enraize nas bases. Que a corrupção e o burocratismo sejam superados, que os conselhos comunais, as comunas, os sindicatos, comecem a descer em campo porque além da vitória eleitoral de Chávez em 2012. É preciso assegurar o poder popular, operário-camponês, a resistência, as milícias, as Forças Armadas Revolucionárias porque a direita (dividida, debilitada, agitando consignias ridículas como o de Maria Corina (por um “capitalismo popular” em oposição ao socialismo) quando na Europa e nos EUA o capitalismo globalizado está sem horizontes, colapsando). Na verdade, a oposição é estimulada por forças do Pentágono, para-militares, sempre apelando para a via golpista, antes de 7 de outubro de 2012, como fizeram na Líbia e pretendem fazê-lo na Síria e no Irã.
Chávez de cabelos novos – O recado de Chávez, essa figura política, revolucionária e profundamente humana (fundamental para a Venezuela, para A.Latina e o mundo), autocrítico (até pediu desculpas por erros que tenham sido cometidos), foi, além de anunciar seus novos fios de cabelo que reaparecem, denotando depois do câncer. Demonstrou estar se recuperando. E cantou, dançou e deu juras de dedicar sua vida ao povo venezuelano, à revolução bolivariana e ao socialismo internacional. Por fim, alertou o povo para se manter organizado, em pé de luta, porque os tempos são promissores, “mas duros”. Até a vitória e sempre!
PS – Aqui, a compreensão dos manifestantes de que os meios de comunicação são fundamentais é grande. Todos vinham na minha direção, se punham diante da camerazinha e pediam para dar declarações. Só que muitos pensavam que eu vinha da China. E terminavam com: “Viva a cooperação China-Venezuela !!”E eu lhes esclarecia dizendo que eu era brasileira (com ascendência japonesa). Então, acrescentavam: “Viva Lula !!!”
Veja também:
Vídeo e texto com cobertura completa da Marcha (Aporrea.or).