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Crítica do filme "A Troca"

(Publicado originalmente em Ter, 13 de Janeiro de 2009 10:05)

Por Reynaldo Domingos Ferreira
 
Ao abordar, em A Troca, dois temas que mais o atingem emocionalmente – violência contra crianças e corrupção policial – Clint Eastwood faz sutil referência à mudança que pode se operar nos EUA, após o dia vinte deste mês, com a posse de um novo presidente, Barak H.
 
Obama, em busca do pleno estado de direito, o que fica positivado principalmente pela última frase proferida pela protagonista Christine Collins (Angelina Jolie) : – Eu tenho esperança!…
Assim, o título original do filme deve ser interpretado mais no sentido de mudança do que de permuta, uma vez que a sra. Collins, além de sofrer no plano individual um forte abalo pelo desaparecimento do filho – o que seria uma alusão aos efeitos do atentado terrorista de 11 de setembro de 2001 sobre a vida do cidadão americano -, se torna vítima da arbitrariedade policial, posta a cobro, ao final, pela prevalência da justiça.
Sobre esse aspeto político da película, que em nenhum momento, entretanto, resvala para o conceitual, há uma frase bastante elucidativa de uma das personagens, dita no decorrer da ação: – Lá fora está chovendo canivetes e democratas!…Sob o aspeto estético também Eastwood usa o vaivém dos bondes pelas ruas de Los Angeles – magnificamente reconstituída em suas características urbanas na década de trinta – para mostrar como o indivíduo é levado, no estado republicano, democrático, ao léu da sorte sob o jugo dos mais comezinhos interesses eleitoreiros dos políticos.
Mas Eastwood não deixa ainda de fazer belo elogio à ação ilusória do cinema que restaura nas pessoas o prazer de viver e de prosseguir na luta contra as adversidades que se lhes apresentam, pois, a sra. Collins se sente capaz de, em 1934, apesar de todos os reveses por que passou, recusar convites de colegas para festejar a entrega do Oscar a fim de ficar sozinha, empolgada, torcendo pelo filme de sua preferência: Aconteceu Naquela Noite, de Frank Capra, o primeiro a ganhar cinco estatuetas.
Há, da mesma forma, expressiva referência ao western, uma constante na gloriosa carreira de Eastwood, quando policiais, isentos do esquema de corrupção, que enxovalha  a Polícia de Los Angeles da época da grande depressão econômica, envergando capas como as dos justiceiros de diversos filmes do gênero, vasculham um fosso, no deserto, para encontrar, finalmente, orientados por um sobrevivente, Sanford Clark (Eddie Alderson), os corpos de dezenas de meninos assassinados por um psicopata, Gordon Northcott (Jason Butler Harneh).
Além de haver criado um tema musical apropriado para pontuar sua narrativa, seca e objetiva, mas brilhante, Eastwood explora efeitos de iluminação não só para destacar a atuação de alguns intérpretes – de poucos nomes famosos, à exceção de Angelina Jolie  e de John Malkovich (Rev. Gustav Briegleb) ao contrário do que ocorria em Sobre Meninos e Lobos, com o qual o filme tem ligação pela temática -, e para reproduzir o clima sombrio das películas dramáticas da época.
Todas essas nuanças, ditas históricas, de A Troca – que não deve ser confundido com o filme do mesmo título do diretor canadense Paul Medak – estão também expressadas na ambientação, no figurino de extremo bom gosto e, principalmente na bem cuidada maquiagem dos atores. Destaca-se, nesse caso, a de Jolie que, para criar sua personagem, além de seguir à risca as determinações da direção, deixa transparecer, em alguns momentos, haver calcado sua composição – a mais inspirada até agora de sua carreira – na de Olívia de Havilland em A Cova das Serpentes, de Litvak.
O que prejudica o filme é o roteiro de J. Michael Stracynski, baseado em fatos reais, mas de estrutura linear, que, para concretizar o recado político, falha na conexão de um crime famoso ocorrido na época, na região de Los Angeles, com a história de Christine Collins, mãe solteira, telefonista, que se dedicava com afinco à educação do filho Walter (Gattlin Griffith), desaparecido no dia 10 de março de 1928, um sábado, enquanto ela fora trabalhar para substituir uma colega.
A partir daí, Christine se torna vítima do Capitão J. J. Jones (Jeffrey Donavan) que comanda o poderoso esquema de corrupção policial da cidade, vigorosamente atacado pelo Rev. Gustav Briegleb, do púlpito de sua igreja, cujas palavras, divulgadas pelo rádio para a comunidade,  são de valores universais, isto é, se ajustam não só à triste realidade de Los Angeles na década de trinta, mas também à de todos os quadrantes, principalmente à nossa dos tempos atuais.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
FICHA TÉCNICA
A TROCA
THE CHANGELING
EUA/2008
Duração – 140 minutos
Direção – Clint Eastwood
Roteiro – J. Michael Straczynski, baseado em fatos reais.
Produção – Brian Grazer, Ron Howard, Robert Lorenz
Fotografia – Tom Stern
Trilha Sonora – Clint Eastwood
Elenco – Angelina Jolie (Christine Collins), John Malkovich (Rev. Gustav Briegleb), Gattlin Griffith (Walter Collins), Jeffrey Donavan (Capitão J.J. Jones), Eddie Alderson (Sanford Clark), Jason Butler Harneh (Gordon Northcott), Amy Ryan (Carol Dexter), Michelle Martin (Sandy).
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Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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