sábado, setembro 21, 2024
InícioSem categoriaCrítica do filme "Alice no país das maravilhas"

Crítica do filme "Alice no país das maravilhas"

Por Reynaldo Domingos Ferreira

A transgressora protagonista de Alice no País das Maravilhas, de Tim Burton, já crescida, aos dezenove anos, antes de aceitar, em Oxford, na Inglaterra da época vitoriana, repentino pedido de casamento, faz novo mergulho, na Toca do Coelho, onde estivera treze anos atrás. Dessa vez, ela vai extrair das profundezas do mundo subterrâneo, Underland, a certeza de que o caminho que pretende seguir na vida não é aquele que seus pais lhe acenam.

Com base no livro clássico da literatura inglesa Alice in Wonderland, de Lewis Carrol, Linda Woolverton, também coprodutora do filme, criou um roteiro de concepção teatral. Nele, o diálogo, embora sumário, para evitar a verbosidade cênica, ganha realce para facilitar não só a compreensão da história – que, originalmente, não tem essa característica -, como também a psicologia das personagens, algumas de traços demasiadamente caricatos. Além disso, a expressão visual, concebida por Burton, talvez até por pressão dos produtores, remete o espectador inevitavelmente a algumas obras famosas de Walt Disney, como Branca de Neve e os Sete Anões, o que lhe dá, como se há de convir, tom de déjà-vu.

Mas esses elementos contribuem, de qualquer forma, para que o argumento – amenizado também nas referências aos temas propriamente literários, como metáforas – flua de maneira centrada e objetiva na busca de Alice Kingsleigh (Mia Wasikowska) por sua identidade. Ela é filha de um nobre, Charles Kingsleigh (Marton Csokas), que, desde criança, se entregava ao mundo da fantasia. Quando, na cena introdutória, ela narra ao pai suas mirabolantes aventuras em Underland ( onde estivera em sonho), ele a chama de maluquinha, observando, porém, que, como tal, muita gente boa lhe fazia companhia.

Ao se iniciar a ação, Alice se encontra numa festa, realizada num majestoso jardim, durante a qual, pelo que fica sabendo, para sua surpresa, será pedida em casamento por Hamish (Leo Bill), filho de um dos sócios de seu pai. Ocorre, porém, que, enquanto o pedido é formalizado, Alice se distrai ante a presença, no local, de um enfarpelado Coelhinho e decide acompanhá-lo, deixando toda a gente à sua volta estupefata por não dar ao seu pretendente a resposta aguardada. Ela embarafusta por uma abertura que existe no tronco de uma velha e poderosa árvore e cai num buraco de grande profundidade.

O buraco vai dar num amplo e estranho salão, onde Alice encontra uma chave, uma bebida para encolhê-la, contida num pequeno frasco, e um bolo para fazê-la crescer novamente. Depois de ingerir a bebida, ela diminui de tamanho e, usando a chave, consegue abrir e transpor uma diminuta porta, dando logo numa enorme área ajardinada. Come o bolo e volta a crescer mais do que o necessário. E assim, ela cruza com antigos conhecidos: Coelho Branco (Michael Sheen); Domouse (Barbara Windsor); pássaro Dordo (Michael Gough); e Tweedles – Tweedledee e Tweedledum – (Matt Lucas). Mas a confusão entre eles se estabelece, pois muitos crêem não ser ela a “Alice” verdadeira: – Sou eu mesma!… O meu nome é Alice e este sonho é meu! – ela afirma.

Após muitas tentativas de esclarecer a dúvida para provar sua identidade, Alice vai parar na corte da tirana Rainha Vermelha (Helena Bonham Carter), onde os Tweedles estão presos e, lá, ela conhece outras figuras, como o Chapeleiro Louco (John Depp), afastado de suas funções e relegado ao ostracismo. Logo Alice irá dar também no castelo em que se encontra a meiga Rainha Branca (Anne Hathaway) – alusão a Mary Stuart -, que ali está presa por determinação de sua irmã, Rainha Vermelha – representação da Rainha Elisabeth -, temerosa de que ela lhe arrebate o trono: – Eu prefiro ser temida a ser amada! – declara. E não vai demorar muito para Alice se convencer também de que ela deve assumir, como nova Donzela de Orleans, uma posição diante do momento político por que passa Underland...

Como aconteceu no surgimento do cinemascope, o espaço dramático em 3D, de profundidade no campo visual, precisa, penso eu, ser ainda delimitado. Em filmes de narrativa mais dinâmica, como esse de Burton, os espaços vazios são dissimulados pela sucessão de planos panorâmicos e pela intensa movimentação das personagens. Em narração, porém, de ordem intimista, mais lenta, de planos fechados, a profundidade do campo visual poderá levar vários realizadores, ao que suponho, ao malogro total, como aconteceu, por sinal, na década de cinqüenta, quando o 3D não prosperou. É esperar para ver!…

Burton parece consciente disso. Tanto assim que já lançou advertência, pelos meios de comunicação, de que nem todo filme em 3D pode ter qualidade. Nesse seu trabalho, convertido, contra sua vontade, para 3D depois de rodado, problemas que, em conseqüência, surgiram em algumas cenas, se tornam visíveis. E afetam principalmente a movimentação dos atores em cena, que já atuam, nesse tipo de película de animação, como autômatos. Mas alguns deles, mesmo assim, se destacam como John Depp, Mia Wasikowska e Anne Hathaway. Além disso, é excelente a trilha sonora concebida por Danny Elfman, responsável também pela música original. E a fotografia de Dariusz Wolski ajuda, sem dúvida, a concretizar, apesar das restrições apontadas, a beleza do espetáculo.

REYNALDO DOMINGOS FERREIRA

ROTEIRO, Brasília, Revista

www.theresacatharinacampos.com

www.arteculturanews.com

www.noticiasculturais.com

www.politicaparapolticos.com.br

www.cafenapolitica.com.br

FICHA TÉCNICA

ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS

ALICE IN WONDERLAND

EUA / 2010

Duração – 108 minutos

Direção – Tim Burton

Roteiro – Linda Woolverton com base no livro Alice in Wonderland, de Lewis Carrol.

Produção – Richard D. Zanuck, Jennifer Todd, Chris Lebenson, Linda Woolverton

Fotografia – Dariusz Wolski

Trilha Sonora – Danny Elfman

Edição – Chris Lebenson

Elenco – Mia Wasikowska (Alice), John Depp (Chapeleiro Louco), Helena Bonham Carter (Rainha Vermelha), Anne Hathaway (Rainha Branca), Crispin Glover (Stayne), Matt Lucas (Tweedledee/ Tweedledum), Stephen Fry (Gato Ceshire – voz), Michael Sheen (Coelho Branco), Barbara Windsor (Dormouse – voz).

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
RELATED ARTICLES

2 COMENTÁRIOS

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Most Popular

Recent Comments

PAULO ROBERTO DOS ANJOS OLIVEIRA on Próximo factoide: a prisão do Lula
cleonice pompilio ferreira on Golpe de 64: quando Kennedy chamou os militares
José rainha stedile lula da Silva Chávez on Projeto ditatorial de Macri já é emparedado nas ruas
maria teresa gonzalez perez on Crise e impasse institucional
maria teresa gonzalez perez on La Plata: formando um novo tipo de jornalista
maria teresa gonzalez perez on Maduro prepara Venezuela para a guerra civil
maria teresa gonzalez perez on Momentos emocionantes da apuração do 2o. turno
Pia Torres on Crítica do filme Argo
n_a_oliveira@hotmail.com on O que disse Lula a Mino Carta, meus destaques
José Gilbert Arruda Martins on Privatizações, novo filme de Sílvio Tendler
Maria Amélia dos Santos on Governador denuncia golpe em eleição
Prada outlet uk online on Kennedy e seu assassinato há 50 anos
http://www.barakaventures.com/buy-cheap-nba-indiana-pacers-iphone-5s-5-case-online/ on Oliver Stone em dois documentários sobre Chávez
marcos andré seraphini barcellos on Videoentrevista: Calos Lupi fala do “Volta Lula”
carlos gonçalves trez on Crítica do filme O Artista
miriam bigio on E o Brasil descobre o Oman
Rosana Gualda Sanches on Dez anos sem Darcy Ribeiro
leitefo on O Blogueiro
Suzana Munhoz on O Blogueiro
hamid amini on As razões do Irã
leitefo on O Blogueiro
JOSÉ CARLOS WERNECK on O Blogueiro
emidio cavalcanti on Entrevista com Hermano Alves
Sergio Rubem Coutinho Corrêa on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola
Stephanie - Editora Saraiva on Lançamento: Existe vida sem poesia?
Mércia Fabiana Regis Dias on Entrevista: Deputada Luciana Genro
Nielsen Nunes de Carvalho on Entrevista: Deputada Luciana Genro
Rosivaldo Alves Pereira on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola
filadelfo borges de lima on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola