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Crítica do filme Cisne Negro

O que há de notável em Cisne Negro, de Darren Aronofsky, é que, ao narrar, em linguagem expressionista, como é própria da dança, a história de uma bailarina que se expõe ao sacrifício físico para aprimorar o desempenho em O Lago dos Cisnes, o filme faz por meio da música, implícita alusão, de forma paralela, ao drama de identidade, que levou o compositor Pyotr Ilyich Tchaikovsky a se internar, nos últimos anos de vida, num hospício em Moscou.

Sim, porque o aproveitamento de trechos da música do balé – como o dos torturantes acordes de violino -, na trilha sonora, de Clint Mansell, para criar atmosfera de suspense e pontuar os momentos de exasperação de Nina Sayers (Natalie Portman), a protagonista, sugere bem isso, já que Tchaikovsky deixou registrado neles – como também na Sinfonia n. 5 – a variedade e a alternância das suas emoções. Além disso, o roteiro de Mark Heiman, Andrés Heinz e John McLaughlin deixa evidente que a busca da perfeição técnica pelos dançarinos os torna, muitas vezes, ao longo do tempo, vulneráveis, incapazes de controlar seus próprios sentimentos.

Nina, depois de passar por uma primeira avaliação do rigoroso diretor artístico Thomas Leroy (Vincent Cassel) para substituir a primeira bailarina Beth Macintyre (Winona Ryder) numa nova montagem de O Lago dos Cisnes, ouve dele a aprovação imediata para interpretar o Cisne Branco, que representa a graça e a inocência. Quanto ao Cisne Negro, imagem da perfídia e da sedução, ele diz estar em dúvida. Ela vai ter de lhe mostrar suas possibilidades na disputa com Lily (Mila Kunis), que, segundo Leroy, é a personificação exata da personagem.

Para Nina, que enfrenta crise de identidade semelhante à de Tchaikovsky, esse é um grande desafio. Moradora de Nova York, sua vida é, desde criança, dedicada ao balé sob a pressão da mãe Erica (Barbara Hershey), bailarina aposentada, que a mantém numa redoma, presa a um quarto de boneca. O seu modelo de perfeição é Beth, que, inconformada por haver sido preterida, se deixa atropelar por um carro, sendo levada ao hospital com as pernas inutilizadas para sempre. O fato agrava mais o estado psicológico de Nina, que, além de ter de enfrentar suas limitações como intérprete, desenvolve não só o sentimento de culpa em relação a Beth, mas também o medo do que lhe poderá ocorrer no futuro.

O descontrole emocional de Nina é tal, que chega a prejudicar a disciplina dos ensaios, exigida, de pronto, pelo perfeccionista Leroy, para quem a arte está acima de tudo. Ela alega perseguição de sua concorrente, no que é contestada por ele, que lhe afirma: – Não há ninguém em seu caminho a não ser você mesma!… Para mostrar esse drama, de ordem intimista, a linguagem de Aronofsky – mais elaborada do que a de todos os seus filmes anteriores – é, como não poderia deixar de ser, em grande parte, subjetiva, em que a gradação das cores assume papel importante na definição do estado emocional de Nina.
Aronofsky consolida o entendimento de que seu trabalho é voltado, principalmente, para o desempenho dos atores. É um diretor que sabe, como poucos, dar realce aos seus intérpretes, que, no geral, se consagram sob sua orientação: Ellen Burstyn, (Réquiem Para Um Sonho); Mickey Rourke e Marisa Tomei (O Lutador) e, agora, Natalie Portman no papel de Nina Sayers, todos eles indicados ao Globo de Ouro e ao Oscar e, algumas vezes ganhadores. A atriz, como se deve admitir, também bailarina, tinha credenciais para dar conta da missão. Mas se beneficiou grandemente das marcações em cena, da composição de planos sobre suas evoluções no palco, do movimento de câmara, e da ambientação criada por Aronofsky para que sua personagem se desenvolvesse de forma tão brilhante tanto no campo artístico como no dramático. Aronofsky obtém ainda atuações marcantes do versátil Vincent Cassel, no papel do diretor artístico Tomas Leroy; de Mila Kunis, como Lily; de Barbara Hershey, como Erica, a mãe possessiva, e de Winona Ryder, que empresta máscara impressionante de decadência moral e física a Beth Macintyre…
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
CISNE NEGRO
BLACK SWAN
EUA/2010
Duração – 108 minutos
Direção – Darren Aronofsky
Roteiro – Mark Heyman, Andrés Heinz, John McLaughlin
Produção – Mike Medavoy, Arnold W. Messer, Brian Oliver e Scott Frankin
Fotografia – Matthew Libatique
Trilha Sonora – Clint Mansell
Coreografia – Benjamin Millepied
Edição – Andrew Weisblum
Elenco – Natalie Portman (Nina Sayers), Vincent Cassel (Thomas Leroy), Mila Kunis (Lily), Barbara Hershey (Erica Sayers), Wynona Ryder (Beth Macintyre), Benjamin Millepied (David), Ksenia Solo (Veronica).

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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