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Crítica do filme O Artista

É, sem dúvida, o magnífico desempenho de Jean Dujardin o grande trunfo de O Artista, drama romântico, escrito, dirigido e editado por Michel Hazanavicius, que não é outra coisa senão uma maneira criativa e poética de prestar homenagem à mais pura forma de fazer cinema: em preto e branco e, em grande parte, mudo.

Dujardin, que vem ganhando todos os prêmios de interpretação masculina – Cannes, Bafta, Globo de Ouro e provavelmente o Oscar – esbanja, de fato, conhecimento da arte de representar para cinema, calcando sua atuação, principalmente pelo gestual e pelo uso do olhar, em Gene Kelly, embora o ator de Cantando na Chuva seja de um tempo ulterior àquele em que se passa a ação do filme.

A história é ambientada em Hollywood, entre os anos de 1927 e 1932, época não só de grandes dificuldades econômicas – a depressão no mercado financeiro -, mas também, para o mundo artístico, a da sofrida transição do cinema mudo para o falado. Para muitos, como o teórico Ado Kirou, a transição significava a morte da poesia própria do cinema, destruída ou anulada pelas películas dialogadas.

É a noite de estreia, em 1927, do mais recente filme, O Caso Russo, do grande astro do cinema mudo George Valentin (Jean Dujardin). Ao término da sessão, ele, no palco, diante de uma plateia numerosa, é muito aplaudido. À saída do cinema, assediado por fotógrafos e jornalistas, Valentin é abordado por uma jovem Peppy Miller (Bérénice Bejo), que lhe pede autógrafo, deixando cair a seus pés, no tapete vermelho, a sua caderneta, atitude essa que, involuntariamente, o leva a abraçá-la diante das câmaras fotográficas.

No dia seguinte, ao tomar o café da manhã com a esposa Doris (Penélope Ann Miller), Valentin se surpreende com sua foto abraçando Miller, estampada na primeira página dos jornais, com a legenda: Quem é esta jovem? A reação contrária de Doris é, naturalmente, imediata. Mais tarde, Valentin vai ter outra surpresa ao assistir, no Estúdio Kinograph, a um teste de dança de Miller. Entusiasmado, ele insiste que ela será a estrela da próxima produção do Estúdio, apesar das objeções do produtor Al Zimmer (John Goodman).

No decorrer de dois anos, as dificuldades, no mercado cinematográfico, vão determinar o fim das produções silenciosas do Estúdio Kinograph e, em decorrência disso, a demissão de Valentin. Ele, entretanto, decide financiar, com recursos próprios, o seu próximo filme, estreado na mesma noite em que, em outro cinema, é lançada a nova produção sonorizada do Kinograph, tendo Miller como estrela. E tudo acontece simultaneamente com a queda de Bolsa de Nova York. Desde então, a situação de Valentin vai de mal a pior, enquanto Miller se torna uma grande estrela, rica e cortejada por todos.

Vale dizer que Michel Hazanavicius, conhecido mais por suas paródias de filmes de espionagem – ambientada uma delas no Rio de Janeiro (0SS 117 – Rio Ne Répond Plus, 2009 ) – explora recursos de linguagem apropriados à temática dessa fábula do mundo do cinema. Seu estilo de narrativa valoriza principalmente o ritmo, que nunca é gratuito. Se a música é a essência do ritmo, no caso, Hazanavicius sabe combinar o ritmo de suas imagens com o da música, criada por Ludovic Bource, de coloração estupenda em algumas sequências mais dramáticas, como a da excepcional participação de Ugie, como Jack, o cachorro que salva a vida de seu dono, Valentin.

Devem ser ressaltados também os efeitos que Hazanavicius tira da mise-en-scène como o da maneira pela qual Valentin assiste, embevecido, sem ser notado, ao teste de dança de Miller, interpretada por Bérénice Bejo, esposa do diretor, com quem tem dois filhos. Especialmente nas citações de alguns musicais, Bejo tira proveito das danças para fazer lembrar muito as atuações de Leslie Caron, a estrela de Um Americano em Paris (1951), de Vincent Minnelli.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
O ARTISTA
L´ARTISTE
França (2011)
Duração – 100 minutos
Direção – Michel Hazanavicius
Roteiro – Michel Hazanavicius
Produção – Thomas Langmann
Fotografia – Guillaume Schiffman
Trilha Sonora – Ludovic Bource
Edição – Michel Haznavicius
Elenco – Jean Dujardin (George Valentin), Bérénice Bejo (Peppy Miller), Ugie (Jack, o cachorro), John Goodman (Al Zimmer), James Cromwell (Clifton), Missi Pyle (Constante), Penelope Ann Miller (Doris), Bitsie Tulloch (Norma).

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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1 COMENTÁRIO

  1. Hoje tenho 51 anos e me lembro que aos 12 anos aproximadamente,assiti a um filme com história identica a do filme “o artista”, esse filme não seria um plagio do filme da época? pesquisei na internet mas não encontrei nenhuma referência sobre o filme, infelismente não me lembro do nome, faz muito tempo,é apenas uma curiosidade, gostaria de saber se vocês tem conhecimento desse filme.
    Aguardo um retorno pelo e-mail e desde já agradeço pela atenção.

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