segunda-feira, novembro 11, 2024
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Crítica do filme O Turista

Se ao invés de imprimir o tom de thriller ao argumento de O Turista, tivesse o realizador alemão Florian Henckel von Donnersmarck optado por tratá-lo como farsa, em que todas as improbabilidades da ação transcorreriam num ambiente de zombaria, o resultado poderia ter sido melhor. Foi isso mais ou menos o que fez, por exemplo, Quentin Tarantino, em Bastardos Inglórios, no qual aproveitou o argumento de um filme de segunda categoria italiano, de Enzo Castellari (1978), dando-lhe o tom de fábula histórica e tratando-o com uma linguagem original de muita ironia e violência.

Donnersmarck, porém, não tem a independência de Tarantino. Ganhou o Oscar com a sua magnífica película de estréia (A Vida dos Outros) e sendo convidado por Angelina Jolie para escrever o roteiro – baseado no policial francês Anthony Zimmer, de Jérôme Salle (2005) -, e dirigir  O Turista, não teve como escapar das limitações da encomenda. A Jolie, poderosa na indústria do cinema americano, não interessava o apuro técnico do trabalho de Donnersmarck, que deve estar agora empenhado em concretizar um estudo sério sobre o suicídio no mundo.  Interessava isso sim desfilar, com seu charme e sua beleza, usando trajes desenhados por Colleen Atwood, pelos pontos turísticos de duas das mais sedutoras cidades da Europa: Paris e Veneza.

Assim, ao início da ação, Elise Clifton-Ward (Angelina Jolie) está sendo focalizada ainda em seu apartamento, num dos pontos centrais de Paris, pela polícia francesa, que atua em conjunto com a Scotland Yard. Os policiais já antecipam que ela vai descer e, em seguida, se dirigirá a um famoso café, que fica logo adiante do edifício em que se encontra. E, de fato, ela aparece e, com muita elegância, caminha em direção ao café, onde é recebida, com honras de estilo, por um garçom que, sabendo do que ela gosta – chá com leite à moda inglesa – já fez o seu pedido. A movimentação de policiais disfarçados pela área é intensa. Apesar disso, Elise recebe de um emissário a correspondência de um seu ex-amante Alexander Pearce, que lhe recomenda a apanhar, na Gare Lyon, o luxuoso trem que faz a ligação Paris-Veneza.

No trem, segundo as indicações de Pearce, Elise deverá procurar sentar-se ao lado de alguém que tenha porte físico semelhante ao seu para que os policiais o confundam com ele. E conforme ainda suas recomendações, ela deverá queimar o bilhete depois de lê-lo. Elise faz isso, ainda no café, para desespero dos policiais que, entretanto, por determinação do chefe de operações, o agente britânico John Acheson (Paul Bettany), recolhem as cinzas a fim de, por meio delas, decifrar a mensagem nela redigida. Dessa forma, os policiais já estão no trem, quando Elise chega e, depois de percorrer alguns vagões, encontra Frank Tupelo (John Depp), que representa ser um tímido professor de matemática, americano, leitor inveterado de romances  de espionagem, ao lado de quem ela se senta. Elise se insinua para ele e logo consegue ser convidada a ir  ao restaurante do trem, onde ambos permanecem até a chegada a Veneza.

Frank desce na estação Santa Cecília, mas logo é surpreendido, diante de um dos canais de Veneza, com o aparecimento de Elise a bordo de uma lancha. Ela o convida a acompanhá-la até o hotel. Ele aceita, sobe na lancha e se deixa conduzir por ela até o Hotel Danieli, onde uma suíte – em que teriam se hospedado Balzac e Proust – está reservada em nome de Elise. Já instalados, Elise beija Frank na janela para que ambos sejam fotografados pelos policiais engarupados nas gôndolas que transitam pelos canais em frente ao hotel. Tudo então se torna bastante previsível e a narrativa de Donnersmark, segue sem substância, criando apenas situações para que Jolie exiba ao máximo o seu estrelismo. Muito bela realmente, principalmente na cena da dança com John Depp no suntuoso salão de um dos palácios de Veneza, ela se desfaz da personagem que interpreta e não cede espaço aos atores coadjuvantes: Depp está apático, como nunca esteve; Bettany se agita o quanto pode para dar realce ao agente Acheson e Rufus Sewell, como o Inglês, tem pouco o que fazer. O difícil em tudo isso, porém, é explicar como a película, ainda assim, conseguiu dos críticos de Nova York três indicações ao Globo de Ouro: Melhor Filme, Melhor Ator e Melhor Atriz!…

REYNALDO DOMINGOS FERREIRA

ROTEIRO, Brasília, Revista

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FICHA TÉCNICA

O TURISTA

THE TOURIST

EUA/2010

Duração – 103 minutos

Direção – Florian Henckel von Donnersmarck

Roteiro – Florian Henckel von Donnersmarck, Christopher McQuarrie, Julian Fellowes com base no roteiro do filme Anthony Zimmer, de Jérôme Salle

Produção – Graham King, Tim Headington, Roger Bimbaum, Gary Barber e Jonathan Glickman

Fotografia – John Seale

Trilha Sonora – James Newton Howard

Edição – Joe Hutshing

Elenco – Angelina Jolie (Elise Clifton-Ward), John Depp (Frank Tupelo), Paul Bettany (John Acheson), Rufus Sewell (Inglês), Thimothy Dalton (Inspetor Jones), Christian De Sica (Colonnello Lombardi)

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Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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