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Crítica do filme O Último Dançarino de Mao

Lançado no Festival de Cinema de Toronto, Canadá (2009), só agora estreia no país O Último Dançarino de Mao (Mao´s Last Dancer), do australiano Bruce Beresford, uma adaptação da obra autobiográfica do bailarino Li Cunxin que, ao frequentar curso de dança de três meses, nos EUA, e resistir a voltar ao seu país, deu motivo a uma crise diplomática, entre Washington e Pequim (1981), semelhante à que agora se verificou em relação ao dissidente cego chinês Chen Guancheng.

O caráter político de que se reveste, portanto, a película, cujo roteiro foi escrito por Jan Sardi, credencia-a como grande sucesso de público, embora suas qualidades técnicas – roteiro, direção e interpretações – deixem muito a desejar. A categoria do filme, porém, deve ser também avaliada, penso eu, pela excelente fotografia de Peter James, pela propriedade da trilha sonora do compositor Christopher Gordon – com algumas de sua peças executadas pelo pianista Paul Grabowsky -, e pela direção de arte de Elaine Kusmishko.

A ação se inicia com a chegada do jovem Li Cunxin (Chi Cao) a Houston, no Texas, onde, no aeroporto, é recebido por Ben Stevenson (Bruce Greenwood), diretor do Houston Ballet, que o convidou, dentro do programa de intercâmbio cultural, firmado entre as duas nações. No percurso, do aeroporto até a casa de Stevenson, em que vai se hospedar, Li, além de admirar a imponência dos edifícios da cidade, rememora, em flashback, os tempos ( ele tinha apenas 11 anos) da Revolução Cultural de Mao Tse Tung, quando foi retirado, pelo governo, do seu meio rural, um vilarejo da Província de Shandong, para estudar numa escola da cidade de Qingdao.

Mais tarde, tendo revelado, em testes de avaliação física e de flexibilidade de corpo, talento para a dança, Li foi transferido para Pequim a fim de cursar a Academia de Dança da Senhora Mao. No começo, por falta de interesse, ele é aluno medíocre, mas, depois, revela seu talento, ao ser incentivado pelo professor Chan (Su Zang), o qual, admirador do ballet clássico russo e dos bailarinos – Nureyev, Barishnikov e outros –, que trocaram a extinta União Soviética pelo Mundo Ocidental, é logo tido como anti-revolucionário, banido da Academia e devolvido ao seu meio rural.

Quando Stevenson visita a China, fica impressionado com uma exibição de Li, e o incentiva a fazer curso de extensão no Houston Ballet, de projeção internacional. Depois de experimentar o choque cultural, resultante da comparação do estilo de vida de semi-escravidão, na China, com o do liberalismo americano, a convicção comunista de Li – já não muito alicerçada, como o temiam as autoridades chinesas – vai para o beleléu ou se reduz a nada, particularmente, quando ele se enamora de Elizabeth Mackey (Amanda Schull), aspirante a dançarina sem talento. Assim, expirado o prazo de permanência nos EUA, Li, ao optar por ficar, dá ensejo a uma questão diplomática, entre os dois países, afetando, com isso, o próprio Stevenson, que o convidara.

O roteiro de Jan Sardi – indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original (1997) por Shine -, um tanto redundante sob certos aspectos, carece, por outro lado, de autenticidade na abordagem de outros, tratados de forma superficial. A compreensão a que chega Li, por exemplo, de que, se na China, é o Partido Comunista que dita ordens sobre a vida das pessoas, nos EUA, são os sindicatos que definem os elencos de artistas que deverão atuar no cinema, na ópera, na dança, no teatro e tutti quanti. Eis por que ele, passada a tempestade, escolheu a Austrália para viver.

A direção de Bruce Beresford – realizador de Conduzindo Miss Daisy (Oscar de Melhor Filme do Ano de 1990 ) – não consegue evitar que a narrativa, por ele mal desenvolvida, descambe para o tom de novelão, como nas ridículas sequências, que ocorrem no Consulado da China, em Houston. Quanto às interpretações, são quase todas muito fracas – o que é estranho em se tratando de filme australiano -, à exceção do ator Su Zang, que oferece máscara impressionante ao professor Chan, punido pelos feitores da Revolução Cultural de Mao.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
O ÚLTIMO DANÇARINO DE MAO
MAO´S LAST DANCER
Austrália, EUA, 2009
Duração – 117 minutos
Direção – Bruce Beresford
Roteiro – Jan Sardi, com base no livro autobiográfico de Li Cunxin, Mao´s Last Dancer
Produção –Jane Scott e Ling Geng
Fotografia – Peter James
Trilha Sonora – Christopher Gordon
Edição – Mark Warner
Elenco – Chi Cao (Li Cunxin), Bruce Greenwood (Ben Stevenson), Amanda Schull (Elizabeth Mackey), Joan Chen (Niang, mãe de Li), Wang Shuang Bao (Dia, pai de Li),
Su Zang (professor Chan), Penne Hackforth-Jones (Cyntia Dodds) Kyle Maclachlan (Charles Foster).

leitefo
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Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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