(Publicado originalmente em Ter, 03 de Março de 2009 21:03)
A julgar pelos jornalões, Fidel Castro estaria há muito debaixo de sete palmos de terra. Quem não se recorda dos informes de 2006 (quando ele caiu gravemente enfermo) do New York Times, da CNN, da BBC ou do Le Monde indicando que Fidel estaria moribundo ou com os dias contados?
Esta reflexão me vem a propósito do noticiário de ontem, segundo o qual a reforma ministerial da véspera, em que foram demitidos o vice-presidente Carlos Lage e o chanceler Pérez Roque, tinha sido uma manobra do presidente Raul Castro, irmão de Fidel, para afastar os fidelistas do governo.
Não sei se tal conclusão parte de simples desinformação ou de pura manipulação. Inclino-me pela última alternativa, pois todos esses aparatos midiáticos sabem muito bem que Raul trabalha em íntima conexão com o irmão. Todos os seus atos, desde que há um ano assumiu as funções executivas de Fidel, têm sido de estreita harmonia com a política traçada pelo irmão mais velho. Este, como sabemos todos, continua com o comando supremo da nação, pois não abdicou de seu cargo de 1o. Secretario do Partido Comunista.
Fidel Castro, aproveita-se dessa escamoteação da notícia para confundir e driblar os agentes da mídia, que ele considera seus grandes adversários. Ultimamente, quando os jornais atribuem aos longos períodos de recolhimento do líder cubano a uma deterioração terminal de seu estado de saúde. Fidel aparece abraçado com o presidente da Rússia, Dimitri Medvedev, com Cristina Kirchner ou com o presidente Chinês. Mais recentemente, ele foi visto caminhando pelas ruas com Hugo Chávez e Raul Castro.
Pois bem, no que parece ser um desmentido cabal do noticiário uniforme de ontem de que estaria sendo passado para trás pelo irmão, que teria demitido seus grandes seguidores, como Pérez Roque, seu ex-secretário particular, e o virtual premier Calos Lage, Fidel saiu a público hoje para dar sua versão.
Num de seus tradicionais e curtos artigos que ele costuma mandar pela internet, ele parece indicar que foi ele mesmo o inspirador do expurgo, sobretudo quando afirma que os afastamentos se deram não por “falta de valor pessoal”, mas pelo fato de os afastados terem alimentado “ambições que os levaram a desempenhar um papel indigno”.
“O inimigo estrangeiro estava cheio de ilusões com eles”, ressaltou para depois afirmar: “Consultaram-me sobre os novos ministros que acabam de ser nomeados, apesar de nenhuma norma obrigar os que os indicaram a essa conduta, já que renunciei às prerrogativas do poder. Atuaram simplesmente como revolucionários autênticos que trazem em si a lealdade aos princípios”.
Como se vê, os jornalões não parecem preocupados com a tão apregoada objetividade ou imparcialidade da notícia. Mas justamente em manipulá-la em função de interesses inconfessáveis, que não são exatamente aqueles voltados para os países que procuram seguir uma linha de independência e de defesa de sua soberania.