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Lula em Israel. A repórter levanta o véu

Eu vinha de carro, ligado na CBN, no caminho para o trabalho, em Brasília, por volta das 08h58m de hoje, 16/03/2010.  Aí ouço a correspondente Guila Flint dizer algo que destoava completamente do que a emissora, assim como de resto toda a grande mídia, falava na cobertura da viagem do presidente Lula a Israel e à Palestina: total fracasso, porque o presidente não teria sido receptivo, muito pelo contrário.

Os termos podem não ser os mesmos, mas a essência é esta: “Nos meus vários anos de vivência por aqui, nunca vi o país (Israel) tratar tão bem o Brasil e o seu presidente”. Claro que a repórter, com aquela verdade tão cortante, não pôde embasar seu raciocínio, porque foi convidada a abreviar seu despacho. Quem sabe, porque se aproximava o horário do Repórter CBN, o mini-informativo da emissora que vai ao ar de meia em meia hora.

Aquela simples frase, porém, jogava por terra toda a atmosfera hostil que descrevia a grande mídia nacional (e internacional) da viagem presidencial, começando com o “insulto” que havia praticado Lula ao recusar-se a colocar uma coroa de flores no túmulo patrono do sionismo, Theodoro Herzl. Aquilo teria sido o cúmulo da baixeza, da petulância e da ignorância do presidente brasileiro, segundo a farta adjetivação dos coleguinhas midiáticos. Como se viu, a coisa não era bem assim. Lula foi aplaudido quando falou ao Parlamento, o Knesset, recebeu um abraço do premier Benjamin Netanyahu, com direito a sorriso e outros mimos, bem próprios nessas cerimônias oficiais. O discurso, por sua vez, não poderia ser criticado, porque pregava a paz, através de uma negociação efetiva e não mais uma sessão de fotografia, dos dois lados beligerantes: os israelenses, de um lado, e os palestinos, de outro. Lembro que Guila se referiu ao que chamou de “incidente”, que a meu ver não chega a ser tanto, do não comparecimento, ou como diz a mídia, do “boicote” do ministro do Exterior, Avigdor Lieberman, que seria em protesto contra a ponte que o Brasil quer fazer com o Irã, inimigo mortal de Israel e patrocinador dos palestinos.

Neste caso, a meu ver, Lula pulou uma fogueira, porque esse Liebermman é uma figura deplorada pelos próprios israelenses – me refiro aqueles de bom senso e bem informados e não aos fundamentalistas. Avigdor Lieberman, como amplamente noticiam os jornais, é um político envolvido em sérias acusações de suborno, inclusive de funcionários do Knesset, onde ele é deputado e líder de um partido racista, com uma bancada de 15 membros. Algumas das ligações de Lieberman com homens de negócios do país e do estrangeiro estão sob investigação policial. Ele teria recebido milhões de “shekels”, moeda nacional, de vários empresários, enquanto parlamentar. Pela lei israelense, como a brasileira, o deputado não pode receber qualquer tipo de pagamento além do seu salário. É também acusado de agredir fisicamente menores, num incidente envolvendo uma suposta vendeta da qual teria sido vítima um de seus filhos. Curioso que a mídia não tenha lembrado o passado obscuro deste “falcon”, quando ele resolveu boicotar a visita de Lula. Nenhum jornalista também se dignou a relatar vários setores progressistas, sobretudo palestinos, que viram na viagem de Lula uma alternativa para romper o impasse nas negociações árabe-israelenses, agora mais do que nunca necessárias nesste momento de tensão, em que o Irã é acusado de tentar fabricar uma bomba para fazer frente a Israel, desde algum tempo membro dos mais conspícuos mas não assumido do clube atômico.

Finalmente, me interessei em saber mais sobre a jornalista Guila Flint. Ela na verdade é correspondente da BBC no Oriente Médio, a giga te midiática britânica que oferece seus serviços internacionais à Rádio CBN. Eis aqui seu perfil no site da BBC Brasil: “Guila Flint – Começou a trabalhar em jornalismo em 1991, escrevendo para o diário israelense Davar sobre o Brasil. Cobre o Oriente Médio para a imprensa brasileira desde 1995 e trabalhou com o Jornal da Tarde, O Estado de São Paulo e o Correio Braziliense. Foi correspondente da Globo News de 1997 a 2002 e também colaborou com a revista Carta Capital e com a revista Visão, de Portugal. Seu livro, “Israel terra em transe – democracia ou teocracia?”, em co-autoria com Bila Sorj, foi publicado pela Editora Civilização Brasileira em 2000. Guila é correspondente da BBC Brasil em Israel e nos territorios palestinos desde 1997″.

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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