Por FC Leite Filho
As denúncias contra o governo Dilma, aqui no Brasil, são fichinhas diante da avalancha de escândalos levantados pela mídia de Buenos Aires. Até as venerandas Madres da Plaza de Mayo foram arrastadas pelo vendaval impiedoso, que castiga a presidenta de lá, Cristina Fernández Kirchner, que agora pleiteia a reeleição, desde o seu primeiro dia de mandato, em 2007. Quem chega à imponente capital do Prata fica logo estarrecido com a corrupção entranhada no governo, numa proporção de “mar de lama”: as denúncias são despejadas pelo rádio do táxi que lhe traz do aeroporto, as manchetes garrafais dos jornais e os noticiários de TV e internet, a cada minuto, às vezes a cada segundo.
Confesso que tive essa sensação há pouco mais de dois anos, quando lá estive, em viagem de estudos, e amigos meus que de lá há pouco retornaram dizem que o furor denuncista continua ainda mais intenso e frenético. Este poder avassalador da mídia, que impressiona sobretudo os menos avisados, chegou a martelar diuturnamente que a popularidade da presidenta, medida por amestrados institutos de pesquisas, sobretudo nos seus primeiros dois anos, era de 19%.
Digo isso para analisar o resultado das prévias eleitorais, convertidas em verdadeiras eleições de cunho nacional, ocorrido no último domingo no nosso flamante vizinho. Uma reforma política, empreendida pelo mesmo governo Cristina, obrigou todos os partidos a submeter seus pré-candidatos ao crivo popular, antes de serem sufragados na eleição pra valer de 23 de de outubro, daqui portanto a 67 dias, nos seus vários níveis: presidente e vice-presidente da República, governos, assembléias legislativas e representações de oito dos 24 estados (lá se diz províncias) na Câmara e no Senado.
Como numa eleição convencional, a prévia obrigou os eleitores e candidatos (lá são 28 milhões de uma população de 40 milhões) a votarem. Compareceram 75% do eleitorado e o resultado foi que Cristina Kirchner, da coligação Frente para a Vitória, obteve 50,07%; em segundo lugar, vieram empatados o ex-presidente Eduardo Duhalde, da Frente Popular (dissidência peronista), 12,1%; Raul Aflsonsin, União pelo Desenvolvimento Social (UCR), filho do ex-presidente Raul Alfonsin, 12,1%; e Hermes Binner, da Frente Ampla Progressista, do Partido Socialista, 10,2%.
O curioso é que a candidata da mídia, Elisa Carrió, cujos parentes têm posto de direção no Grupo Clarín, ficou numa rabeira de 3,3%. O vice-presidente Julio Cobos, eleito com Cristina Kirchner, em 2007, mas que depois traiu a presidenta numa votação importante para seu governo, e apontado pelo esquema midiático como o grande nome pra enfrentar Kirchner, não teve gás sequer para postular-se como presidenciável.
Finalmente, um outro mito midiático que se esboroou nestas primárias argentinas foi o a inflação alta, que os jornais apontavam em torno de 30%, pois não teve a menor influência na decisão do eleitorado. Os votantes estavam mais preocupados em manter a invejável taxa de crescimento econômico do país, que exibia 8%, algo espetacular se comparado ao da Europa, 0,02%, ou da Alemanha, 1%, além dos programas, sociais, educacionais e comunicacionais empunhadas pela valente jefa de los argentinos.
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O Clarim daqui – Veja, Globo, Estado e Folha – funciona com os mesmos interesses e artimanhas. Tambem estão espantados com o nivel de informação atual do povo brasileiro.