Por FC Leite Filho
Participei da última reunião do diretório nacional do PDT, do qual, aliás, sou membro, no último dia 22 de janeiro, em comemoração dos 94 anos de nascimento do líder Leonel Brizola. Lá, primeiro se “fechou questão”, ou seja, punir com a perda do mandato o parlamentar pedetista que dissentir nestas questões específicas, contra o impeachment da presidenta Dilma Rousseff e pelo afastamento legal de Eduardo Cunha da presidência da Câmara dos Deputados. Depois, o partido também deliberou, pelo voto unânime de seus diretorianos, que terá candidato próprio à eleição presidencial de 2018.
Na verdade, esta última decisão, devidamente constada em ata a ser posteriormente registrada junto ao TSE, resultou num lançamento informal da candidatura do ex-ministro Ciro Gomes, que há tempos vem viajando em pregação pelo país, ao lado do presidente Carlos Lupi e do secretário nacional Manoel Dias. Ciro estava presente em todos os debates naquele dia 22 e, embora dizendo que ali não estivesse pretendendo postulações, fez um discurso de presidenciável e foi saudado como tal nas várias intervenções. Numa fala brilhante, em que exercitou a sua verve e objetividade habituais, ele defendeu a necessidade de se repensar o Brasil e a política brasileira, sem o que, no seu entender, dificilmente conseguiremos superar a atual crise de valores.
Concretiza-se, dessa maneira, a opção Ciro Gomes, agora com o respaldo de um partido de história e com uma larga vivência nas lutas sociais brasileiras desde João Goulart. Na verdade, a ligação do ex-governador do Ceará e ex-ministro da Fazenda de Itamar Franco com o trabalhismo brizolista, já vem de há algum tempo. Foi inclusive patrocinada pelo próprio Brizola, que engajou o partido e seu entusiasmo pessoal na candidatura de Ciro, em 2002. A candidatura de hoje, porém, não parece padecer do açodamento costumeiro, porque, tanto Ciro, hoje quase um sessentão (vai completar 59 em novembro)apesar da cara de menino, como o PDT, são gatos escaldados nestas corridas de longo curso. Ciro já foi candidato duas vezes e quase ganhou na primeira, em 1994, e o PDT, também quase ganhou com Leonel Brizola, em 1989, mas perdeu com o mesmo Brizola, em 1994, com o mesmo Ciro, em 2002, e com Cristovam Buarque, em 2006, sendo que este último obteve 2,64% dos votos.
Na verdade, partido e candidato (pré-candidato, no caso), parecem empenhados em, primeiro, construir uma opção neste cipoal de incertezas que se transformou a política brasileira, para depois se posicionarem oficialmente. Os cenários são muitos, confusos e conflitantes, mas não infensos a uma boa mensagem, como geralmente ocorre nessas épocas de profundo desencanto com a política: Lula, ainda o nome mais forte à sucessão, vai ser colhido pelo redemoinho midiático-judicial ou vai dele sair mais fortalecido? No primeiro caso, Ciro se firmaria como uma opção segura, quase consagradora. No segundo, poderia dar um bom companheiro de uma chapa lulista, na qualidade de vice, também com grandes chances de vitória, nesta última hipótese
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Talvez pensando nisso é que, tanto Ciro como Carlos Lupi, à parte os atos públicos (o próximo mais importante deverá ocorrer neste final de mês, no centro de São Paulo), estão conversando intensamente com os vários atores políticos, desde o PT até os setores mais esclarecidos da oposição. Afinal, a hora é de auscultar, antes de apontar armas.
Veja o discurso do virtual candidato Ciro Gomes