O establishment, todo esse complexo de poder militar, bancário, político, empresarial-midiático, conspira para sequestrar a liberdade, ou seja, a gratuidade dos serviços da internet. Mas os internautas e sua inacreditável criatividade tem levado a melhor até aqui. O Wikileaks já demonstrou ser mais insinuante do que a estupenda diplomacia norte-americana. Agora, nos encontramos diante de nova tentativa para impor tarifas nos serviços informativos da rede mundial. Ela vem subpreptícia, matreira, com preços bem módicos, para depois nos cobrar os olhos da cara. Nos referimos ao The Daily. Não se trata de nenhum jornal do início do século passado, como o nome pode sugerir (O Diário), mas o super moderno – ou modernoso – jornal da Apple e do magnata da imprensa Rupert Murdoch, lançado experimentalmente para o iPad, mas com o fim de abrir caminho para toda a rede – smartphones et caterva.
Aclamado pela mídia privada como a salvação dos grande conglomerados jornalísticos, The Daily, jornal feito exclusivamente para a linguagem digital, sem custos de impressão e distribuição física (que representam algo em torno da metade do orçamento de cada empresa), começou a aparecer de graça nos iPads (por enquanto só nos Estados Unidos), para, após um período probatório de 15 dias, ser cobrado à razão de 99 centavos por semana ou 40 dólares anuais. Uma pechincha, certo? Até certo ponto, porque, se cairmos nessa, vamos ter o mesmo problema que encontramos nos hotéis, quando pedimos um acesso para internet sem fio, ou Wifi. Na Argentina, chegaram a me cobrar 15 dólares por dia. E isso porque a Wifi diminuiu dramaticamente os custos da conexão por cabo, despencando para cada hotel (ou empresa) para algo dez ou vinte vezes menos. Antes tinha de furar parede para passar o caco em todos os apartamentos e andares para passar o cabo, que também não era barato. Agora com, o Wifi, basta colocar um roteador em cada andar, ao custo 200 ou 300 reais.
Esta, no entanto, é só a questão de custos. Se falarmos em termos ideológicos, estaremos ainda mais perdidos. The Daily – ou mesmo o Huffington Post, blog supostamente independente, adquirido, na semana passada, pela American On Line, a ainda poderosa AOL, mas na realidade – expressa o que há de mais reacionário e retrógrado na política norte-americana. Como o fazem atualmente na FOX, a rede de TV que serve, aliás, sustenta e promove o Tea Party, a ala mais direitista do Partido Republicano, só a voz fiel ao império e de suas grandes transnacionais terão vez na rede. Adeus os blogs populares, de esquerda, nacionalista ou mesmo imparciais no espectro político e que hoje funciona como contrapeso ao chamado pensamento único, imposto pela grande mídia.
Mas enm tudo está perdido, porque os primeiros dias de funcionamento do The Daily ou do AOL-Huffington Post (ex-site independente e recentemente comprado por uma pequena fortuna) , já comprovaram não ter conteúdo nem flexiblidade para vencer o fluxo de informações e grupos de discussão ou redes sociais, que formam o grosso da rede mundial. O jornal, além de insípido, não mostrou gás suficiente para dizer a que veio
Nem o poder mágico de Rupert Murdoch, parece estar funcinionado com o The Daily. Para quem não sabe, o australiano octogenário casado com a beldade sino-americana Wendi Deng, 49 anos mais nova, e dono de um império de 56 bilhões de dólares, que inclui 35 emissoras de TV e 170 jornais espalhados pelo planeta (entre eles a já citada FOX TV, The Times, de Londres, e The Wall Street Journal).
Ele é um dos raros jornalistas que aprendeu a ganhar dinheiro, e como. Suas idéias, porém, são aquelas do establishment. Lembro-me que, numa entrevista a Newsweek, aliás outro ícone da imprensa americana que está caminhando para o patíbulo, como o Miami Herald (O Boston Globe já virou cinzas), ele defendia ferreamente a invasão do Iraque. Seu argumento era simples: o preço do barril do petróleo, que na época, andava pelos 20 dólares, voltaria à casa dos 10 ou 15 unidades da moeda norte-americana. O Iraque foi invadido e o barril do petróleo chegou a quase 150 dólares, para fixar-se nos atuais 90 ou 100 dólares.
Finalmente, como no mundo digital, nada é seguro ou invulnerável, a exclusividade do acesso ao The Daily (só para o iPad, na primeira etapa), a revista Carta Capital, em sua seção “Internotas” de “Ideias – Tecnologia”, página 53, noticia: “O Daily: Indexed (thedailyindexed.tumblr.com) coloca todo o conteúdo do jornal numa página aberta”. VAmos tentar e ver se dar certo. E assim poderemos estar preservando a internet livre e gratuita.
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