Jornal GGN – Em São Paulo, a escalada das autoridades do Estado contra as manifestações de alunos contrários ao fechamento sumário de mais de 90 escolas públicas – fenômeno vendido pela grande mídia como “reorganização do ensino” – segue um roteiro pouco original: primeiro, politiza-se a conduta dos críticos ferrenhos ao projeto; depois, desqualificam-se as ações desenvolvidas para chamar atenção para o problema; e quando o conflito ganha traços duvidosos perante a opinião pública, introduz-se a força militar como corretivo contra o lado mais fraco.
É com essa fórmula que o governo Geraldo Alckmin (PSDB), acusado de não dialogar sobre as mudanças na rede pública de ensino, tenta suprimir os protestos em vias públicas e as ocupações em mais de 100 escolas.
No começo, a Secretaria de Educação alegava ruído na comunicação com pais e alunos afetados pelo plano (são mais de 300 mil em todo o Estado), que não teriam tido a chance de entender os objetivos nobres da “reestruturação”. Quando as ocupações em escolas que seriam fechadas passaram a crescer exponencialmente e ruas foram tomadas, o discurso passou a ser de ataque a supostas lideranças político-partidárias infiltradas entre alunos para semear a discórdia e sapatear em celebração à fase impopular de Alckmin.
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Na imprensa, pouco foi o espaço dado à visão dos alunos sobre a crise. Nos veículos mais tradicionais, as iniciativas são tímidas – e quando não, podadas. A TV Folha, por exemplo, chegou a publicar na manhã de terça-feira (1º) uma reportagem em vídeo mostrando o que os alunos fazem durante as ocupações: calçadas e pátios de escolas são varridos; paredes velhas e pixadas, pintadas; banheiros, lavados. No mesmo dia, Alckmin fez uma visita de cortesia ao jornal. Leitores deram por falta do vídeo, posteriormente.
Mais tarde, a cobertura do jornal foi focada no “confronto” entre a Polícia Militar e os estudantes. A tensão teria começado ainda pela manhã, em uma escola na região da Bela Vista, após alunos terem supostamente agredido dirigentes de escolas e tentado depredar o espaço público. Em Osasco, a PM também relatou caso de depredação de escola. Os jornais ajudaram com galerias recheadas de imagens do vandalismo sem autor.
A partir de então, a “operação de guerra”, com direito ao uso de força policial para sufocar as manifestações, foi autorizada. Nas redes sociais, uma centena de vídeos e fotos da violência desmedida da PM contra adolescentes desarmados. Como de praxe, os agentes de Estado flagrados com cassetetes em atividade não possuíam identificação – o que, nas palavras, de Alckmin, é “normal”. Bombas, gás de pimenta, prisões, puxões e empurrões completam o arsenal. Tudo para desobstruir a Nove de Julho, uma das principais vias da cidade, na noite de terça.
O governador só comentou a ação da PM na manhã desta quarta-feira (2), após um grupo de 30 alunos ser forçadamente retirado das ruas mais uma vez. Disse Alckmin, seguindo a cartilha: “É nítido que há uma ação política no movimento. (…) Não é razoável obstrução de via pública. Ainda mais na Doutor Arnaldo. Só o Instituto do Câncer possui mil pacientes por dia que precisam de acesso [à região]. Pessoas precisam trabalhar.”
Depois de desqualificar as manifestações que só “prejudicam” a rotina do paulistano “trabalhador”, Alckmin finalizou com a defesa de seus subordinados: “A polícia dialoga, a polícia conversa, pede para as pessoas saírem e dá tempo para pessoas saírem. A polícia faz todo o trabalho, é capacitada, treinada, tem paciência.” Tudo dentro dos conformes.