(O Café na Política é um programa entrevistas de meia hora transmitido pela TV Cidade Livre de Brasília, Canal 8 da NET (só DF), às segundas, às 7 da manhã, às quartas, às 19, e às quintas-feiras, às 13 horas. É também reproduzido no Youtube, desde seu início, há quatro anos)
Neste quarto e último episódio da série sobre a viagem a Buenos Aires e a La Plata, o Café na Política e a TV Cidade Livre de Brasília examinam os últimos acontecimentos que envolveram as eleições na Venezuela e no Chile e a volta dos saques a supermercados na Argentina. São fatos aparentemente isolados, mas, na realidade, produtos de uma mesma matriz, que é o esforço de aprofundar a integração desses povos e de toda a América Latina.
O leitor se recorda que a Venezuela realizou a eleição municipal de oito de dezembro em meio a muita tensão, provocada sobretudo pelas sabotagens do poder econômico, com um mega apagão a apenas cinco dias, e um ataque especulativo contra a moeda e a economia gerando toda sorte de atropelos, desde a escassez de produtos essenciais até uma disparada nos preços. A pronta ação do presidente Nicolás Maduro, o sucessor de Hugo Chávez, e objeto de encarniçada campanha de desestabilização, fez voltar a energia em menos de três horas, os preços ao seu nível normal, além de diminuir sensivelmente os índices de violência. Por esta razão, o presidente ganhou a eleição, em meio a toda esta tempestade. Para comentar a situação venezuelana, ouvimos o conselheiro da Embaixada em Brasília, Carlos Ron, que abre as entrevistas deste programa.
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O golpismo do jornal La Nación
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Em Buenos Aires, ouvimos cientistas políticos Fernando Buen Abad e Alberto Sosa sobre os rumos do país, também sacudido pela onda desestabilizadora, que trabalha 24 horas por dia visando derrubar a presidenta Cristina Kirchner. esta acaba de sufocar nova conspiração, com a reedição dos saques aos supermercados. Finalmente, reproduzimos parte do discurso de aceitação da vitória em primeiro turno da candidata socialista a presidente do chile, Michelle Bachelet, enfatizando seu compromisso de restabelecer a educação e saúde gratuitas, abolidas pela era pinochetista, que sobreviveu todos estes anos pós-ditadura militar.
Abaixo, reproduzimos artigo da jornalista Helena Iono, que nos acompanhou nesta viagem à Argentina, articulando e participando de muitas de nossas entrevistas, além de dirigir a câmera que tornaram possível este vídeo.
ELEIÇÕES FORAM MESMO UM PLEBISCITO:
POVO VOTOU PELO SIM AO GOVERNO DE RUA
Por Helena Iono (*)
Nas eleições municipais de 8 de dezembro de 2013 na Venezuela, venceu um projeto revolucionário, o Plano da Pátria (http://blog.chavez.org.ve/programa-patria-venezuela-2013-2019/#.UqfGUY0x8y5), legado deixado por Hugo Chávez, e sobretudo, um método de participação popular, que vai muito além dos vitoriosos números das eleições: o chamado Governo de rua (Gobierno de Calle) colocado em prática durante estes últimos 7 meses. As eleições adquiriram um cunho plebiscitário: sim à continuidade do processo bolivariano depois da morte de Hugo Chávez e à condução do presidente Maduro.
Os resultados eleitorais deram significativa vitória à continuidade da revolução
Mais de 19 milhões foram votar nestas eleições municipais, onde foram eleitos 335 prefeitos e 2.435 vereadores. Com uma participação de 58,8%, índice superior às eleições regionais de dezembro de 2012 que foi de 53,8%, o PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela), principal força do Grande Polo Patriótico (frente eleitoral de apoio ao governo), com 97,52% da contagem de votos, conseguiu 5.111.336 votos (49,24%), vencendo em 234 cidades, entre as quais, 13 são capitais dos 24 estados; isto é, as forças revolucionárias venceram em 80% das cidades, em 63% das capitais e em 30 das 40 cidades mais populosas. Enquanto isso, a oposição de direita (MUD – Mesa de Unidade Democrática) obteve 4.435.097 votos (42,72%) elegendo-se somente em 53 municípios. Os outros partidos menores obtiveram 833.731 votos (8.03%), onde o PCV (Partido Comunista Venezuelano) obteve 1,6%. O GPP venceu a oposição por 10% de votos, sendo que 6% correspondem ao PSUV. O GPP é uma frente composta pelo PSUV, PCV, PPT, Podemos, Tupamaros, etc… , de apoio ao chavismo. (*)
Um dado importante é que Francisco Garcés, candidato a prefeito pelo PSUV, venceu com 63% na capital do estado Miranda, governado pelo fascista, Capriles, ex-candidato presidencial da oposição, golpista, títere dos EUA, e responsável pelas ações violentas de 19 de abril, contra a vitória do presidente constitucional Nicolás Maduro, que levaram à morte de 11 pessoas trabalhadoras, das quais 2 crianças. E no conglomerado de municípios da chamada “Grande Caracas”, o candidato do PSUV, Ernesto Villegas (ex-Ministro das Comunicações até a morte de Hugo Chávez, e diretor do jornal popular “Ciudad Caracas”) deixou de dar um knockout ao direitista Ledezma, por apenas 0,4% dos votos. No bairro pobre da Dolorita, do conhecido Petare, na Grande Caracas, o GPP conseguiu 70% de votos. Ernesto Villegas levou uma aguerrida campanha de exemplar comunicação popular, que conduziu a ser imediatamente designado por Maduro como Ministro das Transformações de Caracas, o que permitirá continuar trabalhando em sintonia com o reeleito, Jorge Rodrigues, prefeito do município Libertador (área central de Caracas).
A campanha enfrentou guerra econômica e sabotagens
O triunfo eleitoral da frente governamental (GPP) se dá no auge de uma combatida campanha, enfrentando uma violenta guerra econômica e midiática da oposição aliada a grandes redes privadas de importação, distribuição e comercialização, que levaram a uma alta de preços abismais nos eletrodomésticos, à especulação financeira de quase 1.000%, à escassez provocada de alimentos nos super-mercados, sabotagem petroleira e elétrica, com vazamentos em refinarias como Puerto la Cruz, e até chegar às vésperas das eleições e acionar o black-out nacional. Tudo isso para criar insegurança, caos e estimular uma opinião pública adversa ao governo, sobretudo na chamada classe média. Mas, tudo isso, surtiu pouco efeito a favor da oposição.
Frente a isso, o governo com o apoio da maioria parlamentar na Assembleia Nacional, aprovou a chamada “Lei habilitante” que dá poderes por 1 ano ao presidente da República para legislar no campo econômico e contra a corrupção. Uma das primeiras medidas, foi a Lei orgânica de controle dos preços ao consumidor, estimulando o cadastramento de pequenos e médios comerciantes produtivos, no combate aos monopólios especuladores do uso indevido do câmbio do dólar, roubando ao Estado e ao consumidor.
Estas medidas, como tantas outras, no campo habitacional (já se concluíram 500 mil moradias da “Misión Vivienda” iniciado por Chávez em 2011), não com fins eleitorais, mas cumprindo metas do Plano da Pátria. E a questão da segurança, foi enfrentada já em maio deste ano, acionando mutirões de ação conjunta entre Forças Armadas, Polícia Bolivariana e milícias para erradicar a máfia da droga nos bairros mais pobres de Caracas. Desativaram 2.587 armas de fogo. Logicamente, tudo isso, com participação popular e Conselhos Comunais em Assembleias Populares, sindicatos e militantes de partido de esquerda com o presidente Maduro, ministros, governadores ou prefeitos do GPP, mobilizados no chamado “Gobierno de Calle”(governo de rua), muitas vezes transmitido em cadeia nacional das TVs e rádios, não obstante a oposição da mídia privada detentora de 70% do espaço radioelétrico.
Venceu o governo de rua
No fundo, o resultado destas eleições foi um SIM a que o governo continue com sua política e todos os projetos econômicos, estatizantes, de unidade latino-americana (via Unasur, Celac, Alba, Mercosur), de acordos com China-Russia-Irã, A Venezuela, seguindo o exemplo dos acordos China-Cuba, receberam 22 milhões de lâmpadas (das quais 137.500 de baixo consumo energético), e, em novembro, chegarão 2 mil ônibus Yutong, da China. Há acordos de segurança com os russos contra o narco-tráfico e catástrofes naturais. O pulso firme da lei que obriga o pouso (e derrubada, em caso de desobediência) a aviões ilegais no espaço aéreo venezuelano, foi indireta e pacificamente aprovada nas urnas como necessário ato de defesa da soberania.
Estas eleições foram um plebiscito a favor de um método de governo de rua, democracia participativa. Foi nos municípios e prefeituras que se faz sentir a presença dos candidatos do GPP, jovens, confiáveis, e guerreiros que punham a mão na massa, derrotando o voto de cabresto. O Governo de Rua, é algo muito mais profundo, organizador e formador de consciência política que o nosso “orçamento participativo” que, diga-se de passagem foi burocratizado ou abandonado, até mesmo por administrações de esquerda. E o que é notável, com forte presença de uma união cívico militar. Os soldados e oficiais de médio e alto escalão participam das assembleias populares. Prevê-se, entre outras, que as festas natalinas deste ano serão repletas de confraternizações entre povo e soldados na rua.
O resultado eleitoral é um termômetro, mas a luta continua e há muito a fazer
Esta foi a 19a eleição em 14 anos durante os quais, o governo bolivariano sempre venceu, com exceção de 1 vez (no referendo sobre emenda Constitucional de 2009). A maior votação a favor da revolução se deu nas áreas rurais, e Maduro mesmo colocou-se o propósito de continuar investindo na meta social para ganhar a classe média. Existe uma ofensiva declarada de combate à corrupção, “doa a quem doa”, a funcionários e quadros médios dos partidos, incluindo os que se disfarçam com camisa vermelha, como dito pelo presidente da Assembléia Nacional, Diosdado Cabello. Sem um dia de pausa, o processo continua: aprovou-se o orçamento para 2014 com um aumento de 40% no investimento social, garantindo aposentadoria, moradias, entrega dos computadores Canaima, livros gratuitos, alimentação escolar, e 34 Missões (projetos sociais). Maduro já avançou nas metas fundamentais para a etapa que começa hoje mesmo: segurança, guerra econômica, saúde e hospitais, moradias, água potável e terminal rodoviário. Anunciou no município Los Teques, no Estado Miranda, a construção de um teatro, um terminal rodoviário moderno; chamou o apoio dos maestros José Abreu e a Dudamel para fazer desse teatro a sede da Orquestra Sinfônica.
Do governo ao poder
O processo não deve parar nas eleições. Não há que descuidar a vigilância, pois a abstenção ainda é considerável. Em algumas zonas pobres, e ainda desorganizadas e inconscientes, ou onde a corrupção ainda não foi erradicada, pesa o protesto ou a passividade. E alguns setores da classe média, oscilante, votam na oposição, apesar de que o governo tem investido, com planos de construção de 22 mil casas para esse estrato social e investido contra a insegurança que lhes incomoda. Nas zonas de fronteira com a Colômbia, onde predomina o contrabando e o para-militarismo, o direito ao voto aos residentes estrangeiros com mais de 10 anos no país, redunda ainda em votos à oposição. As forças desestabilizadoras e golpistas não se renderão. Por isso, é primordial, apoiar-se nesta estimulante vitória eleitoral para avançar do governo ao poder popular, incrementar a estrutura em direção a um Estado Revolucionário, e continuar empurrando a Frente Única anti-imperialista dos governos e povos da região latino-americana.
(*)H.I
Jornal Revolução Socialista
11 de dezembro de 2013