quinta-feira, novembro 21, 2024
InícioAmérica LatinaAntanas Mockus sacode a política na Colômbia e passa candidato de Uribe

Antanas Mockus sacode a política na Colômbia e passa candidato de Uribe

(Acima, filme em espanhol e inglês, de Mockus e sua equipe, sobre a transformação de Bogotá)

Com 58 anos, Antanas Mockus, branco e loiro, bem diferente do tipo médio colombiano, mais moreno, passou, do quase nada (6%), para ser o candidato líder das intenções de votos, na eleição presidencial de 30 de maio. Segundo as últimas pesquisas, ele se distancia quase 10% do candidato oficial uribista e até aí tido como imbatível, Juan Manuel Santos, 58. Santos, ex-ministro do atual presidente Álvaro Uribe, é o todo-poderoso diretor do monopólio midiático El Tiempo e homem da alta confiança dos norte-americanos. Antes de examinarmos o complexo e explosivo quadro colombiano, detenhamo-nos um pouco na figura deste filósofo e matemático, filho de descendentes lituanos, que fez uma pequena revolução social e de costumes, quando passou pela reitoria da Universidade Nacional(1990) e a prefeitura de Bogotá, entre (2001).

Tipo dado a grandes efusões, gestos (usou capas do Superman para chamar a atenção) e realizações heterodoxas, Antanas era reitor  da Universidade  Nacional, em 1990, quando baixou as calças e mostrou o bumbum,  em meio a uma algazarra estudantil que o impedia de falar. Mas é nesta instituição vetusta e venerada, que ele mostra seu perfil  de administrador e homem de visão, a começar pela reforma acadêmica e política do bem-estar que implementou na Universidade. Demitido, por causa da insólita exibição, Antanas elegeu-se prefeito da capital, Bogotá, conhecida mundialmente pelos abusos do crime organizado, a pobreza gritante e as práticas inimagináveis de corrupção.

Lá, nosso homem encanta o país e o mundo com as reformas que empreende. Primeiramente, organizou um serviço de segurança da comunidade, de sete mil homens, que diminuiu em 70% o número de homicídios, em 50% as mortes no trânsito; e estendeu a água potável a toda a população.  Ele ainda contratou palhaços para policiar o trânsito, alegando que os colombianos temiam mais serem ridicularizados do que multados.

Antanas se empolgou com o sucesso que fazia na prefeitura, sobretudo na classe média e rica, e deixou a prefeitura para tentar a eleição presidencial, em 2006, mas só amealhou 200 mil votos, ou um por cento. Tirou um ano para pensar e visitou universidades americanas e européias, onde deu aulas e palestras, fazendo o marketing de seus métodos de administração  em Bogotá. Depois fundou o Partido Verde Colombiano, pelo qual se candidatou a presidente na eleição do próximo dia 30 de maio.

Em termos ideológicos, Antanas empunha a bandeira da “cultura cidadã”, que se resumiria na melhoria da educação e da saúde contra a política belicista da atual administração, responsável pela matança indiscriminada de inimigos do regime, guerrilheiros ou não. As denúncias falam de 503 sindicalizados mortos, além de uma massa de 3,3 milhões de pessoas obrigadas a deixar o país, sob pena de serem assassinadas por bandos de paramilitares, vinculados ao uribismo.

Enquanto Antanas aposta na civilidade dos compatriotas, Juan Manuel dos Santos, um membro da oligarquia com várias títulos em universidades americanas, prega o aprofundamento da política  de repressão, sustentada no Plano Colômbia, destinado ao combate ao narcotráfico e as guerrilhas (FARCs). Este plano, que é solidamente apoiado pelos Estados Unidos, tendo sido, inclusive, reavalizado pelo presidente Barak Obama, tem dado margem a abusos e desvios, como ocorreu no caso dos chamados “falsos positivos”. Foi quando o Exército, para prestar contas a Washignton e receber mais financiamento para o tal Plano, matou e enterrou cerca de dois mil jovens do campo, e os colocou na rubrica dos “eliminados em combate”.

Santos, primo do atual vice-presidente Francisco Santos e sobrinnho do ex-presidente e diretor de El Tiempo, Eduardo Santos, prima pela sua imagem de falcon e já admitiu publicamente que mandou invadir o Equador, em fevereiro de 2009, quando 26 guerrilheiros das FARCs foram mortos,inclusive o segundo homem em comando, Raul Reyes. Por causa disso, recebeu uma ordem de prisão internacional, despachada pela justiça equatoriana. Alega, igualmente, que foi ele quem esquematizou a implantação de  sete bases militares dos Estados Unidos em seu país.

O problema é que Juan Manuel Santos confiou cegamente no poder da  mídia, de que é senhor absoluto na Colômbia, e na retaguarda dos Estados  Unidos, para suceder Álvaro Uribe, naquilo que lhe parecia um passeio eleitoral. De fato, o falso ambiente de tranquilidade e de ovação midiática à política troglodita de Uribe (alguns dirigentes da oposição brasileira,  inclusive o ex-governador José Serra, foram a Bogotá beijar-lhe a mão e enaltecer sua política de segurança) fazia crer que o uribismo era uma fortaleza inexpugnável.

Como sempre, os fatos costumam se pronunciar, qualquer que seja o aparato que pretenda escondê-los, e revelam hoje uma situação mais aproximada da realidade.  É que, com efeito, Antanas Mockus virou hoje uma onda nacional contra não apenas a cultura de violência do atual governo, mas principalmente a apatia e o conformismo por ela engendrados, ao longo dos últimos oito anos. Se  isto vai se traduzir em sucesso eleitoral, é uma indagação que me faço.

É que os norte-americanos, e nem falo de suas bases ou da tal da IV Frota, que vivem ameaçando os regimes rebeldes da América Latina, são especialistas em reverter tendências, pela fraude, pura e simples, como ocorreu nas cinco últimas eleições presidenciais do México, pela subversão das instituições, como fizeram com Allende, no Chile, em 1973, ou pelo uso puro e simples da força, como sucedeu na República Dominicana, em 1965, e,ultimamente em Honduras, com a deposição do presidente Manuel Zelaya.

O que ocorre,  no entanto, é que a situação revela-sebem menos suave para os pitbulls do norte. Vários governos progressistas, eleitos nos últimos dez anos, como os da Argentina, a Venezuela, e mesmo do Brasil,  não se inclinam a avalizar um novo golpe nas instituições. Isto, aliás ficou provado no caso hondurenho, quando todos os 12 governos  da América do Sul, resolveram criar a Unasul, União das Nações Sulamericanas, para resolver eles mesmos, seus problemas, e não mais através da OEA – Organização dos Estados Americanas, instalada e comandada em Washington.

Foi a Unasul, diga-se de passagem, quem sufocou o golpe urdido, em 2008, contra o presidente índio da Bolívia, Evo Morales. Com uma tacada, os presidentes sulamericanos sustentaram Morales e lhe deram total apoio nas providências que adotou, como a expulsão do embaixador norte-americano, acusado de financiar e apoiar logisticammente os rebeldes situados nas províncias mais ricas do país, e a prisão e destituição do governador de Pando, tido como responsável por um massacre de partidários do presidente.

Finalmente, a Colômbia tem uma história de mártires e rebeldia, revelados na maioria das vezes no processo de sucessão presidencial. O mais emblemático deles é Jorge Gaitán, um candidato progressista e autor do principal programa de alfabetização do país. Pois é, Gaitán foi assassinado no distante ano de 1948, porque já era considerado imbatível na eleiçaõ que se realizaria em 1950. Sua morte redundou no bogotazo, o estallido social, que resultou no massacre de 3 mil a 5 mil pessoas, a destruição do centro de Bogotá e a disseminação da violência nas cidades e nos campos, até 10 anos depois. O bogotazo é também tido como a principal fonte para a violência que marcou o país desde aquela época, na qual se inclui a atuação das FARCs – Forças Revolucionárias Colombianas -, acusadas de muitos assassinatos e vínculos com o narcotráfico.

RELATED ARTICLES

1 COMENTÁRIO

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Most Popular

Recent Comments

PAULO ROBERTO DOS ANJOS OLIVEIRA on Próximo factoide: a prisão do Lula
cleonice pompilio ferreira on Golpe de 64: quando Kennedy chamou os militares
José rainha stedile lula da Silva Chávez on Projeto ditatorial de Macri já é emparedado nas ruas
maria teresa gonzalez perez on Crise e impasse institucional
maria teresa gonzalez perez on La Plata: formando um novo tipo de jornalista
maria teresa gonzalez perez on Maduro prepara Venezuela para a guerra civil
maria teresa gonzalez perez on Momentos emocionantes da apuração do 2o. turno
Pia Torres on Crítica do filme Argo
n_a_oliveira@hotmail.com on O que disse Lula a Mino Carta, meus destaques
José Gilbert Arruda Martins on Privatizações, novo filme de Sílvio Tendler
Maria Amélia dos Santos on Governador denuncia golpe em eleição
Prada outlet uk online on Kennedy e seu assassinato há 50 anos
http://www.barakaventures.com/buy-cheap-nba-indiana-pacers-iphone-5s-5-case-online/ on Oliver Stone em dois documentários sobre Chávez
marcos andré seraphini barcellos on Videoentrevista: Calos Lupi fala do “Volta Lula”
carlos gonçalves trez on Crítica do filme O Artista
miriam bigio on E o Brasil descobre o Oman
Rosana Gualda Sanches on Dez anos sem Darcy Ribeiro
leitefo on O Blogueiro
Suzana Munhoz on O Blogueiro
hamid amini on As razões do Irã
leitefo on O Blogueiro
JOSÉ CARLOS WERNECK on O Blogueiro
emidio cavalcanti on Entrevista com Hermano Alves
Sergio Rubem Coutinho Corrêa on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola
Stephanie - Editora Saraiva on Lançamento: Existe vida sem poesia?
Mércia Fabiana Regis Dias on Entrevista: Deputada Luciana Genro
Nielsen Nunes de Carvalho on Entrevista: Deputada Luciana Genro
Rosivaldo Alves Pereira on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola
filadelfo borges de lima on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola