O ex-presidente da Argentina, Néstor Kirchner, assumiu esta manhã a secretaria-geral da Unasul, União das Nações Sulamericanas, durante a reunião dos chefes de Estado, em Cardales, subúrbio de Buenos Aires. Ele é respaldado pela unanimidade dos 12 presidentes do sub-continente. A decisão já tinha sido anunciada no dia anterior, no encontro prévio dos ministros das Relações Exeriores, ocorrida ontem à tarde.
Considerado grande executivo – em seu governo (2003-2007), tirou a Argentina da prostracão do corralito (calote nas contas bancárias) e da moratória -; e exímio operador – em 2004 conseguiu um acordo com os credores externos, pelo qual abateu quase 70 por cento da dívida -, Kirchner simboliza principalmente os governos progressistas da região, na luta contra a ditadura midiática e a influência do poder econômico.
Cada vez mais longe da OEA, Organização dos Estados Americanos, com sede em Washingotn, esses governos progressistas, sobretudo do Brasil, Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua, vêm sofrendo implacável campanha desestabilização dos grandes jornais, televisão e rádio, os quais rejeitam as mudanças sociais e econômicas, que beneficiam amplos setores da sociedade, principalmente os marginalizados. Ainda apegada ao falido neoliberalismo e ao estado mínimo, a velha mídia, apesar dos efeitos da última crise mundial, que sepultaram aquelas teses e reforçaram o papel estatal, persiste em sua ação sistemática visando à desagregação. Agora, porém, graças às salvaguardas institucionais em países como a Argentina, Venezuela, Bolivia e Equador, a chamada ditadura midiática já não tem mais poderes para derrubar ou desmoralizar presidentes que não rezem pela sua cartilha. A Unasul terá sede em Quito, no Equador.
Vídeos da VTV: posse de Kirchner na Unasul – Telesur: discurso de Lula – TN: Chegada de Chávez
No Brasil, o Palácio do Planalto anunciou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defenderá a eleição do ex-presidente da Argentina Néstor Kirchner como primeiro secretário-geral da organização. No encontro, Lula também pedirá cautela na reintegração de Honduras ao organismo antes de encerrado o processo de reconciliação nacional naquele país.
Segundo o porta-voz da Presidência, Marcelo Baumbach, a posição brasileira é a de que poderia ser perigoso “chancelar” o novo governo hondurenho sem que o processo de transição democrática, após um golpe de Estado, tenha sido finalizado. “O presidente [Lula] alertará sobre o perigo de precipitação indevida no tratamento do tema da reintegração daquele país sem que se tenha avançado no processo reconciliação nacional. Tal precipitação criaria precedente perigoso para eventuais futuros regimes de exceção, com o impacto regional negativo”, informou o porta-voz, acrescentando que qualquer passo no sentido de uma aproximação do Brasil com Honduras passa pela volta do presidente deposto Manoel Zelaya.
Em relação à eleição de Kirchner, Baumbach afirmou que o impasse entre os governos argentino e uruguaio em torno da implantação de uma fábrica de celulose nas margens do Rio da Prata foi superado. Assim, o ex-presidente da Argentina deve mesmo ser eleito para o cargo na Unasul, para o qual concorre sozinho.
A eleição deve facilitar a integração dos países da América do Sul, na avaliação do porta-voz. “O Brasil deseja que a eleição de um secretário-geral possa marcar nova etapa no processo de consolidação da Unasul, que atravessa momento de definição de sua arquitetura institucional. O secretário-geral estará em posição privilegiada para atuar no sentido de impulsionar o processo de integração sulamericana”, disse Baumbach.
Ainda estará na agenda da reunião de chefes de Estado da Unasul o apoio ao Chile e ao Haiti, atingidos por fortes terremotos. Em relação ao Chile, o governo brasileiro defenderá a manutenção do repasse de ajuda humanitária, apesar de não ter havido solicitação formal do governo chileno. O Brasil ainda estuda, segundo o porta-voz, criar uma linha de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Social e Econômico (BNDES) para ajudar a financiar a reconstrução daquele país.
Para o Haiti, país mais pobre das Américas, Lula pedirá aos 12 países que compõem a Unasul que ratifiquem a criação de um fundo de US$ 100 milhões para compra de equipamentos nas áreas de infraestrutura, energia, agricultura e saúde.
Após a reunião da Unasul, Lula seguirá para o Uruguai, onde se encontrará com o presidente José Mujica, na quarta-feira (5). Os dois discutirão meios para ampliar a relação comercial bilateral e o financiamento de obras de infraestrutura no Uruguai.