quinta-feira, novembro 21, 2024
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Crítica do filme Lope

É evidente que o brasileiro Andrucha Waddington tinha pouco a dizer, em Lope, sobre as aventuras e desventuras de Félix Arturo Lope de Vega y Carpio, dramaturgo do século XVI – considerado a era de ouro da cultura espanhola pelo predomínio do barroco -, um dos mais prolíficos escritores que o mundo conheceu.

Mesmo se baseando num roteiro elaborado por espanhóis – Jordi Gasull e Ignácio del Moral -, que focaliza apenas um episódio da juventude de Lope (Alberto Ammann), quando ele retorna da guerra em Portugal, perde a mãe Paquita (Sonia Braga) e se endivida para fazer um funeral de luxo para ela, com brasão, etc e tal, Waddington, demonstrando insegurança na abordagem do tema, apela para o convencionalismo mais desbragado.

Não há dúvida de que a ambientação – de Federico Ghio e Isabel Viñuales – em que ele situa a história é apreciável em termos de observância da desolação causada, no meio social, pela crise econômica que assolava a Espanha. Falta , porém, conexão entre as personagens e as ideias que mais sensibilizavam a população no que diz respeito, particularmente, à arte cênica, gozando então de pleno prestígio popular.

Assim, quando o irmão Juan de Vega (Antonio de la Torre) propõe a Lope que ingresse no seminário, ele se decide, ao contrário, pelo teatro, onde – é claro – havia muitas mulheres, que já o perturbavam. Escreve a primeira comédia, que espera ser lida pelo produtor Jerónimo Velázquez (Juan Diego). Como qualquer produtor teatral, porém, Velázquez não quer saber de um novo dramaturgo. Recusa-se a recebê-lo. Mas a filha dele, Elena Osório ( Pilar López de Ayala), sensibilizada pelos versos que Lope lhe dissera ao pé do ouvido, consegue as boas graças do pai para ler-lhe o texto.

À primeira leitura, Velázquez se entusiasma e contrata Lope, não para montar a sua comédia, mas como copista do drama O Cerco de Numância, de Cervantes. Ao copiar o texto, entretanto, Lope introduz, nele, modificações que marcariam o início da reforma a ser por ele proposta, mais tarde, – a Arte Nova de Fazer Comédias – a fim de romper com a tradição clássica do teatro. Entre outras novidades, Lope propunha a mescla de gêneros (tragédia e comédia) numa narrativa, o que causa repulsa ao conservador Velázquez, tal como está no roteiro.

É sob esse aspecto que o tom da linguagem de Waddington nada tem a ver com Lope de Vega., que expressou em seus escritos muito do que ele era, agia e pensava. Para narrar, por exemplo, o envolvimento do dramaturgo com Elena Osório e com Isabel de Urbina (Leonor Watling), já prometidas a dois nobres poderosos – Tomás de Perrenot (Miguel Angel Muñoz) e Marqués de Navas (Selton Mello) -, a ironia teria de, necessariamente prevalecer, mas não é o que acontece. Waddington mergulha o protagonista num redemoinho de acontecimentos, colocando-o aparentemente como vitima, quando, sendo comediógrafo, ele era o agente contestador da realidade que o cercava, mesmo a provocada por suas conquistas amorosas e, como tal, batia sempre em retirada para salvar a própria pele.
Em vista disso, é equivocada a linha de interpretação dada por Waddington aos atores. O argentino Alberto Ammann é, sem dúvida, o mais prejudicado na sua tentativa de personificar Lope. Ainda assim, experiente, ele consegue convencer em alguns momentos. A bela Pilar Lopes de Ayala, como Elena Osório, tem atuação pouco inspirada, deixando de repetir, portanto, o seu bom desempenho como a protagonista de Juana La Loca, de Vicente Aranda. Leonor Watling, como Isabel de Urbina, é pouco expressiva e Luis Tosar, como Frei Bernardo, apenas faz figuração, o mesmo acontecendo com os brasileiros Sônia Braga – irreconhecível sob a maquiagem, no papel da moribunda Paquita – e Selton Mello, como o Marqués de Navas.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
LOPE
Espanha/Brasil/2010
Duração – 106 minutos
Direção – Andrucha Waddington
Roteiro – Jordi Gasull e Ignacio del Moral
Produção – Mercedes Garnero, Jordi Gasull, Andrucha Waddington
Fotografia – Ricardo Della Rosa
Trilha Sonora – Fernando Velázquez
Edição – Sérgio Melder
Elenco – Alberto Ammann (Lope de Vega), Pilar Lopes de Ayala (Elena Osório), Leonor Watling (Isabel de Urbina), Sônia Braga (Paquita), Juan Diego (Jerónimo Velázquez), Luis Tosar (Frei Bernardo), Miguel Angel Muñoz (Tomás de Perrenot), Selton Mello (Marqués de Navas)

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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