De Cristina sobre os saques: “Versão decadente e cópia ruim” da crise de 2001 (vídeo)
A ordem para gerar o caos na Argentina está sendo obedecida à risca por grupos de extrema direita aliados a delinquentes. Primeiro, foi a convocação de dois caceloraços-monstro e uma greve geral de 24 horas. Agora, eles querem semear o terror na população explodindo redes elétricas para provocar apagões e, ultimamente, assaltando supermercados e postos de gasolina.O objetivo seria desestabilizar o governo para provocar um golpe de estado à moda paraguaia. Mas o governo nacional, juntamente com os governos provinciais, controla a situação e só na província de Buenos Aires, que contorna a capital, já sobe a 500 o número de extremistas presos. O chefe da Casa Civil, Juan Abel Medina, já denunciou que o caminhoneiro Hugo Moyano, chefe da CGT, que rompeu com o governo e aliou-se aos defensores do monopólio Grupo Clarín, ameaçado de desmonte pela lai de mídia, como um dos inspiradores da manobra.
Ao mesmo tempo, as emissoras de rádio e TV assim como os jornais do Grupo Clarín e o La Nación, o segundo maior periódico do país, noticiam os distúrbios com grande estardalhaço e às vezes incitando à violência, em franca subversão à ordem pública. O cenário se assemelha à reação dos grupos econômicos quando na Venezuela, o presidente Hugo Chávez se recusou a prorrogar a licença do Grupo RCTV e tirou do ar a televisão de maior audiência no país. A RCTV era acusada de estimular as arruaças contra o governo e de ter participado do golpe contra Chávez, em abril de 2002. Coincidentemente, as ações provocatórias na Argentina ocorrem quando as empresas midiáticas do continente intensificam os rumores sobre a gravidade de saúde de Hugo Chávez. Todos esses movimentos seriam parte de uma estratégia para inviabilizar os governos democráticos e instaurar regimes de força nos dois países, com o apoio dos parlamentos e dos judiciários. Essas conspirações são conhecidas como golpes brandos ou golpes de de terceira geração, que dispensariam a participação ostensiva dos militares, tal como ocorreu, em Honduras, em 2010, e no Paraguai, em junho deste ano de 2012.
Com efeito, a ação já tinha sido prevista pela presidenta Cristina Kirchner, que acompanha os acontecimentos em seu refúgio do Calafate, na Patagônia, onde foi passar o Natal com a família. Um plano de emergência seria acionado para tais distúrbios, que estariam vinculados ao processo de desmonopolização do Grupo Clarín, que detém o controle de quase 60% de rádio e televisão e domina a imprensa escrita. Autoridades da Casa Rosada e governadores provinciais já denunciaram a motivação política, tanto da sabotagem elétrica quanto dos saques a supermercados, citando como provas que os saqueadores não estão interessados em roubar comida, mas aparelhos de TV a plasma, computadores e outros produtos de luxo. Por sua vez, a Sociedade Rural Argentina, uma das grandes detentoras das ações do Clarín, e responsável pelo lock-out, que quase provocou o desabastecimento no início do primeiro mandato de Cristina, anunciou uma paralisação do campo, por 24 horas, a partir da quarta-feira, 26, um dia após o natal.
Já o governador de Buenos Aires, Daniel Scioli afirmou que a intenção dos grupos violentos na província e em outros pontos do país é “desestabilizar”, explicando que depoimentos de alguns dos quase 500 detidos “testemunharam ter sido convocados (para agir) através das redes sociais”. Antes, o ministro da Energia da Província de Neuquén, Guillermo Coco, denunciado “sabotagens múltiplas e em sequência” que deixaram sem luz 15 localidades da província (Veja vídeo abaixo).
No Brasil, a revista Carta Capital, traz na edição desta semana (nº 729) matéria especial do jornalista Eric Nepomuceno, “indicando que a Lei de Mídia entrará em vigor. O grupo (Clarín) recorreu, o recurso foi aceito, mas isso significa apenas, na maioria da opinião dos juristas argentinos, mais tempo até que sechegue á aplicação da legislação aprovada, em 2009, pela maioria do Congresso, contando com nutridos votos da oposição”. A reportagem ainda cita depoimento da ex-proprietária da fábrica de papel-jornal Papel Prensa, Lídia Papaleo Graiver, acusando o dono do Clarín, Héctor Magnetto de haver participado das sessões de tortura na prisão, quando a ditadura a obrigou a assinar a venda daquela sua propriedade a um consórcio de que participava aquele grupo de comunicação. Diz, entre outras coisas, a reportagem de Nepomuceno:
“Contou que até hoje, em seus pesadelos, revê o rosto de seus torturadores. E disse que nenhum desses rostos a amedronta mais que o do homem que dizia, com voz serena e calma, que, ou ela assinava, ou veria sua filha ser morta, antes de ela mesma ser assassinada.
“Esse homem chama-se Héctor Magnetto é o presidente do Clarín, do qual detém 33% das ações. Graças a ele e aos seusmétodos, o grupo tornou-se o que é hoje. É ele o patrão dos paladinos que dizem que a Lei da Mídia é um atentado à liberdade de expressão. É à sua voz que fazem ecoos conglomerados de comunicação do Brasil”.(Parte dessa história está contada no terceiro vídeo abaixo de “Clarín, um invento argentino”.
Conheça a história na série de quatro episódios “Clarín, um invento argentino”, da TV Pública da Argentina, Canal 7