O jornalista Paulo Moreira Leite, autor do livro “A outra história da Lava Jato”, conta, nesta entrevista a FC Leite Filho, do cafenapolitica.com.br, como o juiz Sérgio Moro concentrou suas atenções para deslegitimar os políticos e desmoralizar o governo da presidenta Dilma Rousseff.
Ele tira suas conclusões a partir do artigo de Moro, datado de 2004 e intitulado Considerações sobre a Operação Mani Pulite (Mãos Limpas). Neste documento, relata PML, Moro adota aquela experiência como modelo de combate à corrupção, inclusive indicando o que fará no Brasil, quando assume o comando da Operação Lava-Jato, em março de 2014.
Como as Mãos Limpas, Moro vai se centrar na deslegitimação dos políticos, através de uma aliança com a imprensa, sobretudo através dos vazamentos ilegais, tal como como sucedeu na Itália. Como se recorda, a Mani Pulite prendeu centenas de políticos e empresários, provocando o caos partidário que implodiu, praticamente, todos os partidos, e gerou profundas perdas para a economia nacional. Deste contexto inusitado, acabou surgindo a figura caricata de Sílvio Berlusconi, considerado um dos políticos mais corruptos da história, mas que governou o país por mais de dez anos, a partir de 1994, quando a Mani Pulite chegava a seu fim.
Outra característica da Mãos Limpas que PML associa à Lava-Jato brasileira refere-se às denúncias quanto à aliança com os serviços de segurança dos Estados Unidos. “O trabalho da operação era partilhado inteiramente com o escritório da CIA, em Milão (sede da Mãos Limpas): quem vai ser investigado, quais os casos a serem analisados, e quem vai ser interrogado”.
– E isso quem disse foi o embaixador americano (Reginald Bartholomew) em entrevista a um jornal (La Stampa)”, observa Paulo Moreira Leite.
Em seu livro, PML chega a dizer: “Para o embaixador (Bartholomew), o ponto grave, no aspecto jurídico, é que os tribunais se mostravam inteiramente intimidados pela ação do Ministério Público”. Na nossa entrevista, PML ainda foi perguntado se Michel Temer, o vice-presidente da República, terá condições de governar o Brasil, no caso de afastamento da Dilma, já que também foi citado na Lava-Jato. Ou se o poder vai ser passado a um tecnocrata, como aconteceu com a deposição branca de Berlusconi, substituído pelo banqueiro Mário Monti, através da cooptação da maioria parlamentar, sob o fogo de uma blitz midiática. Ou ao próprio juiz Sérgio Moro, o hoje grande herói da mídia.
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Entrevista com Paulo Moreira Leite sobre o livro “A outra história do Mensalão”