Muito se fala em democracia na comunicação, em termos teóricos ou políticos, mas quase ninguém se preocupa em fazer chegar a TV Digital ao povão, por exemplo. A feliz exceção parece vir novamente da Argentina, que, depois de tornar gratuitos os jogos de futebol, no sistema aberto e a cabo, anuncia agora para maio, antes da Copa do Mundo, a TV Digital. Ela começa com a distribuição gratuita de 3 milhões de decodificaores às classes menos favorecidas, que também receberão financiamento para comprar ou atualizar seus televisores.
A bondade não fica aí. O governo pretende fazer farta distribuição, a preços camaradas e assinatura gratuita, de decodificadores para as transmissões a cabo (parecidos com a aqueles da Sky, com antena e tudo), na implantação de seu sistema de comunicação. Tal sistema, liderado pela TV Pública, o Canal 7 (canal7.com.ar) vai incluir outros 40 canais, incluindo um todo-notícias, outro de esportes, educação, cinema, infantil, novelas etc.
Outra boa novidade, para nós brasileiros é que o sistema de TV Digital Argentina vai servir-se de nossa tecnologia, de origem japonesa, o ISDB-T, a ser exportado também para o chile, Peru e Venezuela, que já fizeram sua opção em torno dele. Para quem não se lembra, o ISDB-T foi desenvolvido pelo Ministério das Comunicações, com o engajamento de nossas universidades e centros tecnológicos, a partir de uma iniciativa do então ministro Miro Teixeira (2002-3).
Os críticos do da presidente Cristina Kirchner e de seu marido, o ex-presidente Nestor Kirchner, esta bondade, não seria tão bondade assim, porque, no fundo, representaria uma manobra para esvaziar o Grupo Clarin, que domina a mídia daquele país, na base um verdadeiro oligopólio (TV, rádio, internet e jornal). A alegação pode ter até um fundo de verdade, mas o fato é que os Kirchner podem passar à história como os primeiros governantes do mundo a fazer chegar a mídia ao povão, com futebol e tudo.
Eles já tinham marcado outro tento histórico, com a aprovação da nova Lei da Mídia, pelo Congresso, mas que se encontra, temporariamente, embargada pela justiça, por pressão justamente do ainda poderoso (até quando) Grupo Clarin, e a que já nos reportamos, anteriormente, neste blog.
A notícia do Último Segundo é que “a Argentina avança na implantação do sistema digital no país, com o modelo ISDB-T, desenvolvido pelo Brasil a partir da tecnologia japonesa. Como parte de sua campanha eleitoral em 2011, a Casa Rosada tem um projeto para oferecer conversores, sinais e aparelhos de TV à classe mais pobre.
O início das transmissões está planejado para os próximos dias, através das emissoras oficiais, Canal 7, Encuentro, Paka-Paka (infantil) e INCAA TV (cinema), com os sinais sendo emitidos pela empresa estatal de satélite ArSat. Mas a ideia do governo é ter um total de 15 a 20 estações radiodifusoras, segundo o presidente do diretório de Rádio e Televisão Argentina Sociedade do Estado (RTA), Tristán Bauer, responsável implementação do sistema digital na Argentina.
A RTA vai distribuir as antenas e o conversor – Set Top Box (STB) – a um milhão de beneficiários dos planos sociais do governo Kirchner. Os primeiros a receber o pacote serão os da capital federal e a área metropolitana de Buenos Aires que não possuem TV a cabo ou via satélite. Segundo um relatório elaborado pelo Grupo Convergência, o governo vai gastar 1,3 bilhão de pesos (cerca de US$ 335 milhões) para instalar uma rede de infraestrutura onde se encontra a base do sistema.
Fonte do Ministério do Planejamento disse que os primeiros decodificadores serão importados do Brasil. Os fabricantes nacionais lançaram uma versão que não agradou a Casa Rosada por causa do preço, ao redor de US$ 200. O ministro do Planejamento, Julio De Vido, pediu uma redução considerável desse valor, para US$ 100. A fonte não revelou o valor do aparelho importado do Brasil, mas cálculos do mercado indicam que custaria cerca de US$ 55.
O governo argentino pretende cobrir, nesta primeira etapa, 75% do território nacional ainda antes do fim de 2010. As eleições presidenciais estão previstas para outubro de 2011, mas antes disso, a rede oficial pode chegar a 100% do País, o que demandaria investimentos de mais 400 milhões de pesos (US$ 103 milhões).