quinta-feira, novembro 21, 2024
InícioSem categoriaCrítica do filme "A Estrada"

Crítica do filme "A Estrada"

Por Reynaldo Domingos Ferreira

A angústia de se ter de conduzir a família num mundo em desintegração é o tema de A Estrada, de John Hillcoat. O filme narra a luta pela sobrevivência de um homem e de seu filho, enquanto vagam em direção ao oceano pelo território americano totalmente destruído por um cataclisma, possivelmente de potencialidade nuclear.

O roteiro, do britânico Joe Penhall, é baseado no best-seller, The Road, do escritor americano Cormac McCarthy, Prêmio Pulitzer de Literatura (2007) que, na essência, faz a transposição para um tempo indefinido do episódio bíblico, da fuga de Lote, com sua família, da cidade de Sodoma, destruída pela punição divina.

A desesperadora batalha pela sobrevivência une então pai (Viggo Mortensen) e filho (Kodi Smit-McPhee), cada vez mais, no mundo pós-apocalíptico, em que a civilização foi dizimada, assim como as plantas e os animais. E houve até mesmo o obscurecimento da luz do sol. Ao longo dos caminhos nevados, que percorrem, eles procuram abrigos, agasalhos e suprimentos, tendo ainda de se defender, constantemente, da horda do que restou da espécie humana, entregue ao canibalismo.

O pai, de acentuada diferença de idade em relação ao filho, carrega um revólver, que tem apenas duas balas para ser usadas, eventualmente, numa situação extrema de necessitarem ambos cometer o suicídio. Emflashback, feito por intermédio de sonho – de mais expressão na película do que na obra literária, como vale observar -, o pai rememora a decisão da mulher (Charlize Theron) de se matar para não continuar passando frio e fome.

O roteirista Penhall sintetizou bem os reveses por que passam, em suas andanças, pai e filho, que se dizem ser, a certa altura, dois mortos-vivos num filme de terror. Depois de enfrentar um canibal, o pai se vê forçado a atirar nele, ficando com apenas uma bala no revólver. Mas, os dois seguem avante. Encontram então uma grande casa, onde os canibais escondem suas presas para o sacrifício. Por pouco, eles não são também ali aprisionados.

De todos esses episódios o pai extrai lições para explicar ao filho como deveria ele proceder na eventualidade de sua ausência, pois tem consciência de que não chegará vivo ao final:  – Por todos esses caminhos não há homens inspirados por Deus! – afirma. – Eles levaram o mundo consigo. Ou então, o adverte:  – Se você descumprir promessas pequenas, vai descumprir as grandes. Há, por assim dizer, a clarividência também nos diálogos da super-proteção dada, no pós-guerra, pelos pais aos filhos, que, com isso, os tornaram despreparados para enfrentar o mundo, de natureza sempre dura e hostil.

Se o trabalho de Penhal na adaptação da novela – cuja narrativa é dotada de verdadeiros cortes cinematográficos – tem muita qualidade, o mesmo não se pode dizer em relação ao de Hillcoat, que só faz ilustrar o roteiro, sem conseguir criar dinâmica própria para o argumento. Em decorrência disso, a expressividade de sua direção se deve a dois elementos: as excepcionais interpretações de Mortensen, de Smith-McPhee e de Robert Duvall, este no papel de um velho moribundo, a quem o pai não quer ajudar, apesar dos insistentes pedidos do filho para que o faça, e a fotografia de Javier Aguirresarobe, que dá à película a tonalidade exata de tragédia. Mortensen, principalmente, numa composição brilhante, sustenta, de ponta a ponta, a narrativa, trazendo a compreensão ao espectador, pelo caráter da personagem que interpreta, de que a história é feita, na realidade, seja em que condições for, pela têmpera de grandes indivíduos.

REYNALDO DOMINGOS FERREIRA

ROTEIRO, Brasília, Revista

www.theresacatharinacampos.com

www.arteculturanews.com

www.noticiasculturais.com

www.politicaparapoliticos.com.br

www.cafenapolitica.com.br

FICHA TÉCNICA

A ESTRADA

THE ROAD

EUA/2009

Duração –

Direção – John Hillcoat

Roteiro – Joe Penhall com base no livro The Road, de Cormac McCarthy

Produção – Nick Wechsler, Steve Schwartz,  Paula Mae Schwartz

Fotografia – Javier Aguirresarobe

Trilha Sonora – Nick Cave e Warren Ellis

Edição – Jon Gregory

Elenco – Viggo Mortensen (Pai), Kodi Smith-McPhee (Filho), Charlize Theron (Mãe), Robert Duvall (Velho Moribundo), Guy Pearce (Pai de família), Molly Parker (Esposa) e Michael K. Williams (Ladrão).

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
RELATED ARTICLES

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Most Popular

Recent Comments

PAULO ROBERTO DOS ANJOS OLIVEIRA on Próximo factoide: a prisão do Lula
cleonice pompilio ferreira on Golpe de 64: quando Kennedy chamou os militares
José rainha stedile lula da Silva Chávez on Projeto ditatorial de Macri já é emparedado nas ruas
maria teresa gonzalez perez on Crise e impasse institucional
maria teresa gonzalez perez on La Plata: formando um novo tipo de jornalista
maria teresa gonzalez perez on Maduro prepara Venezuela para a guerra civil
maria teresa gonzalez perez on Momentos emocionantes da apuração do 2o. turno
Pia Torres on Crítica do filme Argo
n_a_oliveira@hotmail.com on O que disse Lula a Mino Carta, meus destaques
José Gilbert Arruda Martins on Privatizações, novo filme de Sílvio Tendler
Maria Amélia dos Santos on Governador denuncia golpe em eleição
Prada outlet uk online on Kennedy e seu assassinato há 50 anos
http://www.barakaventures.com/buy-cheap-nba-indiana-pacers-iphone-5s-5-case-online/ on Oliver Stone em dois documentários sobre Chávez
marcos andré seraphini barcellos on Videoentrevista: Calos Lupi fala do “Volta Lula”
carlos gonçalves trez on Crítica do filme O Artista
miriam bigio on E o Brasil descobre o Oman
Rosana Gualda Sanches on Dez anos sem Darcy Ribeiro
leitefo on O Blogueiro
Suzana Munhoz on O Blogueiro
hamid amini on As razões do Irã
leitefo on O Blogueiro
JOSÉ CARLOS WERNECK on O Blogueiro
emidio cavalcanti on Entrevista com Hermano Alves
Sergio Rubem Coutinho Corrêa on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola
Stephanie - Editora Saraiva on Lançamento: Existe vida sem poesia?
Mércia Fabiana Regis Dias on Entrevista: Deputada Luciana Genro
Nielsen Nunes de Carvalho on Entrevista: Deputada Luciana Genro
Rosivaldo Alves Pereira on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola
filadelfo borges de lima on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola