De Bogotá e Cali – Nestas eleições de domingo na Colômbia, se poderia decretar a superação da velha dicotomia de esquerda e direita. Aqui, o candidato – Antanas Mockus, do Partido Verde – que poderia ser situado no espectro da direita, parece inclinado às teses contra a desigualdade. Não obstante, defende princípios do Consenso de Washington, como a privatização e a política de segurança do atual presidente Álvaro Uribe.
Curiosamente, Mockus é o candidato que mais claramente tem se manifestado em favor da integração latino-americana, o combate à interferência de Washington na Colômbia e o bom relacionamento com a Venezuela, de Hugo Chávez. Os outros candidatos, inclusive Gustavo Petro, um ex-guerrilheiro do M-19, que disputa pelo partido Polo Democrático Alternativo, tem evitado essas questões mais cruciais para o subcontinente. Seu principal adversário é Juan Manuel Santos, ex-ministro da Defesa de Uribe e filho de uma das famílias mais ricas do país, que controla uma rede jornais, rádio e TV, inclusive o centenário jornal El Tiempo.
Enquanto isso, a taxa de desemprego, que chegou a 14,5%, e a queda brutal no comércio com seu vizinho mais próximo, elevou as tensões com a Venezuela como uma das grandes prioridades da eleição presidencial na Colômbia, do próximo domingo, 30 de maio.
Como se sabe, o congelamento das relações da Venezuela com a Colômbia, em 208, por causa do acordo para a instalação de sete bases americanas no país, provocou uma queda violenta no mercado entre essas nações. Tratava-se de um comércio promissor, que parecia caminhar para os 8 bilhões de dólares por ano. Sua contenção aumentou, dramaticamente, o desemprego e diminuiu os lucros dos empresários, que agora são os mais renhidos defensores de uma reaproximação com os venezuelanos.
Neste aspecto, Antans Mockus, um descendente de lituanos, de 58 anos, se mostra como o candidato mais definido. Ele ainda ganha pontos em outros temas explosivos, como a insegurança e o colapso na saúde e na educação. Por isso, quando tinha apenas 6% das pesquisas, menos de um mês antes do pleito, virou o quadro onde reinava como favorito absoluto o governista Juan Manuel Santos, também de 58 anos, do Partido da U, da linha dura do atual governo, de quem foi ministro da Defesa.
Contudo, as contradições, a dúvida metódica do intelectual e seu noviciado na corrupta máquina política colombiana, deslocaram Mockus das alturas, quando conquistou uma diferença de 10% sobre seu principal adversário, para um empate técnico com Santos. Em seguida, ele parece ter dado a volta por cima, como se observa nas ruas de Bogotá, nestes dois dias que antecedem o pleito.
Enfrentou as manipulações dos aversários com uma calma e paciência do professor (seus comícios mais parecem salas de aulas para colegiais, em que ele repete incansavelmente conceitos e slogans), a vida ilibada e modesta de um típico integrante de classe média e, sobretudo o sucesso de sua administração como prefeito da capital. Mockus tem sabido levar sua mensagem a um eleitorado cansado do envolvimento dos políticos tradicionais com a corrupção, o narcotráfico e o instigamento ao ódio e à matança, num país acossado por uma guerrilha ainda influente, que dura desde 1964.
Mockus também soube cuidar da retaguarda, ao montar um exército de miliitantes, que só na rede social Facebook, da internet, totaliza hoje 688.751, a maioria dos quais são estudantes, professores e outros setores progresistas. Outro fator que o ajudou bastante foi a forma serena e didática que soube tratar questões delicadas: sua posição diante de Hugo Chávez, pauta obrigatória em todos os questionários, a instalação de bases americanas, a guerrilha, o narcotráfico e a corrupção.
Antes, tinha expressado “admiração” pelo presidente venezuelano, termo que depois trocou por “respeito”, devido à repercussão negativa, mas continuou insistindo que “Hugo Chávez é um democrata, porque foi eleito pelo povo”, tendo inclusive aceitado o resultado da derrota num referendo (2008) e por presidir um país vizinho, com o qual o interrelacionamento é vital para as duas nações.
Quanto às sete bases americanas, em processo de instalação na Colômbia, Mockus, habilmente, defende a continuidade da política de segurança do atual presidente Álvaro Uribe, que goza de popularidade, mas destacou que vai se basear na constituição. Ele disse que atuará firmemente no combate à interferência norte-americana no país, e procurará um diálogo com os Estados Unidos, na base do respeito e da soberania, assimcomo o faz o presidente Lula, do Brasil, que consegue ao mesmo tempo ter boas relações com Obama e com Chávez.
Ainda sustenta que evitará abusos como os “falsos positivos”, episódio de 1600 jovens inocentes executados pela polícia, como forma inflar dados sobre o combate à guerrilha e obter mais ajuda financeira americana, através do Plano Colômbia. Este megacordo entre os dois países é supostamente destinado a combater a guerrilha e o narcotráfico, mas tem-se prestado a uma verdadeira ocupação do país por militares e contratistas daquele país.
Insiste o candidato verde que vai governar “dentro da legalidade” e com um grande programa de educação, no qual a história de seu país passará “a se escrever com lápis (seu símbolo de campanha) e não com sangue”. Mockus se mostra igualmente conservador no trato com a guerrilha, anunciando um grande combate contra as FARC, com as quais só admite negociar se estas renunciarem aos sequestros”.
Dessa forma, o crescimento do candidato Antanas Mockus representa uma mudança de rumo na política colombiana, mesmo que ele não se consagre vencedor e ganhe o conservador Juan Manuel Santos. É que a sociedade se encontra mais mobilizada para exigir mudanças e corrigir os rumos da direção política. Até aqui, os governos vinham se voltando mais para manter privilégios da elite conservadora, distanciando-se perigosamente quando não se isolando dos novos ventos que sopram na América Latina.
Leia Também: