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Crítica do filme O Profeta – Festival Varilux até Quinta

Por Reynaldo Domingos Ferreira

Continua até quinta-feria, 10/06, o Festival Varilux do Cinema Francês, em sete capitais (Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Fortaleza). Em Brasília, os filmes passam no circuito da Embracine, na Casa Park. O festival tem pelo menos, dois filmes altamente cotados: O Profeta e Coco Chanel & Igor Stravinsky.  A programação pode ser encontrada neste site: http://www.festivalcinefrances.com/programacao.php?id=4



O cineasta  Jacques Audiard faz uma radiografia contundente da vida carcerária, com suas implicações de ordem moral, política e social, em O Profeta, ganhador da Palma de Ouro do Festival de Cannes (2009), de nove Cesar – o maior prêmio do cinema francês -, e concorrente ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, perdendo para o argentino O Segredo dos Seus Olhos, de Juan José Campanella.

Audiard goza de prestígio, na França, por seus trabalhos anteriores, quase todos (ou todos, pois sua filmografia não é extensa) de natureza romântica, como De tanto bater o meu coração parou. Por isso, surpreende com a competente abordagem de um tema pesado, de linha realista, como é a história de Malik El Djebena (Tahar Rahim), jovem córseco, de origem árabe, de 19 anos, analfabeto, condenado à pena de seis anos, que sofre duro impacto ao  tentar integrar-se à vida na prisão.

O roteiro, de Audiard – em colaboração com Thomas Bidegain, Abdel Raouf Dafri e Nicolas Peufaillit -, baseado em fatos reais, é estruturalmente bem construído e tem uma profusão de ações bem resolvidas. Mas explora, às vezes, ideias que, se ganham algum significado na linha estética imposta por Audiard à narrativa, nem sempre convencem no que diz respeito ao objetivo de moldar o perfil psicológico do protagonista.

Este, ao perceber as difíceis condições de sobrevivência, para ele, no meio hostil da penitenciária, dominada por uma máfia de córsecos, sob o comando de um bandido Cesar Luciani (Niels Arestrup), não vê alternativa senão a de obedecer à ordem dele de assassinar, numa cena de muita violência, outro árabe Reyeb (Yichem Yacoubi), que depois o persegue em sonhos ou em visões provocadas por crise de consciência. O que pode ser uma alusão, a meu ver, não satisfatoriamente solucionada, às teorias de vinculação, por arrependimento, do criminoso com a sua vítima.

Após cumprir as determinações de Luciani, Malik passa a ser protegido por seu grupo e a gozar de regalias como trabalhar no restaurante e se mudar para uma cela mais ampla, com televisão e vídeos pornográficos. Mas, em contrapartida, tem o chefe no seu encalço durante todo o tempo. Torna-se dele um escravo. De qualquer forma, porém, aprende a ler e a escrever e, ao aproveitar saídas condicionais temporárias da cadeia para resolver assuntos do interesse de Luciani, ele cria, na moita, o seu próprio negócio para concorrer com o do patrão.

A técnica narrativa de Audiard evolui pela indicação da temporalidade em que se dão os acontecimentos na vida de Malik na cadeia, como o Natal, anunciado por um prisioneiro, que aparece usando, no pátio nevado, um gorro de Papai Noel. E, em seguida, surge, no quadro, sobreposta a uma cena, a palavra “Natal”. Se esse recurso é antigo e, às vezes, prosaico, a linguagem visual de Audiard é moderna, de imagem descritiva, pois a câmara, inquieta, quase sempre manual, operada por Stéphane Fontaine, registra, num tom de suspense, com a maior precisão possível, tudo o que deve ser, pelo espectador, considerado.

Além do efeito que Audiard extrai da imagem e da ambientação, sua narrativa emociona pela inserção do comentário musical de Alexandre Desplat  – compositor também da trilha original de O Escritor Fantasma, de Roman Polanski -, que dá uma significação dramática à sequência de perseguição de Malik e Ryad (Adel Bencherif) pelas ruas de Paris ao carro dos homens de Luciani conduzido por Vettori (Jean-Philippe Ricci) e Lattrache (Sumane Dazi). Sob a estrita orientação de Audiard, todo o elenco se porta muito bem, em especial os dois intérpretes principais –  Tahar Rahim e Niels Arestrup -, premiados com os Cesar de Melhor Ator e Melhor Coadjuvante.

REYNALDO DOMINGOS FERREIRA

ROTEIRO, Brasília, Revista

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FICHA TÉCNICA

O PROFETA

UN PROPHÈTE

França /2009

Duração – 153 minutos

Direção – Jacques Audiard

Roteiro – Jacques Audiard, Thomas Bidegain, Abadel Raouf Dafri e Nicolas Peufaillit

Produção –Martine Cassinelli e Antonin Dedet

Fotografia – Stéphane Fontaine

Música – Alexandre Desplat

Edição – Juliette Welfling

Elenco – Tahar Rahim (Malik El Djebena), Niels Arestrup (Cesar Luciani), Adel Bencherif (Ryad), Reda Kateb (Jordi, o Cigano) Yichem Yacoubi (Reyeb), Jean-Philippe Rcci (Vettori), Sumane Dazi (Lattrache), Leila Bekhti (Djamila) e Antoine Basler (Pilicci).

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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