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Crítica do filme À Prova de Morte

O cineasta Quentin Tarantino faz, em À Prova de Morte, um thriller do tipo road movie para mostrar como se efetiva o treinamento dos dublês de atores, usando, para isso, argumento de ficção que remete aos dos filmes de padrão B, de horror, da década de setenta, em que as cenas de perseguição em carros de alta potência – como o Pontiac GTO – se constituíam em grande atração de bilheteria.
Sem ter nada do brilhantismo de Cães de Aluguel, de Pulp Fiction – Tempo de Violência, de Kill Bill ou de Bastardos Inglórios, o filme foi rodado sem ter também muita pretensão. O objetivo foi o de apenas ser projetado como complemento de programa grindhouse – exibição de películas de horror em sessões contínuas – para Planet Terror, de Robert Rodriguez, a ser lançado ainda no Brasil, resultando ambos num histórico fracasso de público nos EUA em 2007.
O roteiro, escrito por Tarantino, faz referência direta aos filmes do gênero dos anos de 1970, que se caracterizam (ou se caracterizaram) por constantes riscos na tela, por descontinuidade nas montagens e por discrepância da tonalidade fotográfica, que é ora em preto e branco, ora em colorido. Além disso, o diálogo, apesar de envolvente, é pobre e do nível mais rasteiro possível, como manda o figurino, embora cite, em dado
momento, um poema de Robert Frost.
A história, narrada em metalinguagem, é a de três amigas – Arlene (Vanessa Ferlito), Shanna (Jordan Ladd), e Julia (Sydney Tamii Poitier) – que transitam num Dodge Callenger RT/1970 pelas ruas de Austin, no Texas, à procura de um lugar para comemorarem o aniversário da terceira, uma DJ da emissora da cidade. Elas acampam no Güero´s Taco Bar, que exibe, em sua decoração, cartazes de películas antigas, como Three Irenes, no qual Tarantino – que aparece como Warren, dono do estabelecimento – teria se inspirado para criar (ou reciclar, como é do seu estilo) o argumento da fita.
Quase de forma simultânea à chegada das três garotas ao bar, surge também, dirigindo um Chevy Nova, o Dublê Mike (Kurt Russell), que ostenta uma significativa cicatriz no rosto. Instado por Shanna a tomar um drinque, Mike se diz abstêmio de álcool e, depois, não reage, em absoluto, quando ela o provoca por meio de uma dança de colo de alta potencialidade erótica – ao som de música de Jack Nitzsche, autor também de outros bons temas da trilha sonora – que o envolve fisicamente. Posteriormente, sem ser percebido, Mike faz da distância várias fotos das garotas, quando estas deixam o bar ou entram numa banca de revistas.
A resistência de Mike é posta novamente à prova três meses depois, quando ele encontra, em Lebanon, Tennessee, outras três garotas – Albernathy Ross (Rosario Dawson), Lee Montgomery (Mary Elizabeth Winstead) e Kim Mathis (Tracie Thoms) – que desejam enfrentá-lo num Dodge Challenger, tomado de empréstimo de um tal de
Jasper (Jonathan Loughran), que aceita receber, em troca, a bela Zoe (Zoe Belll) para ficar algumas horas com ele. É principalmente a partir dessa sequência que Tarantino procura tirar ilações sobre a guerra dos sexos em que o carro se torna instrumento de fascínio, poder e domínio. Inegavelmente as cenas de perseguição que ocorrem nas estradas praticamente desertas do Tennessee, são de tirar o fôlego, pois uma das garotas se põe amarrada ao capô do Dodge Challenger, que recebe consecutivas bordoadas do Chevy Nova do alucinado Mike, ansioso por eliminá-las. A se dar crédito aos créditos finais de que teria sido Tarantino o operador de câmara a captar os lances dessa eletrizante corrida à beira de precipícios, tem-se de reconhecer que se trata de um trabalho notável, mas de sabor, é claro, de dejà vu. Os atores, que atuam de improviso, em grande parte, estão muito bem, tanto os novos, (Sydney T. Poitier, filha de Sydney Poitier), como os veteranos, (Rosario Dawson e Kurt Russell), destacando-se, naturalmente, no conjunto, as atrizes pela extraordinária sensualidade.

REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
À PROVA DE MORTE
DEATH PROOF
EUA/ 2007
Duração – 114 minutos
Direção – Quentin Tarantino
Roteiro – Quentin Tarantino
Produção – Quentin Tarantino, Robert Rodriguez, Erica Steinberg e Elizabeth Avellan
Fotografia – Quentin Tarantino
Trilha Sonora – Jack Nitzsche
Edição – Sally Mencke
Elenco – Kurt Russell (Dublê Mike), Rosario Dawson (Albernathy Ross), Sydney T.
Poitier (Julia), Mary Elizabeth Winstead (Lee Montgomery), Tracie Thoms (Kim
Mathis), Jordan Ladd (Shanna), Vanessa Ferlito (Arlene), Quentin Tarantino (Warren),
Jonathan Loughran (Jasper).

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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