Por FC Leite Filho
A decisão extremada da Venezuela de romper com o governo em extinção do presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, pode representar um teste decisivo para a integração latino-americana. É que ela pode ter o condão, como ocorreu com a crise da Bolívia, em 2008, de remover ou contornar este único entrave à aproximação dos países ao Sul do Rio Bravo (fronteira do México com os Estados Unidos).
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Como se observou pela reação da maioria desses países, inclusive dos grandes – Brasil e Argentina – e do próprio presidente eleito colombiano Juan Manuel Santos, que sucede a Uribe na Casa de Nariño, o palácio presidencial em Bogotá, o grosso da América Latina rechaça a posição belicista e desesperada de Álvaro Uribe de tentar esmagar a ação integradora do presidente Hugo Chávez, se possível com uma invasão militar à Venezuela.
Uribe, jogou mal, do ponto de vista político e geopolítico, ao tentar esvaziar a tentativa de reaproximação dos dois países, ensaiada por seu sucessor, a quem emprestou todo seu contingente eleitoral, então decisivo. E se valeu de manobra primária, ao reapresentar junto à OEA denúncias requentadas, repetidas ao longo dos últimos dez anos, como reconhece a própria mídia, e que nunca foram comprovadas. Ele insiste em dizer que há tropas guerrilheiras camufladas na Venezuela, o que não constitui novidade nem espanto, porque a guerrilha, por desconhecer qualquer lei nacional, se aproveita das fronteiras abertas (como são muito longas e desabitadas, não há como vigiá-las permanentemente) para fazer operações não só na Venezuela como no Brasil, inclusive.
O que ocorre é que a reaproximação é uma demanda generalizada, das cúpulas políticas e econômicas e da própria população colombiana. São as entidades empresariais, inclusive, as que mais se esforçam para superar o impasse. Por que? Porque a crise encolheu violentamente um próspero mercado entre os dois países, que superava os 7 bilhões de dólares e hoje se vê retraído em menos de um bilhão. Uma situação que provocou o aumento do desemprego de 8% para 15%, além de recessão econômica, enormes prejuízos para as as empresas e mais empobrecimento do povo.
Desafiando este contencioso, o atual presidente Álvaro Uribe armou, na última quinta-feira, dia 22, uma manobra na OEA (Organização dos Estados Americanos) que, supostamente, teria um efeito catastrófico, pelo menos do lado midiático, com o fim de, não só comprometer o governo Hugo Chávez com as FARC (Forças Revolucionárias Colombianas), como, também, se posicionar como um superpresidente, que continuaria a dar as cartas na Colômbia, passando por cima do novo presidente Santos.
Igualmente, os Estados Unidos viram-se envolvidos numa enrascada, ao dar proteção, se não inspirar seu pupilo colombiano. Não souberam sair-se dela, ao adotarem posição, praticamente, nos mesmos moldes daquela em que se precipitaram, em 2002, quando reconheceram o governo golpista de Pedro Carmona, o empresário que chegou a prender e depor o presidente Hugo Chávez, junto com todas as instituições democráticas venezuelanas. Os norte-americanos, pelos quais não fala seu presidente Barack Obama, que, convenientemente, procura não queimar seu prestígio, preservando-se no silêncio, e sim um burocrata do Departamento de Estado, o porta-voz Phillip J. Crowley, vem agora condenar a atitude de Chávez, ao qualificá-la de “insolente”, colocando dessa maneira contra um sentimento dominante no subcontinente, que é de condenação a Uribe e de lutar pela normalização das relações colombo-venezuelanas. Chávez respondeu, decretando o rompimento total com a Colômbia.
É de se ressaltar, nesse ponto, a postura do presidente do Brasil, Lula da Silva, o qual, falando pelo maior país, cujo território, população e poder econômico, representa mais que a metade da América Latina, condenou o ato de Uribe e, de pronto, concordou com a convocação da Unasul (Uniião das Nações Sulamericanas), começando com as de chanceleres, já marcada para a próxima quinta-feira, dia 29, em Quito, e não da OEA, por ter sua sede em Waashington, e ser financiada pelos Estados Unidos, para tratar da questão. A mesma reação teve a presidente da Argentina, segundo maior país, Cristina Kirchner, cujo marido e antecessor na Casa Rosada, Néstor Kirchner, atual secretário-geral da Unasul, que procedeu imediatamente à convocação dos presidentes do do organismo para agosto, quando Uribe já não for presidente na Colômbia (entrega o cargo a Juan Manuel Santos, no dia sete).
Esses presidentes progressistas ainda estão rescaldados com o golpe militar de Honduras, que tirou o presidente Miguel Zelaya do palácio e o deportou para a Costa Rica. Eles sabem que poderão ser a próxima vítima de um ataque desestabilizador ao estilo que depôs e matou o presidente Salvador Allende e introduziu a ditadura sanguinária do general Pinochet, no Chile, em 1973. Por essa razão estão dispostos a rechaçar qualquer manobra destinada a isolar a Venezuela, como pretendem Washington e o quase terminado governo Uribe.
Sua estratégia é de prestigiar o presidente eleito Juan Manuel Santos, com o que pretendem integrá-lo à comunidade latino-americana, retirando a Colômbia do isolamento a que foi condenada, depois que Uribe permitiu a instalação de sete bases militares no país. Estas bases, com se sabe, têm o não escondido propósito de monitorar e fustigar justamente as tentativas desses presidentes progressistas de resgatarem a dívida social de seus povos, acumuladas ao longo de 20 anos de ditaduras militares e outros vinte de governos civis neoliberais.
Com efeito, a solução para o conflito entre Colômbia e Venezuela, parece encaminhar-se para a mesma adotada, em 2008, na Bolívia, quando a Unasul, repelindo e sobrepujaando a OEA, e sem ouvir os Estados Unidos assumiu o comando das negociações do conflito. Na ocasião, os norte-americanos também foram acusados de participação na tentativa de despedaçar o país, depor e assassinar o presidente Evo Morales, pelos governadores da região chamada meia-lua, liderada pelo estado de Santa Cruz de La Sierra. Sem pestanejar e alheia às ameaças de Washington e seu poderoso aparato midiático de alcance planetário, a Unasul pôs um fim ao conflito, ao assegurar a continuidade e a consolidação do governo do primeiro presidente índio, eleito democraticamente pelos bolivianos. Evo Morales ficou tão forte, que se deu ao luxo de expulsar o embaixador dos Estados Unidos, que parecia coordenar os insurretos, e depois a DEA (Drug Enforcement Agency), Phillip Goldberg, a poderosa agência americana contra a droga, também mancomunada com a intentona santacruzense.
Como se poderá ver com a saída para crise da Colômbia com a Venezuela, a integração latino-americana, que já produz seus efeitos no intenso intercâmbio, político, comercial, tecnológico e cultural de seus povos, iniciado com a eleição dos presidentes progressistas Hugo Chávez, em 1998, Lula da Silva, em 2002, e Néstor Kirchner, em 2003, será a grande vitoriosa e a paz e não mais a ameaça de guerra voltará placidamente ao cenário latino-americano.
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