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Longe da OEA, Unasul começa a resolver crise colombo-venezuelana


Por FC Leite Filho
Restabelecidas relações entre os dois países (10/08)
Quem acompanhou a crise colombo-venezuelana pela mídia (grandes redes de TV, rádio e jornais) deve ter ficado estupefato com o encontro dos dois presidentes Júlio Manuel Santos e Hugo Chávez, marcado para esta terça-feira, 10 de março. O local não poderia ser mais simbólico do propósito de reunião dos dois povos: a quinta de San Pedro Alejandrino, na cidade de Santa Marta, onde morreu Simón Bolívar (1783-1830), herói da independência da Venezuela e da Colômbia e figura reverenciada por Chávez, no mar Caribe, lado colombiano. E, fato que seria ainda mais surpreendente, para nós pobres leitores e telespectadores dependentes de uma fonte só: a declaração do imediato restabelecimento das relações diplomáticas e do intercâmbio comercial e econômico dos dois países, para não falar no encaminhamento de acordo de paz das guerrilhas FARC com o governo colombiano.

O mais grave é que os jornalistas da grande mídia tinham informações de que nada do que seus veículos propalavam,  a partir do destaque dado às desesperadas manobras do presidente em fim de mandato, Álvaro Uribe, para intrigar o governo da Venezuela com a comunidade latino-ameircana, tinha fundo de verdade. Por que seus editores não lhes deram ouvido? Autocensura? Também houve omissões imperdoáveis do em termos jornalísticos. Não se deu realce, por exemplo, às repetidas declarações do novo presidente Santos, e de seu vice Angelino Garzón, antecipando o compromisso de seu governo de reaproximar-se com a Venezuela. Por isso, a impressão que dava o noticiário midiático era de que os dois países estavam em pé de guerra e que o governo venezuelano encontrava-se sitiado, se não arruinado. Daí a surpresa com a reviravolta.

A mídia também “desconheceu”, em seus informes facciosos, o anseio na sociedade colombiana, gravemente afetada pela crise (perderam-se mais de 350 mil empregos, dotando aquele país do maior índice de desocupados da Am´rica Latina, à razão de quase 15%) de pôr fim a uma disputa fratricida, que só tem agravado aquilo que poderia estar resolvendo: o a narcotráfico e a inquebrantabilidade militar das guerrilhas. Estas, como agora entende o novo governo colombiano, não podem ser neutralizadas pelo meio militar, como já ficou provado, mas por um amplo acordo político, envolvendo todos os países limítrofes e a Unasul.
Tanto é assim, que as conclamações por uma saída não partem apenas das esquerdas ou dos movimentos sociais, mas sobretudo das classes empresariais, que estão de olho principalmente nos prejuízos da queda de um comércio bilateral, que beirava os 7 bilhões de dólares, e desabou para pouco mais de um bilhão. Desse modo, o novo presidente Juan Manuel Santos, pois é um homem de negócios, atende à sua própria base empresarial, ao romper o distanciamento e propor um encontro direto com o presidente da Venezuela.
Este país, por seu turno, terá, igualmente, muito a beneficiar-se com um possível acordo de paz, pois está sendo obrigado a importar alimentos e outros produtos essenciais de países mais distantes, como o Brasil e a Argentina, além visualizar uma convivência pacífica com seu maior vizinho, que considera irmão e filho de Bolivar.
Como se viu, nadinha daquilo tinha fundamento. A prova é que, em menos de 24 horas da posse do presidente, a nova administração colombiana, com o auxilio do secretário-geral da Unasul (União das Nações Sul-Americans), o ex-presidente e marido da atual presidente da Argentina, Cristina Kirchner, e do presidente do Brasil, Lula da Silva, desconsiderou tudo o que foi vociferado por Uribe: que o governo venezuelano estava abrigando e treinando 1.500 *terroristas” das FARC no seu lado da fronteira.

E as “denúncias” apopléticas de Uribe, que aliás, foi o principal sustentáculo da eleição de Santos, como é que ficam? Aparentemente, vão para o limbo, porque ninguém mais fala do assunto, nem o Departamento de Estado norte-americano, sempre tão ágil em apoiar as investidas contra Chávez e a Venezuela. Trata-se, aqui, de outra empulhação: todo mundo sabia, nossa mídia nativa, inclusive, que o arrazoado de Álvaro Uribe era um cozido, ou melhor, um pão dormido de velhas alegações, muitas delas pescadas de grupos inidôneos da internet, sem a menor substância.
Com efeito, como um grupo guerrilheiro, as FARC podem penetrar fácil e livremente em qualquer dos países limítrofes com a Colômbia – Brasil, Venezuela, Equador e Panamá -, como tem acontecido ao longo de seus quase 60 anos de história, sem que isso implique envolvimento do país invadido com sua atividade. E se se considerar aquela zona de selva densa (só a fronteira da Colômbia com a Venezuela é de mais de 2 mil quilômetros) e as dificuldades de vigilância em todos esses países, pode-se ter uma idéia da fragilidade ou da má fé dos argumentos de Uribe, que agora terá de amargar calado seu doce exílio em Medelin, onde tem grandes amigos ligados às drogas e aos sinistros paramilitares.

Também, muito mal ficaram o governo e a mídia dos Estados Unidos, que, como ocorreu no golpe contra Chávez, em 2002, quando um grupo de golpistas, liderados por donos de TVs e  jornais, prenderam o presidente (por 48 horas, antes de ser resgatado por milhões de pessoas nas ruas das grandes cidades), fecharam o Parlamento, o Supremo e depuseram todos os governadores de Estado, encamparam integralmente  as “denúncias” de Uribe e ainda mandaram o futuro embaixador Harry Palmer provocar com ofensas as forças armadas bolivarianas.

Por fim, destaque-se o papel da Unasul, organismo integrado somente dos países da América do Sul, a qual, a exemplo do que ocorreu, em 2008, com a ameaça de sessessão na Bolívia, a partir das províncias da Meia Lua, à frente Santa Cruz, conseguiu encaminhar o contencioso colombo-venezuelano, entre seus próprios membros e bem longe da OEA (Organização dos Estados Americanos), financiada e controlada pelos Estados Unidos, tendo inclusive sua sede em Washington. São os ventos novos que sopram no subcontinente, a partir principalmente da eleição de presidentes populares e comprometidos com o projeto nacional de seus países, como os do Brasil, Argentina, Bolívia, Equador, Paraguai e Venezuela.

Num passado não muito remoto, esses contenciosos envolvendo interesses estadunidenses, eram resolvidos com a invasão, direta ou indireta,  dos Estados Unidos, como ocorreu com a guerra dos “Contra” na Nicarágua, em 1988, que redundou na morte de 50 mil pessoas, e no bombardeamento do exército norte-americano ao Panamá, em 1989, provocando o desmantelamento dos serviços públicos e a morte de centenas de pessoas, além do  sequestro do presidente, José Noriega, mantido até hoje preso nas cadeias dos Estados Unidos e da França.

Veja também:
Recepção de Chávez em Santa Marta (El Tiempo)

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