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Crítica do filme Um Doce Olhar

“Um Doce Olhar”, de Semih Kaplanoglu, Leão de Ouro do Festival de Berlim deste ano, em exibição em todo o país. Em Brasília, teve péssimo lançamento na rede Embracine – CasaPark – e já vai sair de cartaz amanhã (02/08/2010), quinta-feira, com apenas uma semana de exibição.

Usando apenas os sons da natureza e uma fotografia captada com muito esmero técnico e sensibilidade, o cineasta turco Semih Kaplanoglu realiza, em Um Doce Olhar, não só um poema de conotação panteísta, mas também um comovente drama sobre o relacionamento de pai e filho. Para surpresa de muitos, pois sua temática não é política, o filme foi o ganhador do Leão de Ouro do Festival de Berlim deste ano, concorrendo com, entre outros, O Escritor Fantasma, de Roman Polanski.
A película, que se intitula em turco Bal ( Mel), completa a trilogia autobiográfica iniciada por Kaplanoglu, em 2007, com Süt (Leite) e que teve prosseguimento, em 2009, com Yumurta (Ovo). O primeiro enfoca acontecimentos na vida do protagonista Yusuf na fase dos quarenta anos, o segundo, na faixa dos vinte – ambos inéditos no Brasil -, e esse terceiro, quando criança (Bora Altas), aos seis anos, aluno de uma escola primária, onde aprende a ler e a escrever.
Desde o prólogo, quando a câmara de Bans Õzbiçer focaliza o aparecimento de Yakup (Erdal Besikçioglu), um apicultor, no meio da floresta, delimitando o espaço cênico dramático, tem-se como evidente um estilo original de narrativa. A característica é a do apuro na composição de planos e de planos-sequência, o que torna, sem dúvida, o ritmo mais lento devido ao contínuo registro dos detalhes. Em Berlim, o próprio Kaplanoglu qualificou essa sua maneira de fazer cinema de spiritual language (linguagem espiritual), o que a define, penso eu, muito bem.
Assim, após os créditos iniciais, vai-se ter conhecimento da intimidade do lar de Yakup, constituído por ele, a mulher Zehra (Tülin Özen) e Yusuf. Eles moram numa pobre, mas limpa choupana, no meio das montanhas, na região litorânea do Mar Negro. Com dificuldade, Yusuf lê, em voz alta, para os pais, as indicações do calendário sobre o dia que se inicia. A mãe, silenciosa, lhe dá um copo de leite, que ele rejeita. Vê, em seguida, o pai tomando o leite por ele. E recebe uma parte da maçã, que o pai depois lhe oferece. Yusuf quer contar o que sonhara na noite anterior, mas o pai o repreende, dizendo-lhe que não o fizesse: – Os nossos sonhos não devem ser revelados!… Ele autoriza então que Yusuf lhe narre o sonho, sussurrando ao seu ouvido.
No dia seguinte, por uma trilha que caracola por entre as montanhas, pai e filho seguem à procura de colmeias. Há árvores de grande porte que parecem perfurar o céu azul quase sem nuvens. É durante essa incursão que se vai tomar  ciência de que Yakup, que se perde sozinho pelas florestas, ficando ausente de casa por dois ou três dias, é epiléptico. Dessa feita, ele, ao sofrer o acesso, é atendido pelo filho, que apanha água num regato para lhe banhar o rosto. É possível que a preocupação pelas ausências demoradas e constantes do pai tenha influência para que Yusuf não mostre bom desempenho na escola, onde deixa de apresentar os deveres de casa prontos e gagueja durante as leituras, o que o faz sofrer por isso.
O argumento tem assim elementos bastante coincidentes com os de alguns filmes iranianos e romenos, vistos ultimamente. O diferencial seria o sentido de harmonia que Kaplanoglu procura destacar do ser humano com o meio ambiente em que vive. É como se ele dissesse que os que estão em contato permanente com a natureza são limpos, têm a alma pura e são mais solidários entre si, como ressalta no momento da dança turca.  Há também um toque de religiosidade que autoriza a se fazer a aproximação da família de Yakup com a do carpinteiro José, do Novo Testamento. Zehra, por exemplo, que trabalha numa plantação de mate, é vista quase sempre como se fora uma Madona. E, numa das cenas mais bonitas, Yusuf , como se fora dotado de poderes divinos (ou da força da esperança), brinca com a imagem da lua cheia refletida num balde d água. Os três atores estão esplêndidos. Mas é inegável que o garoto Bora Altas, de oito anos, como Yusuf, é o astro que mais brilha. A cena final, em que Yusuf se abriga junto ao tronco de uma poderosa árvore é, graças a ele, inesquecível.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
www.theresacatharinacampos.com
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FICHA TÉCNICA
UM DOCE OLHAR
BAL
Turquia/Alemanha/ 2010
Duração – 103 minutos
Direção – Semih Kaplanoglu
Roteiro – Semih Kapanoglu e Orçun Köksal
Produção – Semih Kapanoglu
Fotografia – Bans Özbiçer
Edição – Semih Kapanoglu, Suzan Hande e Ayhan Ergursel
Elenco – Erdal Besikçioglu (Yakup), Tülin Özen (Zehra) e Bora Altas (Yusuf).

Usando apenas os sons da natureza e uma fotografia captada com muito esmero técnico e sensibilidade, o cineasta turco Semih Kaplanoglu realiza, em Um Doce Olhar, não só um poema de conotação panteísta, mas também um comovente drama sobre o relacionamento de pai e filho. Para surpresa de muitos, pois sua temática não é política, o filme foi o ganhador do Leão de Ouro do Festival de Berlim deste ano, concorrendo com, entre outros, O Escritor Fantasma, de Roman Polanski.
A película, que se intitula em turco Bal ( Mel), completa a trilogia autobiográfica iniciada por Kaplanoglu, em 2007, com Süt (Leite) e que teve prosseguimento, em 2009, com Yumurta (Ovo). O primeiro enfoca acontecimentos na vida do protagonista Yusuf na fase dos quarenta anos, o segundo, na faixa dos vinte – ambos inéditos no Brasil -, e esse terceiro, quando criança (Bora Altas), aos seis anos, aluno de uma escola primária, onde aprende a ler e a escrever.
Desde o prólogo, quando a câmara de Bans Õzbiçer focaliza o aparecimento de Yakup (Erdal Besikçioglu), um apicultor, no meio da floresta, delimitando o espaço cênico dramático, tem-se como evidente um estilo original de narrativa. A característica é a do apuro na composição de planos e de planos-sequência, o que torna, sem dúvida, o ritmo mais lento devido ao contínuo registro dos detalhes. Em Berlim, o próprio Kaplanoglu qualificou essa sua maneira de fazer cinema de spiritual language (linguagem espiritual), o que a define, penso eu, muito bem.
Assim, após os créditos iniciais, vai-se ter conhecimento da intimidade do lar de Yakup, constituído por ele, a mulher Zehra (Tülin Özen) e Yusuf. Eles moram numa pobre, mas limpa choupana, no meio das montanhas, na região litorânea do Mar Negro. Com dificuldade, Yusuf lê, em voz alta, para os pais, as indicações do calendário sobre o dia que se inicia. A mãe, silenciosa, lhe dá um copo de leite, que ele rejeita. Vê, em seguida, o pai tomando o leite por ele. E recebe uma parte da maçã, que o pai depois lhe oferece. Yusuf quer contar o que sonhara na noite anterior, mas o pai o repreende, dizendo-lhe que não o fizesse: – Os nossos sonhos não devem ser revelados!… Ele autoriza então que Yusuf lhe narre o sonho, sussurrando ao seu ouvido.
No dia seguinte, por uma trilha que caracola por entre as montanhas, pai e filho seguem à procura de colmeias. Há árvores de grande porte que parecem perfurar o céu azul quase sem nuvens. É durante essa incursão que se vai tomar  ciência de que Yakup, que se perde sozinho pelas florestas, ficando ausente de casa por dois ou três dias, é epiléptico. Dessa feita, ele, ao sofrer o acesso, é atendido pelo filho, que apanha água num regato para lhe banhar o rosto. É possível que a preocupação pelas ausências demoradas e constantes do pai tenha influência para que Yusuf não mostre bom desempenho na escola, onde deixa de apresentar os deveres de casa prontos e gagueja durante as leituras, o que o faz sofrer por isso.
O argumento tem assim elementos bastante coincidentes com os de alguns filmes iranianos e romenos, vistos ultimamente. O diferencial seria o sentido de harmonia que Kaplanoglu procura destacar do ser humano com o meio ambiente em que vive. É como se ele dissesse que os que estão em contato permanente com a natureza são limpos, têm a alma pura e são mais solidários entre si, como ressalta no momento da dança turca.  Há também um toque de religiosidade que autoriza a se fazer a aproximação da família de Yakup com a do carpinteiro José, do Novo Testamento. Zehra, por exemplo, que trabalha numa plantação de mate, é vista quase sempre como se fora uma Madona. E, numa das cenas mais bonitas, Yusuf , como se fora dotado de poderes divinos (ou da força da esperança), brinca com a imagem da lua cheia refletida num balde d água. Os três atores estão esplêndidos. Mas é inegável que o garoto Bora Altas, de oito anos, como Yusuf, é o astro que mais brilha. A cena final, em que Yusuf se abriga junto ao tronco de uma poderosa árvore é, graças a ele, inesquecível. REYNALDO DOMINGOS FERREIRA ROTEIRO, Brasília, Revista www.theresacatharinacampos.com www.arteculturanews.com www.noticiasculturais.com www.politicaparapoliticos.com.br www.cafenapolitica.com.brFICHA TÉCNICAUM DOCE OLHARBALTurquia/Alemanha/ 2010Duração – 103 minutosDireção – Semih KaplanogluRoteiro – Semih Kapanoglu e Orçun KöksalProdução – Semih KapanogluFotografia – Bans ÖzbiçerEdição – Semih Kapanoglu, Suzan Hande e Ayhan Ergursel
Elenco – Erdal Besikçioglu (Yakup), Tülin Özen (Zehra) e Bora Altas (Yusuf).

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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